Sexta-feira, 23 de abril de 2021 - 12h36
Incrível como as vistas da
janela da escrita vêm se digladiando, no processo de divulgação de conteúdos,
ao longo dos últimos anos, como se a vista da visão estivesse cedendo espaço à
da audição. É fato que o mais comum seria a
interação dos sentidos, visão e audição podem e devem se completar, mas não é
isto o que vem ocorrendo: o livro, os textos, para uso da visão, estão sendo
superados pelo arquivo de voz, direcionado à audição; ainda que, em muitos
casos, o arquivo de áudio, não passe de um texto lido. O atrativo é o público
alvo de um texto gravado: milhares de ouvintes grudados, no dia a dia, ao fone
de ouvido.
No entanto, pelo
andar da carruagem, a tecnologia vai no sentido da substituição do texto a ser
lido. Não é à toa que os livros estão em processo de extinção, enquanto vista
da janela da escrita, substituídos pelo arquivo de áudio a ser ouvido, uma
segunda vista da janela da escrita.
A escrita cuneiforme, os
hieróglifos, o papiro, o alfabeto, foram algumas das primeiras vistas da janela
da escrita, restritas a visão, registrando manifestações consuetudinárias,
colaborando com a memória e dando aos historiadores farto material de estudo.
Com o aprimoramento do alfabeto, a invenção do papel e da prensa de Gutemberg,
então, foi uma festa, a visão mandava e desmandava. Daí às gráficas modernas
foi um salto extraordinário. Hoje estas mesmas gráficas estão em processo de
extinção, cedendo espaço às telas de vídeo e aos arquivos de áudio.
No avanço de todas as
civilizações, foi de suma importância o registro feito pela escrita. Imaginem
quanto se perdeu e quanto teria se perdido dos ensinamentos orais de Sócrates,
por exemplo, se Platão não tivesse registrado para a posteridade seus métodos e
máximas! Praticamente todo o conhecimento humano, nos quatro cantos do
Universo, foi registrado em livros, destinados à leitura, logo para o exercício
do sentido da visão.
No passado recente, líamos um,
dois e até três livros por semana e ainda discutíamos a qualidade do texto, o
enredo, com colegas do mesmo nível. Atualmente a leitura é tida como cansativa,
sonolenta e foi substituída por novelas, séries, filmes dublados e,
principalmente, áudios. Quem tem o costume da leitura sabe que não é a mesma
coisa.
Hoje todas as mídias não se
cansam de divulgar podcasts? A autoria do termo é atribuída a um artigo do
jornal britânico The Guardian, em 12 de fevereiro de 2004. É como um
programa de rádio com conteúdo de mídia sob demanda, você pode ouvir o que
quiser, na hora que bem entender. Os temas são os
mais abrangentes possíveis: cinema, TV, literatura, ciências, profissionais,
política, notícias, games, culturais, religiosos, educacionais, humorísticos,
musicais, esportivos… E tem muito mais. Haja tempo!
Segundo os
divulgadores, o podcast aumenta tua produtividade, te ajuda a crescer e a
evoluir. Com a correria de hoje o tempo precisa ser bem administrado, e o
conselho é não largar o celular nem os fones de ouvido, quando estiver perdendo
tempo no trânsito, viajando, lavando louça, arrumando a casa, ou até mesmo no
sanitário.
Antigamente víamos, no
transporte coletivo, jovens lendo romances impressos, ou uma revista, um
jornal, hoje, todos estão concentrados nos fones de ouvido ou na telinha do
celular, enquanto isso as bibliotecas, as livrarias e as bancas de revistas vão
desaparecendo aos poucos do cenário cultural.
As crianças, logo logo, não mais ouvirão suas mamães lendo um livrinho
de histórias infantis, ou cantando canções de ninar, ouvirão podcasts da mamãe
em formato babá eletrônica, gravados anteriormente.
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