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Crônica

A janela da sorte


A janela da sorte - Gente de Opinião

Das expressões nascidas no mundo da abstração, a janela da sorte é a que produz vistas invertidas em maior número, como se os humanos as observassem de longe, como se elas estivessem pairando no ar, sem jamais serem identificadas. A gente nunca sabe quando ela chega, efeito sem causa, inexplicável.

A entidade sorte desperta expectativa – ah! se eu tivesse sorte − produz vista/desejo do mais variado quilate e é a única a estar presente em todos os ambientes, em todas as classes, embora mantenha a discrição: a gente nunca sabe quando ela se manifestará, quando ela nos atingirá com o seu raio do bem, ou quando vai escancarar a sua janela, para que os humanos possam sentir as benesses das vistas almejadas, inesperadamente, de fora pra dentro.

Há quem diga que sorte não existe, que são as escolhas que determinam a sorte/destino de uma pessoa, e que não adianta buscar por ela, ela é invisível e só aparece quando quer, além de ser cega. 

O fato é que em certos momentos da vida a gente chama de sorte a fatos inexplicáveis, como o sujeito que perdeu o avião que se acidentaria logo mais, ou que ganhou na loteria, ou que bateu um saque no jogo de tênis e a bola resvala na rede, para depois cair no lado do adversário, sem dar chances de ser tocada de volta. No filme de Wood Allen, Match Point, um assassino não é descoberto porque, ao jogar joias roubadas no rio, uma simples aliança de ouro, identificada com o nome da vítima, resvala na mureta protetora, volta pra terra e é achada por um mendigo, que será preso, posteriormente, como culpado pelo crime, ratificando um pensamento de Sêneca: Um crime bem sucedido e favorecido pela sorte é chamado de virtude. 

 São inúmeros os fatos narrados como sorte, falta de sorte e excesso de sorte - nasceu com a bunda virada pra lua - como se na maioria das vezes a sorte estivesse arbitrando nossas ações, mas também é fato que a sorte ajuda a quem cedo madruga. 

Certas palavras, por mais que se duvide do significado/efeito delas, o povo faz questão de se enganar, acreditar, esperar, como se fizessem parte do mundo humano, como se fossem janelas inerentes. Sorte e esperança fazem parte desta lista, ambas produzem vistas importantes, no dia a dia da hipocrisia necessária: boa sorte! Vá com Deus... Quem espera sempre alcança... Ele foi pro céu... Mas que cara de sorte, passou num concurso superconcorrido.

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