Terça-feira, 16 de março de 2021 - 16h37
Alguns filósofos dizem que
dentro de cada ser humano existe um senso de justiça subjetivo, ou seja, a
gente já nasce sabendo o que é certo e o que é errado. Há quem afirme que
justiça é a liberdade em ação. É fato, todavia, que nenhum conceito foi/é mais
deturpado ou camuflado do que o de justiça, comprometendo a institucionalização
legal da base da sociedade democrática, como se para cada caso a espada da justiça
usasse uma bainha diferente, além de uma balança sem fiel e os olhos tendenciosamente
abertos. Ademais em países terceiro-mundistas a lerdeza da justiça sempre
esteve intencionalmente de conchavo com a injustiça. A justiça é a
conveniência do mais forte.
A abstração do conceito moral
dificulta a definição, daí porque as pessoas entendem o seu significado, mas
não sabem explica-lo corretamente, ou correlaciona-lo com a norma vigente, principalmente
quanto ao entendimento de que todos são iguais perante a lei. A gente
sabe que a justiça varia de região para região e obedece a circunstâncias
particulares de cada cultura.
O conceito vem evoluindo desde
a antiguidade, estava na preocupação dos filósofos gregos − justiça natural;
estava nos livros sagrados − justiça divina. A justiça natural tem pontos positivos, ainda assim é falha e
um reconhecimento disso é a própria organização das sociedades e os seus
códigos de leis. A justiça social, por exemplo, possui particularidades,
determinadas pelo sistema econômico e a cultura do país em questão. O que é bom
para os EUA nem sempre é bom para o Brasil. Este é um assunto difícil de ser tratado
superficialmente. Quando a fome e a vontade de comer colocam armas e argumentos
em nossos apetites questionadores, só escrever não resolve.
A
nosso ver o problema da justiça brasileira está nas duas pontas da lei, a feitura
e a aplicação – quem faz e quem aplica – entre as pontas,
confortavelmente estabelecidas, se determina o destino de um ser humano, sem um
critério razoável, mas contaminado por interesses particulares, partidários e
vergonhosos. Vejamos o exemplo de uma servidora, que foi sentenciada por uma
juíza a cumprir pena de 20 anos por cobrar propina de cerca de R$ 350,00, para
liberar veículos apreendidos pela Ciretran de Vilhena-RO. Prefeitos, da mesma
região do estado, foram flagrados, ao vivo e em cores, recebendo vultosas
propinas, mas logo foram soltos pela 2ª instância, estão rindo agora da cara
dos eleitores. Dois pesos e duas medidas ou interpretações arranjadas
pelo poder econômico?
A
concentração dos processos da Lava Jato em Curitiba talvez tenha sido um erro da
JF, da PGF, do STF e do próprio ministro Fachin, entretanto passar cinco anos
para corrigir esta falha, foge à compreensão de simples mortais do direito.
Vamos esperar para ver como se comporta a justiça federal de Brasília, se a
prescrição não chegar primeiro. Anular todos os processos da Lava Jato, em
Curitiba, inclusive com julgamentos finais em 2ª e 3ª instância, é o absurdo
dos absurdos. Parece mais uma sentença da Política e não da Justiça. Não
devemos esquecer que bilhões de dólares foram devolvidos aos cofres da nação
por sentenças originadas em processos da justiça federal de Curitiba e São
Paulo, ligados a Lava Jato. Errar é humano, mas permanecer no erro por
mais de cinco anos é diabólico.
No
Brasil, as leis envolvendo crimes de corrupção, são feitas para serem
questionadas, o que relativiza o poder da 1ª instância, ameniza o rigor nos
processos e prioriza o poder econômico, acolchoando o paredão da moral e
enchendo com pólvora seca o fuzil da hombridade e da justiça. Quem pode pagar
bons advogados, envolvendo as instâncias superiores, não vai pra cadeia; e
quando vai é apenas por um tempo irrisório, como um cala-boca aos ingênuos
cidadãos, que sustentam, com seus impostos, os descaminhos da toga. Se a
justiça é o direito dos mais fracos, a injustiça tem sido o direito dos mais
fortes. Nunca na história deste país a justiça foi tão
vilipendiada, percorrendo um caminho alternativo entre o certo e o errado,
usando uma nova espécie de jurisprudência, que inverte os valores humanos. Viva
a sociedade alternativa, viva − viva. Faça o que tu queres pois é tudo da lei… (Raul
Seixas)
Um
país com mais de 200 milhões de habitantes, vivendo num regime razoavelmente democrático,
com corrupção endêmica, sofrendo com a maior Pandemia da história, que trata seus
sérios problemas político/administrativos, tomando regularmente corruptoquina e
banhos de descarrego na Lava Jato, conseguindo com isso desmascarar as
quadrilhas de gestores públicos e políticos, não pode continuar à mercê da
injustiça e da pilantragem política. A parte boa da sociedade,
inclusive gente do poder judiciário, até se preocupa em semear paz e justiça,
para colher dias melhores, mais justos, sem a indignação causada por
injustiças. Mas a tolerância tem
limites, às vezes somos obrigados a concordar com Eva Peron: “A violência
nas mãos do povo não é violência, mas justiça”.
As elites, política, jurídica,
dinheiral, jamais vão se preocupar, com a resolução dos problemas humanitários,
decorrentes da corrupção no Brasil, pois elas são beneficiárias. Sabendo do
povo pacífico que habita nossa pátria, resta, a esse escriba de ficção, invocar
a “Liga da Justiça”, para que venha nos ajudar: Socorro!!! Superman, Batman,
Aquaman, Mulher Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Caçador de Marte e Ciborgue.
Salvem o nosso país verde e amarelo. Se por arrogância eles não aparecerem,
temos que nos conformar com a nossa “Liga Caseira”: Socorro!!! Mapinguari,
Curupira, Cobra Grande, Iara, Saci, Caboclo Sete Flechas, Tranca-rua e Pomba
Gira. Se ainda assim não nos ouvirem, resta apelar ao místico: Valei-me
meu Senhor do Bonfim.
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