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Crônica

A janela do silêncio


A janela do silêncio - Gente de Opinião

As vistas da janela do silêncio se confundem com a expressão facial do taciturno, elas falam pelo silêncio, nos dão pistas se ele é um silêncio bom ou ruim, mas são dos olhos as vistas silenciosas mais verdadeiras. Por outro lado, não podemos esquecer que a palavra, falada ou escrita, formadora dos signos da comunicação, foi responsável, em maior grau, pela evolução do cérebro humano.

         Os poetas compõem os versos do silêncio, os cronistas, em quarentena pela Covid 19, produzem A janela do silêncio, os compositores conseguem ouvir a música do silêncio, os cineastas já filmaram o silêncio dos inocentes, na verdade os artistas são unânimes em afirmar que o silêncio é eloquente, basta saber lidar com ele.

Interpretar o silêncio alheio não é fácil, depende de uma série de fatores, como expressão corporal, flexão dos músculos da face, suor e o olhar, este é tagarela. Não é à toa que o povo repete, diante de uma confusão ocasionada por palavras ferinas, cortantes, ditas no calor da emoção: o silêncio é a melhor resposta. Ainda assim, na maioria das vezes o silêncio como resposta é pior do que mil palavras.

Evidente que não estamos falando do silêncio absoluto, do silêncio da morte, quando todas as expressões do morto se calam e se subdividem entre os vivos. Na antessala da morte, parece que, entre as horas do tempo, existem raras pontes de sabedoria a serem ultrapassadas, para alcançarmos o âmago do silêncio, o sentido da vida.

         Em uma das vistas das janelas do silêncio, em momento extremo de meditação, segundo os praticantes, o mundo das palavras comuns é esquecido, como se existisse, em outra dimensão, uma nova classe de palavras silenciosas, sem sentido, em que a expressividade da vista é interior e transcendente, advinda do equilíbrio do yin com o yang, como se estivesse em estado de nirvana!!!

Ainda que exista muita euforia nos pensadores orientais, sobre os ensinamentos do silêncio, a tradição oral no budismo é muito forte – Buda gostava de discursar aos seus discípulos. O repouso das palavras não significa que elas não estejam em ebulição interior. O ato espontâneo de calar emudece muitos sentimentos, mas não apaga as palavras milenares que circulam entre os neurônios humanos, muitas com força para sobrepujar a morte. 

Vale lembrar que sem a palavra (falada ou escrita) não existiria doutrinação, logo é a palavra quem doutrina o cérebro humano, para que ele alcance a compreensão do silêncio, e não seria exagero afirmar que a principal vista da janela do silêncio é a palavra. 

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