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Gente de Opinião

Crônica

Janela de duas bandas


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Há algum tempo venho escrevendo sobre as vistas das janelas, inclusive publiquei um livro titulado De Que Me Vale a Janela Sem a Vista? Nesta última eleição para presidente, devido à polarização, fui obrigado, pela sensatez, a dividir minha janela em duas bandas, contudo, melhor seria que a dividisse em três. Uma janela multivistas, retrataria melhor nosso Brasil varonil da esquerda, da direita e dos que não são nem uma coisa nem outra, identificados como Centrão ou qualificados como oportunistas.

Tudo no mundo obedece à lei da evolução, inclusive a política. Se recorrermos à mestra História, veremos que o comunismo, do tenentista Luiz Carlos Prestes e tantos outros revolucionários esquerdistas, já bateu à porta da nossa Nação, por mais de uma vez. Em 1932 Getúlio os derrotou em São Paulo; em 1964 foi a vez dos militares.

Vale lembrar que todas as pautas sociais e trabalhistas, ditas de esquerda, foram atendidas pelo “ditador” Getúlio, mostrando, sim, que as grandes conquistas sociais brasileiras vieram da direita. O povo gostou tanto de Getúlio que o reconduziu, pelo voto direto, ao governo do país, em janeiro de 1951.

Depois da 2ª Grande Guerra, o assassino Stalin, com a complacência dos Aliados, criou a Cortina de Ferro, dividindo e condenando o Leste da Europa a viver na pobreza, sem liberdade, sob a tutela de uma feroz ditadura, amparada no utópico marxismo. Foi nessa época que se popularizou, no Brasil terceiro mundista, termos como imperialismo, capitalismo selvagem, burguesia, estatização, reacionário, fascismo, nazismo etc. Alguns destes emprestados da Revolução Industrial.

Houve uma época, que as ideias de Marx e Engels se mostravam ao mundo, como a solução para todos os problemas sociais. Aos menos esclarecidos, a Rússia aparecia como modelo comunista para o mundo. Quarenta anos depois da 2ª Guerra, a queda do muro de Berlim (1989), escancarou o desastre do regime comunista, revelando ao mundo o que se escondia por trás do portão de Brandemburgo. A vitrine do comunismo foi estilhaçada pelo sucesso das nações que viviam do outro lado da Europa e adotaram o livre comércio, a privatização, a democratização e a criatividade do povo, para sair de uma crise. No Brasil, Um pouco antes (1980), Luiz Carlos Prestes rompeu com o PCB, mediante uma carta famosa, onde reconhecia o fracasso do comunismo no mundo: “Embora o marxismo não me dê o dom da profecia, é fácil prever que as medidas não darão certo.” L.C.P.

Pois é, grandes escritores, como Jorge Amado, jornalistas de escol, como Paulo Francis, renunciaram ao comunismo, porque viram que tudo não passava de uma utopia, a mais absurda das utopias, usada para convencer a juventude, sempre dada a ouvir o canto da sereia: a gente sempre achava que a revolução do proletariado resolveria todos os problemas das distâncias sociais. No mundo moderno, Socialismo e Liberalismo podem se alternar no poder: com o mínimo de boa vontade, podem caminhar juntos, ajudando o governo a minimizar os problemas estruturais da economia de um país, onde convivem milionários, ricos, medianos, pobres e miseráveis. Com a enorme diversidade política, é praticamente impossível que as expressões “direita” e “esquerda” consigam englobar a pluralidade de conteúdos e pautas existentes no mundo atual.

Por isso, ao abrirmos as duas bandas da nossa janela, esquerda e direita, divisamos vistas de conteúdos entrelaçados, basta observar a administração bipartidária dos EUA com o presidencialismo ou a de vários países da Europa com o parlamentarismo, atendendo as necessidades do povo, satisfatoriamente. Sem grandes brigas, sem ódios e com um mínimo de agressão. A evolução vai aos poucos minimizando as distâncias dos pensamentos de Edmund Burke (Conservadorismo) e Thomas Paine (Pensamento Progressista), de tal forma que é quase impossível dizer, fora dos parâmetros da Revolução Francesa, qual pensamento é mais benéfico ao sucesso de uma administração. Basta observar que muitos países parlamentaristas, para serem bem governados, aceitam composições com partidos conservadores e progressistas.

Infelizmente, no Brasil, as vistas da terceira banda passam pela corrupção, não se faz composição, para melhor governar, sem retorno, é como se fosse um leilão, onde são oferecidos parlamentares de 37 partidos que possam dar sustentação ao governo que ganhou a eleição. Vale salientar que eu e 58 milhões de brasileiros votamos contra Lula, não só por ele se posicionar à esquerda, não só pelo complô formado pelos ministros do STF, visando seu retorno ao poder, mas por ele ser o agente da corrupção absurda que vitimou o Brasil, nos anos em que governou o país. Ainda que saibamos que a corrupção é endêmica, não se justifica. Qualquer candidato vencedor, para governar, terá que se sujeitar ao Centrão. Se correr o bicho pega se ficar o bicho come. Algo está errado e precisa ser corrigido: não vejo vistas alvissareiras, nessa banda da janela, parece que o povo brasileiro deixou no passado sua força revolucionária e justiceira.

O que não dá é conviver com gente da mente costurada, que mesmo fazendo parte de uma confraria apartidária, mesmo sendo advogado, funcionário da Justiça Federal, se aborrece, estupidamente, porque um jornalista noticiou na Folha do Sul (Vilhena) que, em Rondônia, Bolsonaro ganhou em todos os municípios, isso sem comentários contundentes. Foi o suficiente para despertar a sanha esquerdista do caro confrade, chamando os eleitores de reacionários, como se conservador fosse um palavrão. Depois bateu a porta da instituição que o acolheu, sem perguntar se ele era de esquerda ou de direita, e saiu do grupo de WhatsApp, não antes de assinar seu palavreado contestatório, usando a mesma liberdade constitucional, que foi dada ao jornalista da Folha do Sul. Pois bem, esse cidadão, por quem tenho enorme apreço e admiração, visto ser ex-aluno, com certeza é defensor das liberdades, de imprensa e de expressão, mas não aprendeu a controlar seu ódio ao ranço autoritarista do candidato perdedor. A raiva, antes considerada matéria prima da direita, aflorou na esquerda, advinda das vistas da ideologia esquerdopata, soterrada pelos destroços do portão de Brandemburgo.

    

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