Segunda-feira, 19 de dezembro de 2022 - 13h24
Andava
eu pelos meus dez anos (seriam onze?) quando conheci o Senhor D. Duarte Pios de
Bragança.
Frequentava,
o principezinho, o segundo ano, turma A, do Liceu Alexandre Herculano, no Porto:
Foi-lhe dado o número: quatro.
Era
menino robusto, de tez clara, recatado e retraído; rechonchudinho e coradinho.
Um guapo rapaz!
Possuía
farta e vistosa cabeleira cor de ouro velho, que o destacava dos restantes,
quase todos moreninhos e cabelos cor de ébano.
Sentava-se
o nosso principezinho na primeira fila, rente à janela, que abria para o
recreio.
Certa
ocasião, o príncipe, recebeu de tia, moradora em país de grandes compositores e
altas montanhas, cobertas de alvas neves no inverno e de lindas flores
silvestres, na primavera, relógio de pulso, cobiçado por muitos.
Estava
o mestre a dissertar, quando paira no ar estranho e irritante sussurro. O que
seria!?
Estupefacto,
interrompe a elucidação, e logo dezenas de curiosos olhinhos espantados,
volveram-se para o nosso príncipe.
Ergueu-se
o principezinho, e declarou, concisamente:
O
relógio era despertador. Inexplicavelmente, sem desejar, começou a soar. -
Estava esclarecido o insólito.
Como
os principezinhos das histórias de encantar, possuía, também, objetos
mirabolantes, e hábitos estranhos. Estranhíssimos!!!...
Não
queiram lá saber o que aconteceu em fria manhã de inverno: o menino príncipe,
enfia a mão na algibeira e retira papel sedoso, e assoa-se.
O
quê!? - Interrogam-se varados os petizes. - Ele limpa o nariz a papéis!?...
O
mais afoito investigou o inusitado enigma...
Eram
lenços de papel!.... Desconhecidos, em 1956, em Portugal....
Mas,
em dia aziago, aconteceu inesperada tragédia:
Dona
Delfina – esposa do jurista Lopes Cardoso, – resolveu realizar íntima festinha.
Entre
os convidados, contava-se o nosso principezinho. Comeram e beberam leite achocolatado.
Depois solicitaram autorização para se retirarem.
O
grupinho do príncipe era constituído, pelo Daniel, filho mais novo de Lopes
Cardoso (meu informador das peripécias aqui referidas,) João Campos, António
Baia e Emanuel Caldeira Figueiredo.
Assentaram,
os garotinhos, dar curto passeio de bicicleta. Como os pneus estivessem em
baixo, o grupinho, demandaram açodados, à Rua de Camões (Gaia,) em busca da
oficina de José Grilo.
Inesperadamente,
surdiu, enfurecido cachorro, que embirrou com D. Duarte. Aflito, atarantado,
aturdido, refugia-se, encafuando-se numa viatura, com tanta infelicidade, que o
vidro da janela estalou em pedacinhos.
E
agora? Agora o pai do príncipe, com dignidade, reparou o dano.
Certo
dia desapareceu o nosso principezinho...Soube-se que fora para as "
Caldinhas".
Passaram-se
longas décadas. O diretor do jornal, onde era redator, encarregou-me de
elaborar, entre outras entrevistas, curtíssima biografia de D. Duarte.
Nessa
ocasião o meu principezinho encontrava-se casado, e era agora o Senhor Duque de
Bragança.
Enviou-se-lhe
o periódico. Ele e Dona Isabel, dirigiram-me afetuosa missiva e foto
autografado, que conservo religiosamente.
Assim
terminam as minhas singelas reminiscências do principezinho loiro, que em 1956,
estudava num liceu portuense, e brincava, ria e chorava, como qualquer criança
portuguesa.
Bons tempos!...
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