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Crônica

Cabala política


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Depois de um descanso merecido aos meus neurônios, volto a atividade cronista, em respeito aos meus inúmeros leitores, daqui e d’alhures. Todos nós sabemos que a vida é feita de escolhas, nosso futuro depende delas, contudo as estratégias políticas resultam de escolhas diferenciadas, nem tão certas, nem tão erradas, o que aparenta, para o público, como decisão errada, se pensada de forma unilateral ou partidária, poderá ser certa.

O presidente Bolsonaro fez uma campanha escorada na Lavajato, nas igrejas evangélicas e na força simbólica do Exército Brasileiro, como se ele fosse o elemento novo que mudaria o país, e enganou quase todo mundo. Hoje o que se sabe é que ele foi um “bobo da corte”, um pseudo Messias, manipulado pelo Centrão, mentor de uma família problemática e sem condições morais, para realizar as mudanças que ele prometeu. Nem seu vice, agora senador, nem o EB lhe renderam apoio político.  

Nós, os eleitores sérios, preocupados com o progresso do país, ficamos com cara de besta. Ninguém, nem o general Heleno queria Bolsonaro nos braços do Centrão, comprometendo o futuro econômico do país. O resultado disse é que estamos à deriva, no meio do temporal das conveniências, entre a esquerda que não é esquerda e a direita, que não é direita, regulamentadas pelas raposas do TSE/STF, que ajudaram, mais do que nunca, no retorno do patrão. Até Sérgio Cabral, o político mais condenado da história política brasileira, mais de 390 anos de prisão, foi solto pelo STF, sob os aplausos das esquerdas brasileiras. Por essas e por outras é que a velha máxima – O Brasil não é um país sério − volta ao noticiário internacional.

São muitas encruzilhadas políticas, sujeitas a discursos demagógicos e ao velho fantasma do populismo, reforçando o conceito deturpado de democracia, mediante distribuição de vinténs verbais, jogados do alto do palanque. Salve, salve o rei Lula III. Viva a nova república! O número de ministérios quase que dobrou, o emprego público e as propinas são moedas de troca bem conhecidas do patrão. Logo logo vamos estar como a Argentina, com a cuia na mão, tendo que imprimir moeda sem lastro, para pagar as dívidas internas e externas.

Só os analfabetos políticos aplaudem movimento estúpido, como o de 8 de janeiro/23 que culminou com a invasão das sedes dos três poderes republicanos. Foram atitudes violentas que não levarão a nada, visto que não contaram com o apoio maciço da população. No passado, já tivemos passeatas pacíficas, com mais de um milhão de pessoas, comandadas por líderes civis, referendados por forças militares, sem ter que invadir prédios ou depredar patrimônios públicos. Bons tempos!

Essa eleição, validando a expressão “o crime compensa”, como bem disse o jurista Ives Gandra Martins, nem era pra ter sido realizada, com os conhecidos protagonistas. Não é difícil concluir que teremos mais do mesmo: corrupção, corrupção, corrupção! Na verdade, o segundo turno nos reservou os dois piores candidatos: votar em qualquer um dos dois, era como trocar seis por meia dúzia.  Continuo insistindo na mudança do nosso formato de democracia representativa – o poder do povo para o povo já não está funcionando, com o Congresso viciado em corrupção. Alguma mudança precisa ser feita.

Ao fim das jornadas eleitorais, concluímos que, na política brasileira, a soma das nossas escolhas, não foi lá grande coisa, isto, porque o caráter do político depende de uma sociedade consciente, instruída e sólida, o que não é o nosso caso. Continuamos a ser um gigante de Gibi, dorminhoco, manipulado e preguiçoso. Já fomos vítimas de Sarney, Collor, de Lula, de Dilma, de Bolsonaro e, por falta de opção, voltamos a Lula. Até quando vamos fazer parte desta cabala demoníaca? Quando conheceremos à verdadeira cabala, orientada pelo Livro da Luz? As qualidades divinas da árvore da vida necessitariam abandonar o discurso vazio e ingressar no íntimo dos nossos políticos, retomando o amor ao próximo, diminuindo as distâncias sociais, consequentemente melhorando o tripé de sustentação de uma nação: educação, saúde e segurança. Entremente, seria preciso reinventar o político, mostrar-lhe um novo caminho, derivado da sua capacidade humana de evolução, fruto de uma relação consigo mesmo e não com Deus, numa viagem desafiadora do autoconhecimento pela reflexão. Sonho meu?!

Pelo andar da carruagem, no Brasil de 2023, os militares vão voltar a bater continências pra “esquerda barbuda”, o Congresso, o velho e o que vai assumir em fevereiro, será agraciado com novos Ministérios, o centro esquerda vai se aliar com o centro direita e todos mamarão nas tetas da porca que nós alimentamos com nossos impostos. Pela qualidade da maioria dos políticos, que poderiam fazer a diferença, tão cedo não teremos mudanças constitucionais estruturais. Logo mais, seremos o reduto mais sólido das esquerdas sul-americanas: República Democrática do Brasil.

Eu já disse em outra crônica e volto a dizer: se não fizermos mudanças sérias na Constituição, se não alterarmos a forma de atuação do STF, se não mudarmos a organização da nossa estrutura política, utilizando, por exemplo, o sistema semipresidencialista, se continuarmos aplaudindo essa República Vira-lata, que troca de presidentes sem o mínimo pudor, explorando a boa-fé e a ignorância do eleitor, seremos vítimas de uma pandemia de corrupção, com sérios reflexos na credibilidade do político e na democracia representativa brasileira. 

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