Segunda-feira, 22 de novembro de 2021 - 10h31
É bom que se diga que não
existe uma consciência branca ou negra, a consciência é inerente ao ser humano,
é uma qualidade psíquica, um atributo do espírito e está intimamente
relacionada com o “eu” e se conecta com a moral. É conveniente saber também que
ser consciente não é a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e
do mundo, para isso precisa da intuição, da dedução e da indução. Todavia, simbolicamente,
a consciência é negra, porque, por 300 anos, os negros e não os brancos foram
escravizados neste país. A gente não viveu essa época, mas ainda hoje sente as
consequências e as disparidades de direitos e oportunidades.
Não há dúvida de que a abolição
incompleta, do 13 de maio, gerou, muitos anos depois, com a evolução dos
acontecimentos, a escolha do 20 de novembro, inspirada em Zumbi, como
contraponto à data oficial, valorizando a cultura, a história e o papel
político dos afro-brasileiros na sociedade contemporânea. A implantação do Dia
da Consciência Negra serviu para mostrar ao negro a necessidade de negociar
a cidadania, fundamentado em uma identidade negra e não mais a partir do
branqueamento social.
O negro de hoje nasce livre,
mas para a sua autoconsciência, onde o “eu” é o objeto de reflexão e da
consciência moral, ainda está preso, precisa buscar a razão, através de
movimentos de inclusão social, para que esta o ajude a libertar-se, literalmente,
porque só pela razão e por meio dela ele vai legislar e criticar o seu estado
atual, evoluindo de liberdade concedida para liberdade conquistada,
ignorando mais de 150 anos de uma pseudo libertação, sem nenhum incremento
oficial, sem nenhuma ajuda por mais empregos e escolas que propiciassem maior
aproximação entre brancos e negros.
Não é à toa que os jovens
afrodescendentes, pós abolição, continuam sofrendo as consequências pelo
distanciamento social e por inúmeros eventos racistas no dia a dia,
desenvolvendo um certo complexo de inferioridade, que pode evoluir para
atitudes de arrogância e violência, via álcool e drogas, dificultando o
relacionamento, na vida adulta. O álcool e a droga funcionam como libertadores
contemporâneos da raiva embutida, niveladores das diferenças sociais, salvo
raríssimos casos de libertação pela educação..
A cultura africana só será
valorizada e integrada à sociedade, quando os afrodescendentes, racionalmente livres,
se tornarem conscientes dos caminhos que o levarão a encontrar a completa libertação/realização.
Enquanto o negro não se “livrar” do branco, ou pelo menos assimilar o branco
dentro dele mesmo, assumindo, criticamente, a miscigenação estampada na sua
face, nunca será livre. O racismo do pardo que se acha branco e não aceita a
sua parte preta, demonstra a premente necessidade de uma Consciência Negra
coletiva.
O sonho pela igualdade e, de
certa forma, pelo fim da injúria e do preconceito racial velado, se confunde
com a busca pela felicidade, porquanto o ser humano racional, branco,
negro, pardo ou amarelo, aspira tal estado de espírito, e, para tanto, busca
bens materiais e espirituais, pois que, é senhor e mestre dos seus desejos. O
dinheiro até pode embranquecer a pele social, mas não liberta o “indeciso” das
lágrimas, que lavam, mas não modificam a cor da pele, nem confortam a angústia existencial
shakespeareana do ser: To be, or not to be, that
is the question. No Brasil, black lives matter?
A repressão mental, referente
a negritude, enquanto sentimento de orgulho da identidade negra, impede que
conteúdos psíquicos incômodos cheguem à consciência, mas não deixa de ser
traumática. Esquecer atitudes racistas que nos fizeram sofrer, se parece com
uma panaceia psicológica contra nossas piores angústias, contudo as memórias
reprimidas, nem com exercícios de autoajuda ou o auxílio de textos sagrados,
são deletadas da mente – só se escondem, e afloram, a qualquer instante, em
forma de raiva e violência!
O escritor Lima Barreto deixou
aflorar em diversos romances (a obra foi reunida em 17 volumes) e em crônicas
jornalísticas, o seu protesto contra as teorias racistas e as práticas de
rejeição aos afrodescendentes. Em 1953, escreveu em seu diário íntimo: “A capacidade mental dos negros é
discutida a priori e
a dos brancos, a
posteriori”. Além disso, como se estivesse reprimindo a sua raiva
existencial, escrevia todas as noites, entre lágrimas, naquele mesmo
diário: − “É triste não ser
branco.”
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