Segunda-feira, 22 de agosto de 2022 - 19h52
Desde cedo que o nordestino pobre
aprende a abrir a janela dos seus objetivos, esperando boas vistas, o que
significa dizer boa colheita, sempre dependente de chuvas continuadas, ali
ainda não se aprendeu a agricultar sem a água que vem do céu, atendendo a uma
mistura de fé e precisão: − Mesmo que
seus objetivos estejam lá prá baixa da égua, vale a pena correr atrás deles.
Não se agonie e nem esmoreça. Peleje.
No Nordeste poucos acreditam
que o homem já pisou na lua e mandou um robô a marte, muito menos que em Israel
se planta no deserto. Lua é um
brinquedinho de Deus pra enfeitar a Terra, não foi feito pra ser pisada, e
deserto é castigo pra ensinar ao homem quem manda no mundo. Mas se a chuva
não vier, o jeito é apelar para a ladainha, a procissão e os cânticos pedindo a
intercessão de S. José:
Meu divino São José
Aqui estou em vossos pés
Nos dê chuva com abundância
Meu Jesus
de Nazaré
Porém se ainda assim a estiagem
continua, é coisa do capeta: − mió murchá
as orêia, respirá fundo e gritá bem alto aos quatro cantos do descampado:
SAAAI! Se ocê merecê, Deus expulsa o diabo e manda chuva. Se ele não mandá, reflita
sobre as besteiras do ano passado e jogue no mato os maus pensamentos.
A transposição do São
Francisco demorou tanto que o nordestino já está duvidando do custo benefício,
mesmo sendo o povo campeão de paciência, não é à toa que eles costumam dizer: − Num
se avexe, num se aperreie e nem se agonie. Num é nas carreiras que se esfola um
preá.
Pois é, em matéria de fé,
paciência, coragem e vontade de vencer, ninguém supera o sofrido povo
nordestino, apesar das amarguras, sobrevivem pela esperança de um lugar divino
para descansar, após a lida! E assim vivendo eles vão tocando os aperreios, até
o fim que é um começo, o local onde estão as vistas finais da janela dos
objetivos terrenos.
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