Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023 - 13h25
No
estertor dos anos sessenta, quando ingressei na Faculdade de Direito da UFBA,
levei comigo uma densa bagagem esquerdista, composta por vistas da janela da
esquerda, fundamentada em teóricos/sonhadores que faziam a cabeça da juventude,
mundo afora, ignorando ou usando a condição humana regional, para implementar
sua ideologia, cuja meta principal pregava a proximidade das classes sociais. A
janela da esquerda, apesar do fracasso mundial do socialismo/comunismo,
continua exclusivista, promovendo, ideologicamente, vistas desagregadoras,
arrogantes e distantes do respeito à opinião alheia e ao bem comum.
Pois
bem, o mundo deu muitas voltas, eu aprofundei meus estudos, o muro de Berlim
caiu, e pelos portões de Brandemburgo recebi novas e esclarecedoras vistas da
janela da esquerda, que já, àquela época, mostrava-se duvidosa, com ideias
tremulantes, como se incomodada com o insucesso da aplicabilidade de suas
teorias na governabilidade de inúmeras nações. Enquanto Cuba se desesperava
economicamente, o Leste Europeu via sua cortina de ferro despencando, corroída
pela ferrugem do desgoverno da ditadura soviética. No outro lado do mundo, os
Tigres da Ásia ditavam as normas do sucesso capitalista, trucidando princípios
que não caminhassem pela livre concorrência, pela educação em massa e pela
meritocracia. A diferença entre as duas coreias mostra bem os efeitos da
esquerda e da direita na forma de governar um país.
Não
foi fácil mudar de alcova, reconhecer a perniciosidade das ideias socialistas,
fugir dos afagos da utopia, romper as amarras da ideologia, doeu muito, mas me
libertei da cegueira ideológica. Busquei novas lentes e hoje me considero
curado de um mal qua aflige muita gente, gente que vendo não vê, como dizia o
mestre Saramago. Paulo Francis, talvez o jornalista mais lúcido da minha
juventude, também trocou a esquerda pela direita e foi morar nos EUA, onde
divulgou inúmeros textos contra o socialismo/comunismo: “o comunista só é
comunista enquanto não ganha seu primeiro milhão”.
Muitos
não se conformam com o insucesso de Cuba, com a China abrigando multinacionais,
como que aderindo ao capitalismo, rasgando o Capital de Marx e a teoria da
revolução do proletariado; nem com o egocentrismo de Putin, querendo a todo
custo o retorno da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, mesmo
que para isso tenha que matar civis de toda ordem, inclusive crianças, na
guerra da Ucrânia. Os esquerdistas mais radicais chegam a elogiar o ditador da
Coreia do Norte.
O
jovem da minha época achava legal falar de capitalismo selvagem; chamar a
direita de reacionária e conservadora; aplaudir e ler o livro vermelho de Mao;
concordar com os crimes absurdos de Stalin e toda sua corriola socialista. Hoje
a social democracia que merece meus aplausos está no Norte da Europa e é muito
diferente da que foi implantada no Leste Europeu, Cuba, Nicarágua, Venezuela
etc. Enquanto o Leste Europeu foge do retrocesso, ajudando Zelensky numa guerra
insana, os latino-americanos se esforçam pela implantação de um socialismo
moreno, focado na estatização e na multiplicação dos cargos públicos, via
duplicação de Ministérios, consequentemente na corrupção e no inchaço do
Estado. A fome e a ignorância, ou seja, o povo volta ser massa de manobra.
A
partir da Constituição de 1988, a população, principalmente a classe média
esclarecida, passou a enxergar o Exército Brasileiro como Poder Moderador,
tanto que o art. 142 da referida Constituição, praticamente ratificou essa
teoria. Pela doutrina sempre que houvesse necessidade, sempre que os poderes
republicanos se desentendessem, o EB entraria em cena para pôr ordem na casa,
como ocorreu em 31 de março de 1964, depois de monstruosas passeatas, com quase
um milhão de pessoas em Belo Horizonte e em São Paulo. Desde essa época, o exército
passou a ser a metáfora da Espada da Justiça. O braço forte e a mão amiga do
povo brasileiro.
