Sexta-feira, 8 de julho de 2022 - 12h27
Altas
torres, bonitas janelas, abrem e fecham, ninguém chega nelas. Ao
olhar para o céu, em dia de tempestade, eu me extasiava com a beleza dos
relâmpagos, mas a vista não me metia medo, como se o medo inerente não me
entrasse pelos olhos, mas pelos ouvidos. Eram os trovões que me empurravam para
debaixo da cama, segundos depois do clarão.
As tempestades, apesar de temidas, são bem vindas ao sertão
nordestino. Instantes depois que elas esmaecem, as ruas se enchem de meninos,
chutando a água, tomando banho com os restos da chuva, inebriados com a
presença do líquido raro e vital. A chuva ilumina até mesmo o sorriso de um
adolescente com poucos dentes, escorado na janela, esperando o dia da colheita
e a possibilidade de visitar o protético.
No meu
tempo, acompanhar barquinhos de papel, enxurradas abaixo, era de uma alegria
ímpar, não só para mim, como também para os meus pais e vizinhos: a água
umedecia o rico solo, esverdeava o futuro da paisagem, repercutindo a
satisfação de quem olhava pelas janelas e via os açudes cheios, o dinheiro
brotando da terra em forma de feijão, milho, frutas, verduras, capim pro gado, um
ciclo se cumprindo.
A
vista da janela da seca é como a página de um livro de terror, instala o medo
de morrer de fome, descortina preocupação de toda ordem, pinta a vegetação de
cinza e admoesta o futuro do sertanejo. Os dias de estiagem vão passando as
páginas do pavoroso livro, mas não conseguem afastar o suspense do risco de se
perder a vida, instalado na página de cada um.
Às
vezes a água em demasia provoca enchentes, desbarranca as encostas, destrói
casas construídas em locais indevidos, mas a mãe natureza não tem culpa da
incompetência de nossos governantes, da necessidade de se ter uma casa pra
morar, nem da ingenuidade de quem constrói no barranco, mesmo sabendo que um
dia a casa vai cair e vai levar seus moradores, barranco abaixo. É a lei humana
da sobrevivência dos mais humildes: ou morre de sede, ou morre de fome, ou
morre da cheia, mas a água faz parte da cabala da vida, não pode faltar.
A
tempestade nordestina, com fortes e continuadas chuvas, embeleza as linhas da
trama da vida humana, anuncia os frutos da continuidade, alimenta os sonhos e
permite a renovação ilusória da esperança, dando a sensação de que alguém, do
alto, faz da gente a vista da janela da fé:
Meu divino São José
Aqui estou a vossos pés
Dai-nos chuva com abundância
Meu Jesus de Nazaré
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