Domingo, 19 de março de 2023 - 12h01
Estava
mergulhado em fofa poltrona cor de palha, assistindo a movimentada novela,
daquelas que são produzidas para inculcarem nefastas ideologias e fomentar a
malfadada Nova -Moral, quando assaltou-me um sono imperioso.
Enfastiado,
peguei na " Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires" de Frei Luís
de Sousa, livro que repousava esquecido sobre o regaço, para possível
releitura.
Abri-o
ao acaso, folheei-o, e deparo com a seguinte texto, que despertou a indolência
preguiceira:
"
Dura jurisdição, por não dizer tirania, exercita hoje muitos pais, sobre
as condições e natureza dos filhos. Em nascendo, já fazem a um clérigo, a outro
frade, a outro soldado; de espreitar a inclinação e jeito que cada um tem para
as cousas, não há tratar. Assim fica mal letrado o que fora bom sapateiro, e
não é bom soldado o que fora um religioso - Lº1, Cap:II.
Esse
parecer faz-me recordar, senhora, que visitava a casa de meu pai, que tendo
dois filhos, logo lhes talhou o destino – um seria doutor; outro, padre.
Se
o médico foi excelente clínico, o padre, não digo que fosse mau sacerdote, mas
ordenou-se sem vocação. Duvido que fosse feliz.
Ouço,
por vezes, mães asseverarem rijamente: " Quero que meu filho seja o que eu
nunca fui!", como se o filho não tenha o direito incontestável de escolher
livremente a vocação e o destino.
Conheci,
também, no Porto, costureirinha que casou com pequeno industrial. Eram pais de
garotinha esperta e inteligente.
Certo
dia alguém recomendou-lhe que, durante as férias escolares, colocasse a menina
a trabalhar na empresa, para melhor conhecer a fabrica, que um dia seria sua.
Abespinhou-se
indignada, declarando quase irada: " Minha filha não tem necessidade de
trabalhar. Será doutora!"
Cai
bem aqui, igualmente, o que escutei quando era rapazote, a senhora de fartos
bens: que a filha havia de casar com um médico, porque dinheiro já o tinha,
faltava-lhe ter médico na família!...
No
tempo que correm, frequentam a Universidade muitos jovens, porque seus pais
exercem a tirania (para usar o termo de Frei Luís de Sousa,) para saciarem o
prazer de terem filho doutor.
Aconselhem
a criança, mostrem-lhe a vantagem de prosseguirem nos estudos, mas deixem-na
escolher livremente a profissão. Caso contrário, teremos médicos que seriam
excelentes advogados e professores que seriam ótimos agrónomos.
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