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Crônica

Estelionato eleitoral


Estelionato eleitoral - Gente de Opinião

A mentira/promessa, enquanto matéria prima do discurso político é abominável, mas tolerada, aceita e muitas vezes aplaudida por inocentes espectadores de palanques televisivos ou leitores de fakenews, produzidas pelas mídias sociais, o que escancara o fato de que a compulsividade do estelionatário eleitoral é também um reflexo do eleitorado. Só os demagogos populistas podem satisfazer o desejo, quase sempre impossível, da ingenuidade, e porque não dizer, da ignorância popular. Nada é mais fácil para um político do que prometer benefícios governamentais que não poderão ser cumpridos.

A realidade e os efeitos da mentira são fenômenos pós eleitorais, que causam sofrimento nos eleitores/compradores de ilusões, aí ouvimos pelas esquinas: − fulano me enganou, foi um presidente corrupto, votei nele, mas não voto mais, ou, sicrano me enganou, prometeu que ia acabar com a corrupção no país, mas em menos de dois anos se associou aos piores e conhecidos corruptos da nação. O pior é que vota, o povo gosta de ser enganado, é como se a mentira, ainda que por instantes, o fizesse melhor – um sonhador! − É mais fácil esperar por regalias, privilégios, auxílios e recebe-los do Estado/babá do que tirar a bunda da cadeira e conquista-los.

A principal e irrevogável mentira do estado social democrata é a de que o governo pode fornecer às pessoas aquilo que elas desejam, como se no Brasil fosse possível bater a carteira do gestor público, sem devolver parte do conteúdo, em forma de propina. Infelizmente não existe entre nós uma mentalidade empreendedora protagonista, responsável pelo sucesso, num país em que o protagonismo governamental/empresarial gira em torno da corrupção, via BNDES, juros convenientes, propinas, manipulação das estatais, calotes, benefícios previdenciários, sentenças arranjadas, emendas parlamentares, partidos políticos comprometidos, manipulação de ministérios, etc. Difícil saber em que candidato votar ou qual presidente merece confiança e reeleição.

Os que chegam a um governo democrático, em qualquer nível, acreditando que poderão governar com a ética, sem aderir a prática costumeira dos profissionais da mentira, sentados a direita e à esquerda da corrupção, demoram um pouco, mas logo se conscientizam: a administração não sobrevive sem a sonoridade das falácias. Nem em tempos de pandemia e de gastos extras, com a vida como moeda de troca, os ânimos corruptórios arrefeceram.

Aristóteles disse que o homem é um animal político, mas não previu que a política, enquanto exercício do poder, mediante eleições indiretas, às vezes, tenta fazer do público alvo um ser tetraplégico, uma mera vaca de presépio, daí a necessidade dos movimentos populares. Quem não entende o cinismo que existe na política não entende de política.

Hoje a gente sabe que não se ganha eleição sem grandes promessas e sem milhões de reais, para o Caixa 2. O melhor produto do marketing eleitoral é a promessa, sem ela não existe campanha. Talvez mudar o sistema eleitoral da democracia representativa, ou mudar o sistema presidencialista, seriam soluções, pois o mal do eleitor do século 21 é não se sentir representado. Infelizmente o povo ainda enxerga o presidente da República, como o herói salvador da pátria, o líder dos oprimidos.  A História não se cansa de lembrar da vassoura de Jânio, que não varreu nada, do projeto esquerdopata de Jango, que culminou com o regime militar, dos marajás fictícios de Collor, dos níveis de corrupção de Lula, que mais ajudava países de esquerda do que o Brasil.

Votamos num projeto de direita, tendo a ética do E.B. como garantia e hoje temos que engolir um fanfarrão e um centrão corrupto goela abaixo, sem chances de vomitar. O nosso congresso é tão faccioso que nem o parlamentarismo alimenta a esperança de um país melhor. Os poderes da República não são isentos, são partidários, corporativistas e egocêntricos. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O que fazer, usar a força?

Lamentavelmente somos a vitrine de dois modelos sociológicos repudiados pelas nações politicamente organizadas: a promessa eleitoreira e a infidelidade partidária. Não há compromisso com a verdade, em época de eleição. Prometer é fazer dívida. E a dívida é a mãe de loucuras e crimes. No Brasil, estelionato eleitoral é piada e não crime. Imaginem que dois projetos de lei, em tramitação, visam ampliar o conceito de estelionato, para tornar crime o não cumprimento das propostas de governo, registradas durante a campanha eleitoral, e também às promessas divulgadas pelo candidato, no horário eleitoral, no rádio, na TV e na internet. Isto passa no congresso? Jamais.

 

Ao contrário das mentiras/promessas de políticos, as mentiras/argumentos dos escritores são fundamentais na construção de textos imaginativos, se bem elaboradas, no desenrolar do tema, são convincentes, a ponto de serem registradas, prazerosamente, na mente do leitor, como verossimilhança. Quanta diferença!!! 

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