Após
mais de 20 anos de governo militar, os generais devolveram o governo aos civis,
esperando que a Democracia não fosse usada, demagogicamente, como moeda de troca,
no possível retorno dos socialistas. Entrou governo e saiu governo e nos
deparamos com o retorno do PT e a prisão de seu líder maior. Todavia, no meio
do caminho da esquerda tinha um desastrado capitão, falastrão, exercendo um
autoritarismo singular, sem o apoio do colégio de Generais, mas convencendo a
maioria de que ele era a SOLUÇÃO, para nos livrarmos, de uma vez, da esquerda
petralha. Um novo Messias?
Pobre
povo brasileiro, o capitão era apena um ENGODO. O STF soltou o presidiário, o
capitão decepcionou os brasileiros se aliando ao Centrão, e a direita se viu no
mato sem cachorro: perdeu a reeleição e viu uma pequena parcela de seus
membros, usando a artimanha de acampar em frente aos quartéis, para forçar a
ajuda do EB, esquecendo que os tempos são outros e o exército já não é mais o
mesmo. O que mais doeu foi ver o exército abandonar os acampados à própria
sorte. No mínimo poderia ter impedido o tresloucado ato de invadir as sedes dos
três poderes republicanos.
É
verdade que metade da população não estava preparada para rejeitar a demagogia
e o populismo, tão usados pela esquerda, e, como é o lado mais fraco e
manipulável, no exercício da política, perdeu a reeleição e voltou a sonhar com
a interferência do exército e seu poder de polícia, nos moldes da PE do governo
militar, achando que a corrupção generalizada nos três poderes republicanos, só
acabaria com a interferência militar. Foi um tiro no pé! Os pseudos patriotas,
alguns presos, compreenderam que o verde não é mais a cor da esperança. Melhor
se conformar com o vermelho e torcer pelo Internacional. A frase do socialista
José Dirceu só tem sentido no meio petista: "Vamos
tomar o poder, que é diferente de ganhar a eleição".
O
que ninguém pode apagar é que a nação foi vítima de uma quadrilha de
espertalhões, convenientemente apelidada de esquerda caviar, que por mais de
quinze anos assaltou os cofres públicos, sob o olhar complacente do Legislativo
e da elite do Judiciário. Mesmo com tantas evidências, como as delações
premiadas de Marcelo Odebrecht, Palocci, Cabral etc., mesmo com tanto dinheiro
devolvido aos cofres públicos, voltaram ao poder, recebendo ajuda maciça da
mídia, do STF e dos votos dos eleitores petistas, ideologicamente apaixonados,
logo, cegos, como se nada tivesse acontecido. Em nome da democracia, teremos
que tolerar uma esquerda brasileira, sem princípios morais. Ao olharmos pra
trás, fica difícil achar que nos próximos 4 anos teremos um governo melhor.
Tomara que estejamos errados, não advogamos a máxima de quanto pior melhor.
O filósofo inglês,
conservador, Roger Scruton, gerou, recentemente, a seguinte vista, na janela da
direita: Pessoas normais não são de esquerda. Os esquerdistas acham que são donos
da verdade.
Entrementes, à esquerda, ao centro, ou à
direita, somos todos normais, o que nos diferencia é a forma como valorizamos
nossos relacionamentos, como encaramos os valores familiares e patriotas, como
buscamos a vista da felicidade, na janela da vida e como exercemos a vista da
nossa cidadania, na janela da política. Os judeus esperaram milhares de anos
por um Messias, quando ele apareceu, não o reconheceram, porque ele não era
guerreiro, divulgava o amor entre as pessoas e se chamava Jesus. A direita
brasileira também esperou pelo seu Messias e, quando pensava que ele havia
chegado, foi enganada. Que venha um novo líder, mas com outro nome, gato escaldado tem medo da
água fria.
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