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Crônica

Cara! Que tema porreta!


Cara! Que tema porreta! - Gente de Opinião

Desde a primeira vez que os sapiens se reuniram em torno de uma fogueira, no começo da noite, para traçar os planos do dia seguinte, até as viagens espaciais boladas pela Nasa e pelo milionário Elon Musk, que o diálogo tem sido uma força motriz na comunicação, mas os ruídos de instrução atrapalham a compreensão, em todas as áreas. Isso sem levarmos em conta que cada pessoa possui a sua própria linguagem. Lygia Fagundes Telles, costuma dizer que o escritor escolhe as palavras com as quais quer trabalhar. Contudo tem gente que a fala é a expressão da boçalidade, do autoritarismo ou da mediocridade.

O nível de instrução de cada pessoa faz com que ela fale, escreva e entenda de forma diferenciada, ainda que pense que fala a mesma língua. Dentro do idioma nós temos variações linguísticas, que é um fenômeno que reúne diversas manifestações faladas ou escritas dos usuários de uma mesma língua, é o caso por exemplo, do politiquês, do juridiquês, do medicianês, etc.

Em determinadas situações, a semântica é outra, a escolha das palavras e até mesmo a entonação é outra.  Inclusive a leitura de um texto, ou a fala em um diálogo, sem a observação correta da pontuação, corre o risco de não ser entendida − Vou ali comer gente. Uma pessoa, fora da área do Direito ou da Medicina, não vai entender a fala profissional de um juiz, nem a de um médico.

De forma técnica, todo empecilho à comunicação é chamado de ruído, mas não é a esse tipo de ruído que estamos nos referindo, mas ao ruído de instrução. Imaginem a preocupação de uma enfermeira estagiária instrumentista, que ainda não sabe o nome de todas as ferramentas usadas pelo médico, no momento de uma cirurgia invasiva de grande porte. Esse tipo de ruído precisa ser identificado, neutralizado e eliminado o mais rápido possível. Lembro de uma entrevista do jogador de futebol, Paulo Nunes, dizendo que não conseguiu jogar em Portugal por mais de seis meses, porque lhe disseram que em Portugal se falava o mesmo idioma do Brasil, mas ele não conseguia entender as instruções técnicas, nem chamar o goleiro de guarda-redes e muito menos uma camiseta de camisola: − eu não sou bicha! − Só que, em Portugal, bicha é sinônimo de fila.

Entre as variações linguísticas as que mais se observam no dia a dia são aquelas chamadas de variações diastráticas que decorrem das diferenças socioculturais: um caipira na cidade, uma empregada doméstica se comunicando com o patrão, usam estruturas linguísticas mais coloquiais, resultado da privação econômica e, consequentemente, educacional e cultural. Temos também o estrangeirismo que é uma variação diacrônica ou histórica: − e aí brother tudo numa nice?

Para quem gostou do tema, lembro que existem outras variações que merecem ser estudadas, muitas delas se originaram em outras línguas, inclusive no Tupi-guarani. Como a língua é dinâmica, diariamente surgem expressões na TV, nos presídios, bordões de artistas, trechos de músicas populares, mas que só “pegam” se tiverem adesão coletiva e continuada, entretanto, podem “pegar” em uma classe e em outras não: − a cobra chegou! Ana Maria, o que tua mãe faz aqui?” − E aí cara, bão? Ramo pro shopping manhã?” Igarapés e igapós são criadouros de carapanãs, esta é uma expressão só entendida na Região Amazônica. Nordestino que sou, lembro que só conheci estas e outras palavras de origem indígena, aqui em Porto Velho.

A comunicação é a finalidade maior de uma língua, idioma ou dialeto: é por meio dela que ocorrem as interações sociais, lembrando que, na sociolinguística, a língua é o instrumento da comunicação, são as falas; idioma é a língua própria de um povo, está relacionada com a existência de um país, no contexto universal; e o dialeto são as variações linguísticas sofridas pela língua, ao longo do tempo e do território, devido a dinamicidade do idioma.

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