Segunda-feira, 9 de agosto de 2021 - 12h32
Assistindo
à abertura e ao encerramento das Olimpíadas, ocorreu-me o título de um livro de
Thomas Friedman, que li, há poucos anos − “O mundo é plano: uma breve história
do século XXI” − sobre como a globalização vem achatando o mundo. Em pouco mais
de 400 páginas o autor traça os planos da concorrência mundial, recorrendo a
uma imagem simbólica que é uma lição e um hino à competitividade: “Em África,
todas as manhãs, uma gazela acorda. Sabe que tem que correr mais depressa que o
leão, ser mais veloz ou será morta. Todas as manhãs um leão acorda. Sabe que
tem que correr mais depressa que a gazela mais lenta, ou morrerá de fome. Não
interessa se és um leão ou uma gazela. Quando o sol se levantar será bom que
corras." Simbolicamente, nestas Olimpíadas, quantas nações foram leões,
quantas foram gazelas e quantas ainda terão de correr pela melhoria do seu IDH
ou pela sobrevivência?
A
natureza, no reino animal, é pródiga em exemplos de competitividade e os
humanos, desde a antiguidade, concorriam entre si, em guerras tribais, mas foi na
mitologia grega, com Hércules, filho de Zeus, e a partir da cidade de Olímpia,
que as olimpíadas evoluíram, até chegarem, após anos de esquecimento, à idade
contemporânea, mais precisamente à década de 1890, no formato jogos olímpicos,
sob o patrocínio do Barão de Coubertin. Ele
acreditava que a prática do esporte devia ser estimulada na sociedade
contemporânea, sobretudo entre os jovens. Além disso, era interessante que
houvesse uma organização internacional de jogos esportivos que ajudasse a
promover uma paz niveladora entre as nações, já que naquele contexto de
transição do século XX para o século XXI havia uma rivalidade doentia entre
as potências
imperialistas, que culminaram com duas grandes guerras. Mesmo
com os jogos, a rivalidade doentia permanece, basta conferir o quadro de
medalhas.
No
espaço físico da grande Tóquio, ou de qualquer outra grande cidade que tenha
patrocinado as Olimpíadas, competitivo é aquele que consegue utilizar os
recursos disponíveis e entregar bons resultados. Simples assim! mas por trás de
cada modalidade existe uma tradição, por trás da bandeira de cada país existe
uma história, só vista com o exercício do conhecimento e da imaginação: há uma
espécie de ranking entre as nações, algo fácil de perceber, pelo número de
competidores, quando se junta, num estádio, os representantes de cada país,
concorrendo sob a bandeira do COI. Dá pra sentir a gritante diferença entre as
gazelas e os leões, desde o momento em que eles pisam no estádio da abertura
dos jogos. Nem todos os ombros suportam a
esperança de uma nação.
O
mundo então parece plano, acessível, pequeno, irmanado, mas se ativarmos o
efeito discernimento, no cérebro, perceberemos as distâncias, o efeito
gravidade, a evolução dos continentes, a necessidade da substituição da velha
bússola por um GPS informativo, que aponte não só a certeza do formato da Terra,
mas também a influência dos colonizadores e da economia, nos resultados olímpicos,
a extensão dos velhos tentáculos imperialistas, não desejados pelo barão. Citius, Altius, Fortius (o mais rápido, o mais
alto, o mais forte): EUA 113 – China 88.
Os
efeitos niveladores, atuando a nível global, em uma olimpíada, camuflados pela
empolgação dos organizadores, são invisíveis, ou inexistentes, principalmente
pela grande diferença de população dos países envolvidos e do seu
posicionamento no G20. Uma pequena nação jamais conseguirá resultados iguais
aos das dez primeiras colocadas no quadro de medalhas, salvo uma ou outra
modalidade. Num futuro muito distante, quando forem reduzidos o número de países
concorrentes e a habilidade dos humanos for substituída por máquinas, capazes
de conversar com outras máquinas, algo um pouco diferente do robô que o Japão apresentou
ao mundo nestas olimpíadas de 2021, que não errava uma cesta de basquete,
qualquer que fosse a distância, talvez haja uma modificação. As máquinas
reduzirão o mundo esportivo a um terreno plano, resta saber, com a evolução,
quantas máquinas serão colocadas no mundo da competitividade esportiva.
Apesar
das distâncias econômicas e sociais entre os concorrentes, as Olimpíadas são
bacanas porque nos obrigam a conhecer modalidades geralmente esquecidas, nos
transformam em torcedores, técnicos e especialistas em assuntos esportivos.
Ademais é a chance de se ver um significativo sorriso nos lábios dos fundistas
africanos em seus raros momentos de felinos. No fim das
contas, a nosotros humanos normais resta parar na frente da TV e se
divertir, ganhando ou perdendo. Esse é o grande barato do esporte, mesmo
sabendo que a competitividade sadia depende de uma série de fatores de complexa
relevância. Lembram do doping da Rússia, punido pelo COI??? Vai Isaías…
acelera essa canoa.
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