Domingo, 7 de julho de 2024 - 08h03
Em calma e cálida tarde de maio, quando o
astro-rei acendia o céu, de nuvens de fogo, mosqueando, de cintilantes
estrelinhas, as águas azuis do Douro, estava com meu pai – insaciável homem de
Letras, que vivia entre velhos cartapácios, - na Feira do Livro, no Porto.
Nessa recuada época, a "Feira"
implantava-se na Praça do Município, num aconchegante labirinto, aos pés de
"Garrett"
Caminhávamos embebidos nos escaparates –
abrindo e reabrindo tomos, junto a livraria católica, de súbito, surgiu três
guapos rapazinhos, ainda imberbes, chalrando em alta voz.
Miram de esguelha o stand. Entre livrinhos
devotos e inocentes romances, gritavam três vistosas Bíblias, de folhas doiradas,
encadernadas a percalina preta.
Apontando ostensivamente o magro indicador, o
mais esgrouviado e bem-trajado, de barba e cabelo à Che Guevara, disparou, com
risinho arteiro, bailando nos lábios:
-" Ainda se vende essa porcaria!..."
O empregado, possivelmente frade ou antigo
seminarista, de imediato retorquiu:
- "É por causa dessa "
porcaria", que o senhor doutor é médico!..."
O diálogo espicaçou a curiosidade de meu pai; e
quando os mocinhos rindo, se afastaram, apressou-se a interrogá-lo:
-" Conhece-o?"
- " Conheci-o. Andava no seminário.
Estudava por favor. Não tinha vocação. Os senhores padres ainda o encaminharam
para a Universidade..."
Como meu
pai mostrasse interesse, prosseguiu:
- " Agora é quase médico. Sempre que passa
por aqui, larga uma chalaça. Coitado!.... Se não fosse a Igreja... andava com a
charrua...
Este episodio, ocorrido nos anos sessenta, gravou-se-me
na memória; e ilustra, perfeitamente, o que é a ingratidão e o descaramento.
Como ele, muitos são os que singraram às
cavalitas da Igreja ou à sombra protetora de senhoras caridosas, que lhes
proporcionaram meios para altos voos; infelizmente, raros são os que se lembram
de agradecer, a quem lhes deu a mão. É a ingratidão humana!...
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