Terça-feira, 30 de março de 2021 - 14h15
A mentira/promessa, enquanto matéria
prima do discurso político é abominável, mas tolerada, aceita e muitas vezes
aplaudida por inocentes espectadores de palanques televisivos ou leitores de fakenews,
produzidas pelas mídias sociais, o que escancara o fato de que a compulsividade
do estelionatário eleitoral é também um reflexo do eleitorado. Só os demagogos
populistas podem satisfazer o desejo, quase sempre impossível, da ingenuidade,
e porque não dizer, da ignorância popular. Nada é mais fácil para um político do
que prometer benefícios governamentais que não poderão ser cumpridos.
A
realidade e os efeitos da mentira são fenômenos pós eleitorais, que causam
sofrimento nos eleitores/compradores de ilusões, aí ouvimos pelas esquinas: − fulano
me enganou, foi um presidente corrupto, votei nele, mas não voto mais, ou,
sicrano me enganou, prometeu que ia acabar com a corrupção no país, mas em
menos de dois anos se associou aos piores e conhecidos corruptos da nação. O
pior é que vota, o povo gosta de ser enganado, é como se a mentira, ainda que
por instantes, o fizesse melhor – um sonhador! − É mais fácil esperar por regalias,
privilégios, auxílios e recebe-los do Estado/babá do que tirar a bunda da
cadeira e conquista-los.
A
principal e irrevogável mentira do estado social democrata é a de que o governo
pode fornecer às pessoas aquilo que elas desejam, como se no Brasil fosse
possível bater a carteira do gestor público, sem devolver parte do conteúdo, em
forma de propina. Infelizmente não existe entre nós uma mentalidade
empreendedora protagonista, responsável pelo sucesso, num país em que o
protagonismo governamental/empresarial gira em torno da corrupção, via BNDES,
juros convenientes, propinas, manipulação das estatais, calotes, benefícios
previdenciários, sentenças arranjadas, emendas parlamentares, partidos
políticos comprometidos, manipulação de ministérios, etc. Difícil saber em
que candidato votar ou qual presidente merece confiança e reeleição.
Os
que chegam a um governo democrático, em qualquer nível, acreditando que poderão
governar com a ética, sem aderir a prática costumeira dos profissionais da
mentira, sentados a direita e à esquerda da corrupção, demoram um pouco, mas
logo se conscientizam: a administração não sobrevive sem a sonoridade das
falácias. Nem em tempos de pandemia e de gastos extras, com a vida como
moeda de troca, os ânimos corruptórios arrefeceram.
Aristóteles
disse que o homem é um animal político, mas não previu que a política, enquanto
exercício do poder, mediante eleições indiretas, às vezes, tenta fazer do
público alvo um ser tetraplégico, uma mera vaca de presépio, daí a necessidade
dos movimentos populares. Quem não entende o cinismo que existe
na política não entende de política.
Lamentavelmente somos a vitrine de dois modelos
sociológicos repudiados pelas nações politicamente organizadas: a
promessa eleitoreira e a infidelidade partidária. Não há compromisso
com a verdade, em época de eleição. Prometer é fazer dívida. E a dívida é a mãe
de loucuras e crimes. No Brasil, estelionato eleitoral é piada e
não crime. Imaginem que dois projetos de lei, em tramitação, visam ampliar o
conceito de estelionato, para tornar crime o não cumprimento das propostas de
governo, registradas durante a campanha eleitoral, e também às promessas
divulgadas pelo candidato, no horário eleitoral, no rádio, na TV e na internet.
Isto passa no congresso? Jamais.
Ao contrário das mentiras/promessas de políticos, as mentiras/argumentos
dos escritores são fundamentais na construção de textos imaginativos, se bem
elaboradas, no desenrolar do tema, são convincentes, a ponto de serem registradas,
prazerosamente, na mente do leitor, como verossimilhança. Quanta
diferença!!!
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