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Humanidade - Gente de Opinião

O holandês, Rutger Bregman, autor de Utopia para Realistas, lançou recentemente no Brasil seu livro mais comentado na Europa e EUA − Humanidade: uma história otimista do homem. O autor é considerado um dos proeminentes pensadores da atualidade. Na minha visão de leitor, um livro completa o outro, mostrando uma nova perspectiva da humanidade que, de certa forma, confirma o pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau: o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, ou, o homem nasce livre e a sociedade lhe coloca correntes. Para Bregman, “Individualmente, os humanos não são tão inteligentes. O que nos distingue é que podemos cooperar como nenhum outro do reino animal”.  É um mito considerar que, por sua própria natureza, os seres humanos sejam egoístas, agressivos, e que rapidamente entrem em pânico.

Embora com novos argumentos, aceitáveis cientificamente, é fatigante contestar, em dois volumosos exemplares, a essa altura do campeonato, pensadores antigos e modernos, pela assertiva de que os seres humanos, em sua expressiva maioria, são maus, egoístas por natureza e agem pensando no interesse próprio. Segundo o conceituado historiador, o ser humano, enquanto Homo sapiens, foi programado para ser bom, cooperativo, porém, a partir da descoberta da agricultura, do conceito de propriedade e da competição, os relacionamentos começaram a se deteriorar, moldando parte do atual pensamento ocidental. Bregman não concorda com o resultado da evolução e apresenta uma nova visão, um jeito novo de encarar as coisas. Segundo ele, acreditar na humanidade, na generosidade e na colaboração entre as pessoas, não é uma atitude otimista – é uma postura realista. Tarde, mas não tarde demais! Contrariando Nietsche, a esperança não se cansa de acenar.  

Em se tratando de Brasil, a análise feita sobre a maioria da sociedade tem resultado diferente daquele feito sobre individualidades, daí porque é difícil uma postura realista que passe pela crença num político honesto e solidário, num ministro bem intencionado, num economista querendo diminuir as distâncias sociais, num médico preocupado em salvar ou curar vidas, despretensiosamente, ou noutro profissional qualquer, totalmente altruísta. Esta é uma viagem sem retorno. No entanto o povo brasileiro é um povo bom, honesto e solidário. Nenhum partido de direita, de esquerda ou de centro, está preocupado com as respostas aos questionamentos sobre a sociedade, o trabalho, a felicidade, a justiça e o dinheiro. “Os pactos, sem a força, não passam de palavras sem substância para dar qualquer segurança a ninguém” (TH). Primeiro os meus, depois os teus.

As descobertas visionárias do Bregman são bem vindas, mas o efeito seria maior se o mundo estivesse começando agora, com novos e iniciantes marcos civilizatórios. Do contrário, necessitaremos de mais de mil anos só para consertar os estragos que a escravidão fez ao mundo, em épocas e regiões diferentes. Enxergar humanidade na humanidade, sob a perspectiva de que a maioria humana é decente e solidária é uma reflexão válida e funciona como um contraponto ao bombardeio de notícias ruins, emanadas de dirigentes maus, mas não muda muita coisa, apenas confirma que a generalidade de Hobbes − O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos não é verdadeira, realmente não somos todos maus, logo não somos insociáveis, mas precisamos renovar constantemente o pacto social, cuja premissa maior é a liberdade, fugindo assim ao totalitarismo absolutista, imaginado por Thomas Hobbes, no Leviatã.

Em várias partes do universo, são muitos os humanos que navegam contra a maré de maldade, promovendo o bem com ideias criativas, como os projetos de ajuda ao próximo, promovidos pelo procurador federal Reginaldo Trindade, com a ajuda de outros confrades/acadêmicos da ARL, como o juiz Dimis da Costa Braga e o sociólogo Abel Sidney, além das instituições não governamentais, que, nesses tempos difíceis de Pandemia, cuidam para que não falte pão na mesa dos invisíveis, nem na do trabalhador desempregado, que vive à espera da democratização das vacinas. Ademais as ajudas do pobre ao pobre, repartindo o pouco que consegue, são exemplos de que realmente há algo de bom na essência humana.

Gente boa existe nos quatro cantos do mundo, mas as lideranças nacionais foram corrompidas pelo formato anterior, com pensamentos e estudos científicos que interferiram nas sociedades, por centenas de anos: “As fronteiras são a maior causa de discriminação em toda a história mundial. As lacunas de desigualdade entre pessoas que vivem no mesmo país não são nada em comparação com aquelas que existem entre cidadãos globais separados geograficamente” (RB). No século XXI, a verdadeira elite são aqueles nascidos não na família certa ou na classe certa, mas no país certo.

Os sapiens até podem ter nascidos com a mesma essência de bondade, mas as sociedades, inexplicavelmente, sob uma premissa falsa, evoluíram de formas diferentes, amenizando os efeitos da bondade sobre a humanidade. A descoberta do estudioso é fascinante, mas soa como algo pensado sob a premissa de que a ociosidade é a mãe da filosofia.

Nos livros do holandês, transparece uma grande dose de decência humana e acreditamos nisso. Sabemos que são muitos os que alimentam dentro de si o lobo bom e solidário, mas, infelizmente, convivemos com uma minoria, formadora de opinião, que comanda a alcateia, interferindo nos destinos do homem. Talvez, durante a caminhada existencial da humanidade, alguns despreparados, que se tornaram dirigentes de nações, foram atingidos por pedradas, advindas do próprio ego freudiano, que lhes atingiu em cheio a bondade, a decência e a solidariedade, inerentes ao ser humano. Impressões sensoriais não bastam para modificar a humanidade.

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