Quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023 - 12h45
Há muito esta história de
destino perturba a compreensão da juventude esclarecida, muita gente acredita
que o destino já vem pronto, é imutável, como se a estrada da vida não
permitisse atalhos, bifurcações, nem beco sem saída; de certa forma, este
posicionamento contraria a natureza humana, afeita a lutas e conquistas, desde
os primórdios dos sapiens, neandertais, etc. Determinismo, casualismo e livre
arbítrio estiveram nas tribunas iluministas do cristianismo e da Filosofia. Ainda
hoje são o mote da discussão de muitos intelectuais e religiosos, sedentos em opinar
sobre os segredos milenares da existência. Criacionismo ou evolucionismo?
No
fundo todas essas discussões passam pelos cerca de 300 mil anos da evolução
humana: quem sou? qual a razão da cor da minha pele? por que nasci no Sudão e
não na Dinamarca? de onde vim? para onde vou? a morte é o fim ou o recomeço? O
tempo jamais solucionará os segredos da vida humana, porque o longo passado da
pré-história apagou as pegadas. A verdade é a esfinge da esperança:
decifra-me ou eu te condeno a viver em paz, na tua insignificância, pro resto
da vida. Conviver com a ignorância é uma opção.
O
dilema curupírico está em todas as dúvidas relacionadas à existência: não
sei se vou, se fico ou se volto, melhor não ir, vou, mas meus pés estão
invertidos… ao caminhar pra frente, você está andando pra trás e só aí
se lembra: todos os questionamentos da caminhada passam pelas escolhas e, lá
atrás, algo deu errado. Dos chamados não fui o escolhido, faltou
esforço!
O
instante da tomada de decisão, que determinará novos passos, não pertence ao determinismo,
nem ao casualismo e sim ao humanismo, sem certezas predeterminadas. O humano
não lida bem com o “se”, o “talvez”, o “pode ser”; o experimental e o
condicional pertencem ao desejo imaginário: gostaria de eliminar todos os
corruptos, pra estudar a consequência social.
O
olhar para o passado, às vezes, é dramático, melancólico: por que fiz isso e
não aquilo? O mundo das escolhas é uma incógnita insensível: os acertos
reverberam alegrias, as falhas alimentam lágrimas, mas só o esforço pessoal tem
o segredo do cofre. Aí aparece a sorte, uma palavrinha complicada, mais
surreal do que abstrata, querendo contrariar a causa e o efeito. O que fazer
com ela? Se percebê-la, deita na cama dela! Mas tenha cuidado com os estafilococos
gonorreicos, ela adora vagabundos e invejosos.
Em
certas circunstâncias, as escolhas que, aparentemente, estão nos impulsionando,
na verdade estão repercutindo o passado, andando pra frente com os pés do
Curupira, como que ratificando Millôr Fernandes, O Brasil ainda tem um
longo passado pela frente. O escritor minimalista, Viriato Moura,
conta uma história, no livro Imersões no Talvez, sobre um sujeito
que a cada dia colocava mais gravetos secos no quintal de seu amanhã, até
que, num dia de verão ardente, sua vida virou cinzas.
Todo
mundo é diferente e todo mundo é igual: tudo junto e misturado!!! Todos
têm o mesmo dilema, difícil é marcar o X na escolha, sem saber previamente
qual a opção certa ou errada. A tarefa, tão criticada e bem remunerada, dos
astrólogos e dos autores de livros de autoajuda, seria desvendar os segredos do
sucesso, o instante certo em que a força dos astros ou do invisível se
mostrarão. Um tal cavalo branco, selado e paramentado com lacinhos de
esperança, sempre estará sendo aguardado… até quando? Até o cu fazer bico.
Trabalho,
estudo e persistência podem atapetar o futuro das escolhas, basta lembrar que
sucesso é consequência e não objetivo. O resto é resto: especulação e fé em
outros fatores, alheios à compreensão material, contribuindo para o sucesso das
escolhas. Trabalho também é prazer!
O fato
concreto é que nem todos estão satisfeitos com a profissão, com o parceiro, a
família, a casa, a cidade, o estado, o país, enfim, com o tipo de vida
escolhida. Como explicar, por que os nórdicos, donos do maior índice de IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano) do planeta, possuem, proporcionalmente, a maior taxa
de suicídio do universo? Contudo, esclareço: não fui eu quem escolheu esse
tipo de vida que levo. Não? Deixa a vida me levar, vida leva eu …
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