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Gente de Opinião

Crônica

Dilema Curupírico


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Há muito esta história de destino perturba a compreensão da juventude esclarecida, muita gente acredita que o destino já vem pronto, é imutável, como se a estrada da vida não permitisse atalhos, bifurcações, nem beco sem saída; de certa forma, este posicionamento contraria a natureza humana, afeita a lutas e conquistas, desde os primórdios dos sapiens, neandertais, etc. Determinismo, casualismo e livre arbítrio estiveram nas tribunas iluministas do cristianismo e da Filosofia. Ainda hoje são o mote da discussão de muitos intelectuais e religiosos, sedentos em opinar sobre os segredos milenares da existência. Criacionismo ou evolucionismo?

No fundo todas essas discussões passam pelos cerca de 300 mil anos da evolução humana: quem sou? qual a razão da cor da minha pele? por que nasci no Sudão e não na Dinamarca? de onde vim? para onde vou? a morte é o fim ou o recomeço? O tempo jamais solucionará os segredos da vida humana, porque o longo passado da pré-história apagou as pegadas. A verdade é a esfinge da esperança: decifra-me ou eu te condeno a viver em paz, na tua insignificância, pro resto da vida. Conviver com a ignorância é uma opção.

O dilema curupírico está em todas as dúvidas relacionadas à existência: não sei se vou, se fico ou se volto, melhor não ir, vou, mas meus pés estão invertidos… ao caminhar pra frente, você está andando pra trás e só aí se lembra: todos os questionamentos da caminhada passam pelas escolhas e, lá atrás, algo deu errado. Dos chamados não fui o escolhido, faltou esforço!

O instante da tomada de decisão, que determinará novos passos, não pertence ao determinismo, nem ao casualismo e sim ao humanismo, sem certezas predeterminadas. O humano não lida bem com o “se”, o “talvez”, o “pode ser”; o experimental e o condicional pertencem ao desejo imaginário: gostaria de eliminar todos os corruptos, pra estudar a consequência social.

O olhar para o passado, às vezes, é dramático, melancólico: por que fiz isso e não aquilo? O mundo das escolhas é uma incógnita insensível: os acertos reverberam alegrias, as falhas alimentam lágrimas, mas só o esforço pessoal tem o segredo do cofre. Aí aparece a sorte, uma palavrinha complicada, mais surreal do que abstrata, querendo contrariar a causa e o efeito. O que fazer com ela? Se percebê-la, deita na cama dela! Mas tenha cuidado com os estafilococos gonorreicos, ela adora vagabundos e invejosos.

Em certas circunstâncias, as escolhas que, aparentemente, estão nos impulsionando, na verdade estão repercutindo o passado, andando pra frente com os pés do Curupira, como que ratificando Millôr Fernandes, O Brasil ainda tem um longo passado pela frente. O escritor minimalista, Viriato Moura, conta uma história, no livro Imersões no Talvez, sobre um sujeito que a cada dia colocava mais gravetos secos no quintal de seu amanhã, até que, num dia de verão ardente, sua vida virou cinzas.

Todo mundo é diferente e todo mundo é igual: tudo junto e misturado!!! Todos têm o mesmo dilema, difícil é marcar o X na escolha, sem saber previamente qual a opção certa ou errada. A tarefa, tão criticada e bem remunerada, dos astrólogos e dos autores de livros de autoajuda, seria desvendar os segredos do sucesso, o instante certo em que a força dos astros ou do invisível se mostrarão. Um tal cavalo branco, selado e paramentado com lacinhos de esperança, sempre estará sendo aguardado… até quando? Até o cu fazer bico.

Trabalho, estudo e persistência podem atapetar o futuro das escolhas, basta lembrar que sucesso é consequência e não objetivo. O resto é resto: especulação e fé em outros fatores, alheios à compreensão material, contribuindo para o sucesso das escolhas. Trabalho também é prazer!

O fato concreto é que nem todos estão satisfeitos com a profissão, com o parceiro, a família, a casa, a cidade, o estado, o país, enfim, com o tipo de vida escolhida. Como explicar, por que os nórdicos, donos do maior índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do planeta, possuem, proporcionalmente, a maior taxa de suicídio do universo? Contudo, esclareço: não fui eu quem escolheu esse tipo de vida que levo. Não? Deixa a vida me levar, vida leva eu …

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