Domingo, 29 de janeiro de 2023 - 11h48
Saudades do tempo em que as assombrações e medos eram apenas das "estórias de trancoso", contadas por meu avô. Quando a tarde caía e a noite se anunciava nossas banquetas eram dispostas sob as árvores, no nosso quintal, para mais uma sessão daquelas que levavam nossa imaginação para além do real.
Era um cavalo que havia se perdido do dono e depois de dias fora encontrado dentro de uma abóbora degustando suas sementes; um pescador que encontrara uma tainha e esta lhe daria toda riqueza que ele quisesse, caso lhe devolvesse ao mar - até hoje depois de meio século posso ainda ouvir o canto do jovem pescador, entoado pelo meu avó, chamando "tainha, tainha do Reino fundo do mar....".
Foram tantas "estórias" ali contadas e cantadas - eram literaturas de cordel, as eternas na mente...
Para além, ainda ouço a voz do meu pai narrando a saga de uma garotinha enterrada viva por sua madrasta má - uma ciranda que pode ser encontrada nas páginas da internet sob o título de "a menina e a figueira". Eram estórias absurdas - por isso trancoso - e ao mesmo tempo traumáticas. Hoje, na minha reminiscência adulta queria as estórias do meu avô e do meu pai de volta para me agarrar em suas pernas e ser apenas esse meu medo. Na minha meninice não havia tanques de guerra, dizimação de povos, fuga de sua terra natal; nem bala perdida, nem pandemias, nem afronta à ciência; nem fome e nem miséria. Eu sonhava era com romances juvenis, viagens incríveis e amigos para sempre. Agora a memória e a alma dizem baixinho junto com o poeta Casemiro de Abreu: "Oh! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais".
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