Terça-feira, 26 de janeiro de 2021 - 13h11
A gente sabe, uma sociedade
justa, democrática, sem preconceitos e igualitária é uma utopia, mas daquelas
utopias necessárias, que de tanto serem almejadas, acabam deixando ver que
vivemos em uma distopia, um lugar de baixa qualidade de vida, marcado pelo
autoritarismo, pela opressão, pelos preconceitos e pela desesperança,
aniquilando nossos sonhos. A gente também sabe, somos uma sociedade, onde as
diferenças começam a se respeitar, melhorando a convivência. As diferenças não precisam significar divergências (W. Baker).
Os
preconceitos desvirtuam, infamam as relações sociais, ainda assim os estigmas
psicológicos decorrentes vão sendo assimilados na consciência, plasmando novos
conceitos, novo jeito de ser. O racismo brasileiro, por exemplo, é o
preconceito que mais resiste às modificações, principalmente porque o pardo tem
vergonha de reconhecer a sua parte negra e se ofende se alguém lhe retira a
máscara branca.
Muita coisa
está mudando, as TVs e as mídias sociais passaram a dar mais visibilidade aos
negros, que agora aparecem, em destaque, nos noticiários e nas propagandas elitizadas.
Ademais, Hollywood tem aumentado os protagonistas blacks em
quantidades surpreendentes. A poeta Amanda Gorman abrilhantou a posse de Biden
e se apresentou ao futuro como possível candidata à presidência da América. Valores
negros/pretos, aos poucos, vão sendo integrados à sociedade como um todo, como
se uma nova e séria paródia do autor da vida.
“Sou de
uma geração que assistiu esse esvaziamento negativo da palavra negro. A palavra
negro era usada sempre no sentido pejorativo. Houve um trabalho, uma auto nomeação
da palavra negro para esvaziar o sentido negativo dessa palavra. Foi criada uma
semântica de positividade. Isso muito por meio da literatura" (Conceição
Evaristo). A escritora usa com mais frequência o termo negro, mas lembra que, influenciada
pelas novas gerações, passou também a adotar o termo preto, porém: “Prefiro o termo negro. É mais enfático por esse trabalho
de criar um novo sentido, de rebater o sentido negativo da palavra e se afirmar
como pessoa negra em todos os sentidos”.
Atualmente,
com ajuda das TVs, das redes e mídias sociais, o preconceito da moda
visa atingir a idade, daí os neologismos: etarismo, idadismo, ageísmo ou
etaísmo. Vale lembrar que julgar alguém pela idade,
cor de sua pele, por seu gênero, sexualidade, classe social,
origem geográfica, aparência física, religião, comorbidades e deficiências, ou
qualquer outro traço, são formas de preconceito prejudiciais à harmonia da sociedade.
Viver é envelhecer, nada mais (SB).
Madonna aos
62 anos já é chamada, pejorativamente, de velha e gagá. Esses
qualificativos reforçam o negativismo em relação à velhice, que não é vista,
pela juventude, como um processo natural da vida. O envelhecimento do outro
aparece como um mecanismo de defesa. Segundo os estudiosos, as bases do etarismo
estão fundadas no negacionismo, no sentido de não se conseguir lidar com a
alteridade, de não enxergar algum aspecto nosso no outro. A especialista em
gerontologia social, Natália Carolina Verdi, afirma, categoricamente, que “considerar
a velhice do outro é considerar a nossa própria. Considerar uma fragilidade e
uma vulnerabilidade no outro é integrá-las à nossa própria finitude. A questão
da velhice está muito ligada à finitude. Existe essa dificuldade da sociedade
em lidar com a morte, conclui Verdi." Tire o
seu preconceito do meu caminho, eu quero passar com meu amor.
O aumento
da longevidade, acompanhando os avanços científicos, tem influenciado
positivamente na produtividade do ser humano, pós sessenta. Se fizermos uma
pesquisa rigorosa vamos encontrar inúmeros senhores (as) com um nível de
produtividade, hoje, maior do que certos jovens, além de serem dotados do quesito
experiência, essa longa e bela estrada da vida, que só se mostra
a quem a percorre. Um provérbio sueco diz: não
jogue fora o balde velho até que você saiba se o balde novo segura água.
E se alguém acha que para
se chegar a velhice é preciso muito esforço, veja este diálogo: O repórter pergunta ao velho Churchill, aos 90 e poucos anos:
- Churchill, qual o segredo dessa longevidade?
- O esporte, meu caro, o esporte... nunca o pratiquei.
Encerrando esta idiotice de
preconceito contra velhos, recorro à velha e sagrada Bíblia, cheia de ícones
com mais de cem e um com quase mil anos: Por isso não desanimamos. Embora
exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados
dia após dia (2 Coríntios 4:16).
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