Segunda-feira, 4 de outubro de 2021 - 13h21
Esta semana resolvi rever meus
escritos políticos, talvez redirecionar alguns posicionamentos,
para evitar dissabores e distanciamentos de uns e oportunas demonstrações
afetivas de outros, como se minhas opiniões públicas, às vezes sofridas, a
respeito desse ou daquele candidato, mais à esquerda ou mais à direita, me colocassem
num pedestal para receber tapas e beijos, ofensas e elogios. É fácil conviver quando há identidade de opiniões, mas o
melhor exercício de civilidade, generosidade e aceitação, reside na compreensão
de que todos somos parças uns dos outros. A política não pode serTabu, nem cabo de
guerra. Apesar do esforço dos poetas da vida, a linguagem dos
relacionamentos ainda se encontra embrutecida, porque parte dos humanos permanece
exclusivista, não evoluiu com a polêmica.
A unanimidade não é burra,
porque não existe unanimidade, desde que o mundo é mundo que as opiniões
convergem ou divergem, conforme os grupos, as comunidades a que pertencem.
Contudo a involução da polêmica política está nos arrastando para uma perigosa contenda,
polarizando situações e candidatos, dividindo famílias, amigos, membros de
associações; enchendo as redes sociais de conflitos e xingamentos absurdos,
entristecendo a audiência. Nunca pensei que o discurso político pudesse passar
por cima do nobre sentimento da amizade, do amor familiar, enfim até das
crenças religiosas, revigorando velha máxima: política, futebol e
religião não se discutem. E não devia ser assim, tudo é discutível, desde que
haja civilidade. Esquerda e direita não dão conta da diversidade política do
século 21. Os romanos diziam que a virtude está no meio (In mediun itos), pena
que, no Brasil, o meio foi tomado pela maioria corrupta.
Os ingleses afirmm que: just
as one test of loyalty ends, another begins (quando um teste
de lealdade termina, outro começa), comprovando o que já se sabe há anos: a política
não resiste à lealdade, à fidelidade,
à dedicação e à sinceridade constante, é, no dizer de Magalhães Pinto, “como
nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. A
política modifica-se a cada nova campanha, novo líder, nova roupagem, novos
membros, nova onda, renovando conceitos ou simplesmente adaptando palavras
novas à velha retórica política, com o fim de se chegar ao poder a qualquer
custo. Coitada da maioria! precisa exercer o seu direito de escolha, sem o
mínimo preparo, às vezes só lhe resta o cérebro corroído pelo populismo e pela
paixão, e esta, nem sempre é boa companheira, na hora do voto.
Ainda assim, esta semana
resolvi escrever sobre uma paixão, quiçá uma unanimidade unânime: o Fusca! o
querido Fusquinha ou Fuscão, companheiro de tantas alegrias, está se despedindo.
Nem ele resistiu ao teste de lealdade, às tentações do mercado, advindas das
pranchetas dos designers
automotivos; sucumbiu às novas latarias: vieram os passats, brasílias, corcéis,
fiats, polaras, opalas, japoneses, coreanos, chineses; enfim,
novos formatos, novos motores, que despertaram o olhar sonhador e ambicioso do jovem
consumidor capitalista, todavia, tais modelos jamais se incorporarão ao coração,
com a simplicidade do Fusquinha, nunca deixarão saudades, nem viverão no aconchego
das lembranças; nunca serão o reduto das confidências mais íntimas. O Fusca
era tão humano que a magia do cinema lhe deu voz, sentimento e alma.
Ícone da indústria automobilística, nas décadas de 1950, 60 e 70, era caracterizado pela mecânica simples, design arrojado e carroceria resistente. Não à toa, foi o carro mais vendido no mundo: − Não sou um carro qualquer sou um Fusca.
O sonho de consumo da maioria
dos jovens, não era um carro, era um estilo de vida, quem ainda tem um Fusquinha
também tem um pedaço da história, própria e do automóvel. Não fugi à regra, tive
meu fusca azul, com os bancos tigrados, dirigia feliz pelas ruas, tendo ao lado
a girl dos meus sonhos, escondendo na alma o lirismo niilista e o
existencialismo sartreano, que me vieram das ferventes ruas da Paris daquela
época.
A história do Fusca no Brasil
começou em 20 de janeiro de 1959, quando a fábrica da Volkswagen de São
Bernardo do Campo, lançou o primeiro modelo, com estrondoso sucesso, na gestão
de Juscelino Kubitscheck como Presidente da República. Recentemente a VW anunciou
o fim do uso do nome Fusca e publicou um vídeo com a trajetória do Fusquinha no
meio de nós, como se fosse a viagem final: https://www.youtube.com/watch?v=_kpFqbEJ3HM.
“É incrível como um carro
tão pequeno deixa um vazio tão grande”.
JK
não aprovara o nazismo, nem o socialismo. Ao concordar com a instalação de uma
fábrica de Fuscas no Brasil, de forma saudável, civilizada e respeitosa, em
entrevista aos jornais, declarou: − Nem
esquerda, nem direita, apenas desenvolvimento. Jamais imaginaria que a política do futuro tomaria os rumos socialistas
de João Goulart. O Socialismo hibernou por 21 anos e culminou no petismo
corrupto de hoje. Ainda que sem nosso consentimento, a Política está presente
em muitas situações do cotidiano, não só na hora do voto. Infelizmente,
os brasileiros estão aprendendo, na escola da vida: A política não é a moral,
ela só se ocupa do que é conveniente, não adianta espernear.
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