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Gente de Opinião

Crônica

De Hitler a Juscelino


Esta semana resolvi rever meus escritos políticos, talvez redirecionar alguns posicionamentos, para evitar dissabores e distanciamentos de uns e oportunas demonstrações afetivas de outros, como se minhas opiniões públicas, às vezes sofridas, a respeito desse ou daquele candidato, mais à esquerda ou mais à direita, me colocassem num pedestal para receber tapas e beijos, ofensas e elogios. É fácil conviver quando há identidade de opiniões, mas o melhor exercício de civilidade, generosidade e aceitação, reside na compreensão de que todos somos parças uns dos outros. A política não pode serTabu, nem cabo de guerra. Apesar do esforço dos poetas da vida, a linguagem dos relacionamentos ainda se encontra embrutecida, porque parte dos humanos permanece exclusivista, não evoluiu com a polêmica.

A unanimidade não é burra, porque não existe unanimidade, desde que o mundo é mundo que as opiniões convergem ou divergem, conforme os grupos, as comunidades a que pertencem. Contudo a involução da polêmica política está nos arrastando para uma perigosa contenda, polarizando situações e candidatos, dividindo famílias, amigos, membros de associações; enchendo as redes sociais de conflitos e xingamentos absurdos, entristecendo a audiência. Nunca pensei que o discurso político pudesse passar por cima do nobre sentimento da amizade, do amor familiar, enfim até das crenças religiosas, revigorando velha máxima: política, futebol e religião não se discutem. E não devia ser assim, tudo é discutível, desde que haja civilidade. Esquerda e direita não dão conta da diversidade política do século 21. Os romanos diziam que a virtude está no meio (In mediun itos), pena que, no Brasil, o meio foi tomado pela maioria corrupta.

Os ingleses afirmm que: just as one test of loyalty ends, another begins (quando um teste de lealdade termina, outro começa), comprovando o que já se sabe há anos: a política não resiste à lealdade, à fidelidade, à dedicação e à sinceridade constante, é, no dizer de Magalhães Pinto, “como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. A política modifica-se a cada nova campanha, novo líder, nova roupagem, novos membros, nova onda, renovando conceitos ou simplesmente adaptando palavras novas à velha retórica política, com o fim de se chegar ao poder a qualquer custo. Coitada da maioria! precisa exercer o seu direito de escolha, sem o mínimo preparo, às vezes só lhe resta o cérebro corroído pelo populismo e pela paixão, e esta, nem sempre é boa companheira, na hora do voto.

Ainda assim, esta semana resolvi escrever sobre uma paixão, quiçá uma unanimidade unânime: o Fusca! o querido Fusquinha ou Fuscão, companheiro de tantas alegrias, está se despedindo. Nem ele resistiu ao teste de lealdade, às tentações do mercado, advindas das pranchetas dos designers automotivos; sucumbiu às novas latarias: vieram os passats, brasílias, corcéis, fiats,  polaras,  opalas, japoneses, coreanos, chineses; enfim, novos formatos, novos motores, que despertaram o olhar sonhador e ambicioso do jovem consumidor capitalista, todavia, tais modelos jamais se incorporarão ao coração, com a simplicidade do Fusquinha, nunca deixarão saudades, nem viverão no aconchego das lembranças; nunca serão o reduto das confidências mais íntimas. O Fusca era tão humano que a magia do cinema lhe deu voz, sentimento e alma.

Ícone da indústria automobilística, nas décadas de 1950, 60 e 70, era caracterizado pela mecânica simples, design arrojado e carroceria resistente. Não à toa, foi o carro mais vendido no mundo: Não sou um carro qualquer sou um Fusca.

De Hitler a Juscelino - Gente de Opinião

O sonho de consumo da maioria dos jovens, não era um carro, era um estilo de vida, quem ainda tem um Fusquinha também tem um pedaço da história, própria e do automóvel. Não fugi à regra, tive meu fusca azul, com os bancos tigrados, dirigia feliz pelas ruas, tendo ao lado a girl dos meus sonhos, escondendo na alma o lirismo niilista e o existencialismo sartreano, que me vieram das ferventes ruas da Paris daquela época.

A história do Fusca no Brasil começou em 20 de janeiro de 1959, quando a fábrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo, lançou o primeiro modelo, com estrondoso sucesso, na gestão de Juscelino Kubitscheck como Presidente da República. Recentemente a VW anunciou o fim do uso do nome Fusca e publicou um vídeo com a trajetória do Fusquinha no meio de nós, como se fosse a viagem final: https://www.youtube.com/watch?v=_kpFqbEJ3HM. “É incrível como um carro tão pequeno deixa um vazio tão grande”.

JK não aprovara o nazismo, nem o socialismo. Ao concordar com a instalação de uma fábrica de Fuscas no Brasil, de forma saudável, civilizada e respeitosa, em entrevista aos jornais, declarou: Nem esquerda, nem direita, apenas desenvolvimento. Jamais imaginaria que a política do futuro tomaria os rumos socialistas de João Goulart. O Socialismo hibernou por 21 anos e culminou no petismo corrupto de hoje. Ainda que sem nosso consentimento, a Política está presente em muitas situações do cotidiano, não só na hora do voto. Infelizmente, os brasileiros estão aprendendo, na escola da vida: A política não é a moral, ela só se ocupa do que é conveniente, não adianta espernear.

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