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Crônica

A Janela dos objetivos


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Desde cedo que o nordestino pobre aprende a abrir a janela dos seus objetivos, esperando boas vistas, o que significa dizer boa colheita, sempre dependente de chuvas continuadas, ali ainda não se aprendeu a agricultar sem a água que vem do céu, atendendo a uma mistura de fé e precisão: − Mesmo que seus objetivos estejam lá prá baixa da égua, vale a pena correr atrás deles. Não se agonie e nem esmoreça. Peleje.

No Nordeste poucos acreditam que o homem já pisou na lua e mandou um robô a marte, muito menos que em Israel se planta no deserto. Lua é um brinquedinho de Deus pra enfeitar a Terra, não foi feito pra ser pisada, e deserto é castigo pra ensinar ao homem quem manda no mundo. Mas se a chuva não vier, o jeito é apelar para a ladainha, a procissão e os cânticos pedindo a intercessão de S. José:

Meu divino São José

Aqui estou em vossos pés

Nos dê chuva com abundância

Meu Jesus de Nazaré

Porém se ainda assim a estiagem continua, é coisa do capeta: − mió murchá as orêia, respirá fundo e gritá bem alto aos quatro cantos do descampado: SAAAI! Se ocê merecê, Deus expulsa o diabo e manda chuva. Se ele não mandá, reflita sobre as besteiras do ano passado e jogue no mato os maus pensamentos.

A transposição do São Francisco demorou tanto que o nordestino já está duvidando do custo benefício, mesmo sendo o povo campeão de paciência, não é à toa que eles costumam dizer: − Num se avexe, num se aperreie e nem se agonie. Num é nas carreiras que se esfola um preá.

Pois é, em matéria de fé, paciência, coragem e vontade de vencer, ninguém supera o sofrido povo nordestino, apesar das amarguras, sobrevivem pela esperança de um lugar divino para descansar, após a lida! E assim vivendo eles vão tocando os aperreios, até o fim que é um começo, o local onde estão as vistas finais da janela dos objetivos terrenos.

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