Domingo, 26 de maio de 2024 - 08h25
Chamava-se Anselmo.
Anselmo Tavares. Era católico e nascera em Macieira de Cambra.
Frequentara, na
adolescência, o Seminário; não no intento de singrar na vida, mas por sincera
vocação.
Porém não se ordenou.
Não o deixaram, porque corcovava demasiado, devido a enfermidade da coluna
vertebral.
Tentou ser funcionário
público. Nessa recuada época, para o ser, bastava consultar o " Diário da República",
e apresentar a dementação necessária.
Enveredou pelos CTT,
chegando com dedicação e espírito de liderança, a quadro superior.
Seu gabinete era visitado pelos humildes
trabalhadores, que aflitos, procuravam proteção, e conselho amigo - fosse
profissional ou familiar.
Chegado à idade da
reforma, amigos homenagearam-no. Durante o almoço de despedida, ofertaram-lhe
Bíblia de Altar, ricamente ilustrada.
De todos se despediu e,
todos se despediram dele. Ao descer a escadaria da Central do Porto, que
desemborcava na rua do Bonjardim, trabalhador de olhos aguados, bradou
emocionado:" Lá se foi o último Senhor dos CTT!..."
Deparei-o, certa
ocasião, na rua Formosa, no Porto. Caminhava, pensativo, corcovado, de olhar
apagado e triste:
Disse-me, amargurado,
com leve sorriso bailando nos lábios: " Ando na reforma agrária, no meu
quintal!... Pensava prosseguir a minha atividade, que tanto gostava, na paróquia,
mas delicadamente insinuaram: chegara o tempo de descansar..."
Décadas depois, em
tépida manhã de primavera, topei-o na rua de Santa Catarina. Passeava, ainda
mais curvado e com bengalinha:
- " Andava a
podar, no quintal, desequilibrei-me e estatelei-me. Fui para o hospital, em
cadeira de rodas. Disseram-me que dificilmente andaria..."
Era homem de fé: orou,
pediu suplicou e corou-se.
Ficou viúvo. As filhas
não o internaram num lar. Amavam demais o pai. Recolheram-no em suas casas.
Certa vez confessou-me
verdade, que todos idosos conhecem:
"Casa dos pais é sempre a dos filhos, mas a dos filhos nem sempre
é a dos pais."
As filhas eram jovens,
queriam intimidades...
Convidou-me, pelo
telefone, para encontro numa confeitaria, em Gaia.
Ao chegar, havia
pratinho de bolos secos e dois cafezinhos. Estava acompanhado pela filha mais
velha. Palestramos animadamente.
Semanas depois, recebi
telefonema. Era da filha: pai caíra. Levado ao hospital verificaram que não era
grave, mas atacou-o uma virose, como estava fraco, faleceu.
Assim desapareceu um
grande apóstolo do Evangelho, que certa vez confessou-me: " Se pudesse,
ainda queria ser padre!..."
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