Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Crônica

A tortura na escola no fim do século XIX ou a triste infância de um grande escritor - (1ª Parte)


A tortura na escola no fim do século XIX  ou  a triste infância de um grande escritor - (1ª Parte) - Gente de Opinião

Era uma terça-feira do mês de Junho (18,) do ano de 1861, quando o Sr. João recebeu, no estabelecimento, a irmã Jacinta.

Em alvoroço, exclamou eufórica:

- " Parabéns, João, tens mais um filho!..."

- " Olha, que grande coisa!..." – contrapôs, este, serenamente.

Casara na cidade do Porto. Tinha duas meninas e um rapaz. Trindade Coelho, era o quarto.

O Sr. João fazia-se insensível, mas no íntimo, era homem bom: Gostava de auxiliar, mas receando que viessem a saber, dissimulava, para não o julgarem: "mole".

A esposa, perfeita dona de casa, cuidava com esmero, do maneio da casa, e aplicava, muitas horas na costura e a passajar.

Fazia o conserto da roupa, numa salinha, com janela para o Convento de S. Francisco, onde se prendia a corda, que accionava o sino, da torre.

Trindade Coelho, muitas vezes, tocava as "Avé-Marias", da janela. Ajudava à missa, com perfeição. Gostava de "celebrar" e"pregar". Por brincadeira, chamavam-no: " O Sr. Padre José".

Certa ocasião, bebeu trago de vinho, das galhetas. Descoberto, foi severamente repreendido e castigado: tinha que pedir perdão, ao Sr. Abade.

Lá foi o rapazinho, de cabeça baixa, a tremer, muito enfiado, a casa do Prior. Este, sorrindo, desculpou-o, e em "recompensa" deu-lhe punhado de cerejas.

Em dia frio de rigoroso Inverno, chegou a casa sem camisa. A mãe interrogou-o asperamente. Em prantos, contou, que a dera a menino pobre, que tinha muito frio.

Foi castigado; mas a mãe, enquanto lhe batia, ria-se de alegria, por dentro.

Aos domingos, ia à casa do oleiro, vê-lo a fazer louça. Levantava-se muito cedo, quase de madrugada, para observar o Sr. Domingos, girar a roda, e o barro ganhar a forma de utensílios.

Frequentava, com algum gosto, a escola, mas tinha também, professor particular.

Em suma: era feliz, até ao momento, que o pai resolveu levá-lo, com o irmão, à aldeia de Travanca, no intento dos filhos prosseguirem os estudos.

Ficaram hospedados na casa do professor, que ficou na incumbência de os educar.

 

(Continua)

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Janela Antirracista*

Janela Antirracista*

Das nossas janelas víamos as janelas dos vizinhos, o muro era baixo e nossa casa foi construída no centro de três terrenos, num nível mais alto. A m

Por que se usa estilo escuro?

Por que se usa estilo escuro?

Os que se dedicam às letras, normalmente principiantes, mosqueiam a prosa de palavras "difíceis", rebuscadas no dicionário, e frases enigmáticas, pa

O valor das coisas depende de quem é

O valor das coisas depende de quem é

Possuía, no século passado, meu pai, na zona histórica, belo prédio barroco – que recebera dos avós, – mas, ao longo dos anos, se delapidara.Reforma

Coisas de casal

Coisas de casal

Um médico, ginecologista, instalou seu consultório no nosso bairro. Mulheres de longe, e até as que moravam perto e tinham alguma condição financeira,

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)