Segunda-feira, 17 de janeiro de 2022 - 14h45
Desde a primeira vez que os
sapiens se reuniram em torno de uma fogueira, no começo da noite, para traçar
os planos do dia seguinte, até as viagens espaciais boladas pela Nasa e pelo
milionário Elon Musk, que o diálogo tem sido uma força motriz na comunicação,
mas os ruídos de instrução atrapalham a compreensão, em todas as
áreas. Isso sem levarmos em conta que cada pessoa possui a sua própria
linguagem. Lygia Fagundes Telles, costuma dizer que o escritor escolhe as
palavras com as quais quer trabalhar. Contudo tem gente que a fala é a
expressão da boçalidade, do autoritarismo ou da mediocridade.
O nível de instrução de cada
pessoa faz com que ela fale, escreva e entenda de forma diferenciada, ainda que
pense que fala a mesma língua. Dentro do idioma nós temos variações
linguísticas, que é um fenômeno que
reúne diversas
manifestações faladas ou escritas dos usuários de uma mesma língua,
é o caso por exemplo, do politiquês, do juridiquês, do medicianês, etc.
Em determinadas situações, a
semântica é outra, a escolha das palavras e até mesmo a entonação é outra. Inclusive a leitura de um texto, ou a fala em
um diálogo, sem a observação correta da pontuação, corre o risco de não ser
entendida − Vou ali comer
gente. Uma pessoa, fora da área do Direito ou da Medicina, não vai
entender a fala profissional de um juiz, nem a de um médico.
De forma técnica, todo
empecilho à comunicação é chamado de ruído, mas não é a esse tipo de ruído que
estamos nos referindo, mas ao ruído de instrução. Imaginem a
preocupação de uma enfermeira estagiária instrumentista, que ainda não sabe o
nome de todas as ferramentas usadas pelo médico, no momento de uma cirurgia
invasiva de grande porte. Esse tipo de ruído precisa ser identificado,
neutralizado e eliminado o mais rápido possível. Lembro de uma entrevista do
jogador de futebol, Paulo Nunes, dizendo que não conseguiu jogar em Portugal
por mais de seis meses, porque lhe disseram que em Portugal se falava o mesmo
idioma do Brasil, mas ele não conseguia entender as instruções técnicas, nem
chamar o goleiro de guarda-redes e muito menos uma camiseta de camisola: −
eu não sou bicha! − Só que, em Portugal, bicha é sinônimo de fila.
Entre as variações
linguísticas as que mais se observam no dia a dia são aquelas chamadas de variações
diastráticas que decorrem das diferenças socioculturais: um caipira na cidade,
uma empregada doméstica se comunicando com o patrão, usam estruturas
linguísticas mais coloquiais, resultado da privação econômica e,
consequentemente, educacional e cultural. Temos também o estrangeirismo que é
uma variação diacrônica ou histórica: − e aí brother tudo numa nice?
Para quem gostou do tema,
lembro que existem outras variações que merecem ser estudadas, muitas delas se
originaram em outras línguas, inclusive no Tupi-guarani. Como a língua é
dinâmica, diariamente surgem expressões na TV, nos presídios, bordões de
artistas, trechos de músicas populares, mas que só “pegam” se tiverem adesão
coletiva e continuada, entretanto, podem “pegar” em uma classe e em outras não:
− a cobra chegou! Ana Maria, o que tua mãe faz aqui?” − E aí cara, bão?
Ramo pro shopping manhã?” Igarapés e igapós são criadouros de carapanãs,
esta é uma expressão só entendida na Região Amazônica. Nordestino que sou,
lembro que só conheci estas e outras palavras de origem indígena, aqui em Porto
Velho.
A comunicação é a finalidade maior de
uma língua, idioma ou dialeto: é por meio dela que ocorrem as interações
sociais, lembrando que, na sociolinguística, a língua é o instrumento da
comunicação, são as falas; idioma é a língua própria de um povo, está
relacionada com a existência de um país, no contexto universal; e o dialeto são
as variações linguísticas sofridas pela língua, ao longo do tempo e do
território, devido a dinamicidade do idioma.
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