Segunda-feira, 23 de setembro de 2024 - 08h20
Quando eu era criança, havia uma vizinha que andava
sempre com um vestido grande e folgado. Ela tinha a pele muito clara, e os
cabelos eram brancos, ondulados e dispersos. Não sei por que, mas, nos meus
quatro, cinco ou seis anos de idade, a visão daquela senhora representava, para
mim, a velhice. Hoje acho que talvez ela nem fosse assim tão velha, seria
apenas descuidada com a aparência. Com o passar dos anos criei novos conceitos
de velhice
Na adolescência, aos treze ou catorze anos, quem
tinha uns trinta já me parecia um tanto velho. Aos vinte achava que nunca eu
chegaria aos quarenta. E assim o tempo passou. Engraçado, nem senti o tempo
passar. Simplesmente vivi.
Passei dos setenta. Às vezes acho que ainda posso
ter (sei lá) uns dez, até mesmo vinte anos pela frente. Com a minha idade, todo
mundo espera que eu pense como velho, fale como velho, aja como velho. E, às
vezes, eu faço tudo como velho, mesmo. Afinal, no nosso conceito cronológico,
estou velho. Mas, na maioria das vezes eu ajo fora destes padrões. Brinco,
falo, bebo, danço como se tivesse bem menos idade. E, principalmente, fujo de
encontros onde, pelas brincadeiras e exercícios, idosos são indiscriminadamente
tratados como se fossem crianças na primeira idade. Esquecem, tais
especialistas, que vivemos na época da Internet, do IA (ou AI, como querem
alguns), quando tanta coisa pode ser oferecida, seja em forma de exercícios ou
de outras práticas, independentemente da idade de quem participa.
Sei que a velhice limita a pessoa, mas creio que a
maioria das pessoas aceita os limites mais do que elas poderiam demonstrar de
potencial. Afinal, já vai longe o tempo quando a aposentadoria significava
vestir pijama e só tirar se fosse pra vestir um outro, este definitivo, o tal
pijama de madeira. Assim, se consigo fazer algumas coisas a mais não é porque
sou melhor que outros, mas porque simplesmente faço. E, se eu faço, pode ser
que alguns daqueles que hoje se limitam também poderiam fazer.
Hoje sei que tenho a aparência envelhecida. Não
posso negar que encontro gente mais velha que eu com a aparência bem mais
jovem, mais disposto, mais ativo. Porém, infelizmente, o que vejo é a maioria
das pessoas na minha faixa de idade, ou até mais novos, numa condição que me dá
pena. E aí, assim como quando criança eu via na velha e descabelada senhora,
hoje vejo nessas pessoas a real representação da velhice.
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