Segunda-feira, 20 de dezembro de 2021 - 17h57
A evolução do homem, ao longo
do Universo, trouxe com ela a fascinação pela previsão do futuro, como se antever
o amanhã fosse fundamental ao sucesso, em qualquer campo da atividade humana. Impressiona
como essa preocupação com o vindouro é antiga, algo como conhecer, antecipadamente,
passo a passo, o destino da humanidade. A exclusividade de tal conhecimento
poderia ser a fonte de mais um poder, transformando o homem num deus.
Consultar o mapa astrológico, jogar cartas do
Tarot, runas, búzios, observar a numerologia, oferecer a mão a uma cigana,
consultar os oráculos de uma Pitonisa, aquela que fala em nome de um deus,
enfim! o homem desafiou a sua própria inteligência em busca de respostas,
porque não se conformava com aquilo que lhe fugia ao entendimento. Por ser o
mais inteligente dos animais queria interferir em tudo, inclusive nos
acontecimentos da linha do tempo. As
civilizações antigas consultavam oráculos para diversas finalidades, mas a mais
costumeira era pra saber quem venceria uma guerra, da mesma forma como hoje
existe a preocupação para saber quem vencerá a eleição de um país.
O politeísmo dos oráculos, no mundo antigo, foi
desaparecendo aos poucos, assim que o monoteísmo judaico-cristão foi expandindo
sua influência. As previsões das pitonisas as vezes tinham duplo sentido ou
careciam de interpretação. Diz a lenda que Creso, rei
da Lídia, consultou o oráculo antes de atacar o Império Aquemênida e, de acordo com Heródoto, recebeu a seguinte resposta: "Se lançares a guerra um
império cairá." Creso atacou, entendendo que seu inimigo cairia,
mas foi derrotado e seu império pereceu, ratificando a previsão e o prestígio
da pitonisa.
A Astrologia, considerada a mais antiga técnica de previsão, nasceu, há
mais de 4 mil anos, na Índia, China e, um pouco mais tarde, entre os Maias, na
América Central. Tais técnicas de observação dos astros foram aperfeiçoadas na
Mesopotâmia, 18 séculos antes de Cristo, e dali exportadas para a Grécia,
Egito, Roma e posteriormente para os árabes e Europa Central.
Por mais que o mundo tenha evoluído, por mais que a Filosofia, com a
dialética de Hegel (1770-1831), tenha nos ensinado de forma mais racional e
inequívoca, que a História possuía movimentos próprios e que somos todos frutos
de circunstâncias aleatórias, ainda hoje muitos espertalhões exploram a parte
do ser humano que insiste em permanecer em “estado de inocência”,
interpretando, lendo ou ouvindo aquilo que lhe é conveniente. Na Política
partidária e representativa, tenta-se convencer a opinião pública, baseando
suas previsões futuristas, em pesquisas de amostragem, mediante utilização de
linhas telefônicas, com resultados nem sempre convincentes, mas que influenciam
os votos dos ignorantes e indecisos.
Vale lembrar a fervorosa interferência da igreja católica na ação de
adivinhação e intervenção ativa do futuro, prometida pelas feiticeiras. Desde a
Idade Média que os padres insistem em priorizar o celestial, apaziguando e
distanciando o contraditório: o futuro a Deus pertence. Contudo o Cristianismo,
o Islamismo, o Judaísmo, a Fé Bahá’I, etc. estão cheios de profecias e profetas,
aqueles que falavam em nome de Deus, além dos falsos ou pseudo profetas, aqueles
que se diziam inspirados pelo Espírito Santo. O nome e a figura do Falso Profeta, repetido 3 vezes no livro do
Apocalipse, é um dos maiores mistérios da escatologia.
Num passado não muito distante, em pleno século 17, as leis inglesas permitiam
que um advogado pedisse ao juiz a amenização da pena de um réu, baseado no
inferno astral, comprovado com mapas astrológicos, vivido por ele, no momento
do crime. Só a partir do final do século 20, surgiu uma ampla concepção
filosófica afirmando, sem nenhum pudor, que somos guiados, ao longo da linha da
vida, pelo acaso. Ou seja, não dava mais para prever grandes segmentos do
futuro.
Existem hoje milhares de autores e estudiosos acadêmicos que se encaixam
na lógica de ensinar a não prever, e sim a construir um futuro, baseado em
estatísticas, consultorias, relações humanas, marketing, esquecendo de vez a
orientação de astrólogos, curiosos e pessoas do mesmo naipe, fugindo de forças
metafísicas, astrológicas e sobrenaturais.
Por mais que as ciências contestem, a gente pode encontrar pessoas
especiais, possuidoras de intuição forte, médiuns, etc. Algumas capazes de
prever parcialmente um ou outro evento, ou usar a ficção científica,
para imaginar máquinas ou projetar situações no futuro, como Arquimedes, Michelangelo,
Júlio Verne, Edgar Cayce, Nostradamus e tantos outros. Em quase oito bilhões de
humanos, habitando o planeta Terra, é natural que alguns se sobressaiam no
campo do sobrenatural, mas são raríssimos e nem sempre tiram proveito
dessa característica. Os profetas, os videntes contemporâneos são
majoritariamente oportunistas.
Por outro lado, o ser humano é tão obcecado pelo fator adivinhação e
pela característica divina das profecias, que diante de fatos costumeiros, às
vezes com resultados já conhecidos, insiste em dar a sua opinião sobre-humana: “Eu
bem que avisei que isto iria acontecer, não quis me ouvir, deu no que deu”.
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