Segunda-feira, 5 de agosto de 2024 - 14h29
Rondônia se torna referência
político-administrativa da região Norte, a luminosidade no quarto indicava que
a manhã já estava avançada. Tentou
voltar a dormir. Mas, sem sucesso, se levantou.
Foi ao banheiro e fez sua higiene pessoal. Saiu do
quarto, foi até a cozinha, tomou um cafezinho sem cumprimentar a esposa, que, àquela
hora, já cuidava do almoço. Ouviu o barulho das crianças: “devem estar
brincando, ou assistindo TV” – pensou.
Voltou ao quarto, vestiu bermudas e camiseta e
saiu.
Raciocinava sobre sua vida, seu casamento que,
bastante desgastado, ia de mal a pior.
Não se sentia culpado; afinal, vivia só para
trabalhar e assim, suprir qualquer necessidade da família. Mas, ultimamente, as
coisas estavam difíceis. Não aguentava mais. Até evitava vir direto do trabalho
para casa, preferia ficar nos bares com os amigos do que chegar cedo e ouvir a
mulher, sempre insatisfeita, reclamar por qualquer motivo. Sem vontade nem
assunto, quando tentavam conversar acabavam brigando.
Saiu de casa e se dirigiu ao bar da esquina. Lá
tomaria umas cervejas e depois voltaria para casa para almoçar e tornar a
dormir. “Melhor assim” – pensou.
Parou na calçada. Olhou para um lado e viu que não
vinha nenhum veículo. Ao olhar para o outro lado, mal conseguiu manter os olhos
abertos. O sol, muito forte, cegou-o como se fosse um flash que não se apagava.
Colocou a mão espalmada sobre os olhos e tornou a olhar. Ainda assim, mal via a
rua. Firmou mais a vista e viu que não havia nenhum veículo. Começou a
atravessar a rua. No meio da travessia sentiu que algo o envolvia, ou passava
por ele. Não soube definir o que era, só sentiu que “aquilo” encostara nele.
Era como uma sensação.
Terminou a travessia da rua sentindo como se o sol
agora estivesse em todos os lados do seu corpo formando um enorme círculo ao
seu redor. Na calçada, virou-se para a esquerda e começou a caminhar em direção
ao bar.
Foi quando viu, no outro lado da rua, a sua casa.
Andou mais um pouco, olhou novamente e então constatou, surpreso, que ele
continuava no mesmo lugar em relação à sua casa. Só aí se deu conta que algo
estranho acontecia. Olhando para a frente verificou que tudo estava nebuloso,
enquanto que ao olhar para trás nada conseguia ver por causa da luz forte do
sol. Era como se as únicas coisas que existissem fossem: ele, sua casa, a névoa
e o sol. Teve medo, ou quase isso, não tinha certeza. Seu corpo se arrepiou.
Resolveu voltar para casa. Começou a caminhar, mas
não conseguia sair do lugar mesmo dando os passos. Neste momento viu que a
porta frontal de sua casa se abria e, por ela, ele passava levando duas malas
em direção ao carro. Como era possível? Se ele estava ali, no outro lado da
rua, como podia se ver saindo da própria casa? Mas não teve dúvidas, era ele
mesmo.
Pelo semblante e o andar, sabia que estava com
muita raiva. Viu que gritava e gesticulava como se estivesse numa discussão.
Viu que entrava no carro, enquanto, da casa, pela porta da sala, saíam seus
dois filhos, chorando e o chamando, apelando para que não fosse embora. Viu
que, mesmo diante dos apelos das crianças, não lhes dava atenção. Viu que ligava
o carro e o motor roncava forte. Se viu saindo em arrancada, sem atentar para
uma carreta que vinha, à média velocidade, em sentido contrário.
O choque foi inevitável. O automóvel perdeu toda a
metade frontal e encolheu como uma sanfona se fechando. Pedaços voaram para
todos os lados.
Ele, sem conseguir sair do lugar, via os filhos
correrem, aos gritos, em direção ao carro. Viu a esposa sair de casa,
desesperada. Ele tentou correr, se esforçou, mas continuou no mesmo lugar vendo
as coisas acontecerem. Desesperou-se. Sentiu a vista ficar turva e tudo em sua
volta girar. Caiu, desacordado.
Acordou em sua cama. Levantou-se atordoado, tonto,
assustado. Foi, rapidamente, até a cozinha e viu a esposa preparando o almoço
de domingo. Aproximou-se, abraçou-a e deu-lhe um leve beijo. Nos olhos,
lágrimas teimaram em vir. Ele então sussurrou no ouvido dela: “Desculpe!”,
ainda que achasse que ela não entenderia.
As crianças faziam barulho num quarto. Deviam estar
brincando. Ou vendo TV.
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