Quarta-feira, 24 de março de 2021 - 12h15
O verbo servir talvez seja,
dos vernáculos relacionados ao humano, aquele que mais carrega o DNA do amor ao
próximo. Tem gente que nasce para servir, são poucos, mas quando assumem esta
condição ratificam o lema do Mahatma Gandhi, quem não nasce para servir
não serve para viver, e também o de Jesus Cristo, tão bem exemplificado
nas caminhadas da pregação e na aceitação da via crucis. Servir ao outro está
no bojo do mandamento mais divino que conhecemos: amar ao próximo como a
ti mesmo!
Conhecidos
e anônimos, entre eles Anísio Gorayeb Filho, não se cansaram/cansam
de disseminar o amor no servir, conseguindo resplandecer a própria aura,
advinda da admiração e agradecimento do público alvo. Em muitos anos de
convivência, em programas de rádio e TV, nunca vi a tristeza estampada no rosto
do Anisinho, havia sempre um sorriso entremeado à vontade de ajudar, de ser
útil ao outro, ou uma piada pronta para abrir sorrisos. A metros de distância,
ao ver um conhecido, ele bradava fortemente – meu amigo – e ia na
direção do avistado, para um afetuoso abraço!!!, pronunciando corretamente o
nome daquela pessoa, um exercício fraterno que ia na contramão da hipocrisia
social, tão comum nos dias atuais.
Quando
Anisinho resolveu assumir o papel de historiador/memorialista estudou tanto e
aprendeu de tal forma, que incorporou os fatos históricos a sua própria vida,
como se ele fosse o protagonista de todos eles. Em suas constantes palestras ao
longo do Estado, em escolas públicas, privadas, faculdades, festinhas, o que
fosse, para o qual tivesse sido convidado, falava como se amigo íntimo de
Percival Farqhuar, Barão do Rio Branco, Marechal Rondon, Oswaldo Cruz,
Belizário Penna, Aluízio Ferreira, Getúlio Vargas, Jorge Teixeira e tantos
outros, conhecidos ou anônimos, que fizeram parte da história de Rondônia.
Anisinho conhecia os nomes dos familiares de todas as famílias tradicionais de
Porto Velho. Sabia particularidades dos políticos, que nem os computadores do
Google tiveram acesso. Memória de elefante!!! Difícil mensurar a falta que fará.
A
internet mudou o mundo e as pessoas, Anísio tinha milhares de seguidores nas
redes sociais e atendia a todos, na medida do possível, ele era daquelas
pessoas que não sabem dizer NÃO, todo dia era dia do SIM.
Nesta pandemia o convívio social e o trato entre os cidadãos não é o mesmo de
anos passados, qualquer organização não governamental, como a nossa Academia Rondoniense
de Letras Ciência e Artes – ARL, se quiser sobreviver terá que se adaptar ao
vazio imortal, deixado pelos que mudaram de endereço, ou se acostumar com o
virtual.
Mesmo
pós vacina, os relacionamentos de uma confraria cuja matéria prima era/é a
memória, o abraço, o tapinha nas costas, o café, o chá e o elogio sincero,
demorarão a voltar ao que era, se é que voltarão… Dizem que os dedos de
esponja do tempo apaga tudo, mas não é simples assim. Os sentidos se acalmam, as lágrimas secam, a
gente troca o curativo da dor, mas aqueles que amamos, vez ou outra podem emergir
das profundezas.
Anísio
esteve na linha de frente, durante a fundação da ARL, em 2015, não tínhamos um
endereço para sede própria, ele ofereceu, provisoriamente, uma sala do
escritório de advocacia da esposa, o servir era mais importante do que os
transtornos que poderíamos causar, nos reunindo na sala oferecida; resultado:
até hoje o endereço da ARL é uma sala do complexo de escritórios da Dra. Marisâmia
Aparecida de Castro Inácio, até o dia em que algum funcionário do alto escalão
governamental reconheça a importância da ARL para Rondônia e nos ajude a
conseguir uma sede própria. Com a palavra mestre Suamy, ainda estamos
pacientemente aguardando a promessa.
A
via crucis de Anísio Gorayeb durou cerca de 14 dias, testou dia 26/02, soube do
resultado positivo no dia 01/03, mas só foi internado no Cemetron em 07/03, um
domingo, e faleceu no dia 21/03, outro domingo. Todo mundo é capaz de dominar
uma dor, exceto quem a sente.
Quando
Dr. Dimis da Costa Braga me avisou que o quadro era gravíssimo, na manhã
daquele domingo, perdi o chão, pois queria acreditar que pessoas boas, como o
Anisinho, não morrem precocemente porque são suscetíveis às orações alheias. O
aviso final me veio pela voz chorosa do jornalista e amigo Lúcio Albuquerque,
às 16 horas, acabavam ali minhas esperanças de revê-lo em vida. Enquanto as
lágrimas lavavam o meu rosto, Shakespeare soprou aos meus ouvidos:
lembrar é fácil para quem tem memória, esquecer é difícil para quem tem
coração. E Adélia Prado complementou: enquanto o tempo leva a
vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa,
eternizando momentos.
Para
mim a memória personaliza a saudade, parando o tempo. Anisinho estará
eternamente no Panteão dos amigos para sempre, nicho dos imortais
da Academia, nos aguardando com o seu bordão preferido: Meu amigo!
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