Sábado, 11 de janeiro de 2025 - 14h34
A indignação é um sentimento
que ultrapassa os limites da revolta pessoal, é o que transborda do medo, da
tristeza, da raiva, do nojo. Nenhum meme causou mais impacto nas mídias
sociais do que a reação espontânea, tensionada pelos músculos da face,
estampada nos olhos furiosos, que ditaram, em voz contundente, a frase da
garotinha Patrícia Veloso, 9 anos de idade, descoberta, recentemente, pela
imprensa, quando ela já estava com 47 anos – Que show da Xuxa é esse?
O meme foi tão forte que
centralizou a atenção de todas as classes, de todas as idades, de todos os
graus de educação, invadiu os dicionários singulares e, num misto de vídeo e
texto, passou a ser um forte sinônimo de indignação.
Se alguém da direita está
inconformado com as atitudes do Xandão, dentro do STF, basta colocar uma peruca
imaginária da Xuxa, na careca do ministro, e perguntar: Que xou da Xuxa é
esse? Aliás, esse país virou mesmo um xou da Xuxa. Como não rir e não
se indignar com a condenação e absolvição de um morador de rua, preso como
golpista do 8/01 e, dois anos depois, liberado, com a declaração de “foi por engano”.
Que justiça é essa que só se engana, quando lhe é conveniente, quando é para
melhorar sua aparência, diante do povo? Por que não prenderam todos os
militares, inclusive os oficiais do exército, que davam suporte ao acampamento,
na porta do quartel do exército, em Brasília? Em vez disso, prenderam a imbecil
massa de manobra, depois que ela foi incitada a invadir as
instalações dos três poderes.
Prender os autores do plano
“punhal verde e amarelo”, por absoluta incompetência em dar um golpe, até acho
justo, mas mandar prender os idiotas, que estavam acampados na praça do quartel
do exército, acho ridículo. Que armas aqueles coitados possuíam, na hierarquia
da vida, a não ser o “oba-oba” e a ingenuidade de que, destruindo as
instalações dos três poderes, demonstrariam força e os militares, na calada da
noite, os ajudariam a recolocar o capitão no poder?
Em Porto Velho também tivemos
um xou da Xuxa particular, na briga por holofotes de dois prefeitos (o eleito e
o que perdeu a indicação), quando da inauguração/desinauguração (?) da
rodoviária de Porto Velho: que xou da Xuxa é esse, senhores prefeitos? A
pergunta/indignação pode ser feita na Câmara, no Senado, no STF, no Planalto, no
Exército, na Marinha, na Aeronáutica, situações não faltarão.
Por outro lado, não adianta
embarcar na metáfora de Pilatos e lavar as mãos, a sujeira que as impregnou
advém da inoperância, da vergonha, da falta de coragem, não se apaga com uma
simples lavada metafórica. Contudo, o travesseiro, as lágrimas e a dor na
consciência se encontrarão, durante muitas madrugadas, com a pergunta que não
lhes sairá dos ouvidos: que xou da Xuxa é esse? Acabou a
confiança/esperança! Acabou a tal interpretação do Art. 142 da Constituição
Federal, estamos à mercê de um Rasputin de cabeça pelada. Sem apoio dos
militares, sem um congresso confiável, o povo não terá como impedir que a
Constituição seja rasgada, que o STF dite normas, faça leis, julgue, mande
prender, mande soltar, à revelia da população e de seus representantes no
Congresso. Parece que o soldo fala mais alto do que a missão.
A frase completa, dita aos
gritos, demonstra uma indignação social e cultural inaceitável, inadmissível em
alguém com 9 anos: "Eu cheguei aqui três
horas da madrugada, isso não pode acontecer! Deixaram o moço
entrar e as crianças ficaram! Que Xou da Xuxa é esse?! Que Xou da Xuxa é
esse?!" Quem viveu àquela época e
acompanhou os bastidores, lembra bem: a Xuxa não era esse amor de pessoa que
aparenta hoje, ademais não deu o crédito merecido ao papel da Marlene no
sucesso do programa, ao longo dos anos, nem no documentário feito pela Globo.
Quem seria o moço que entrou, deixando as crianças na porta? Descubram e,
quem sabe, estarão acrescentando mais um elemento ao meme, no corpo
significativo da indignação.
Diante da viralização
do meme, resta perguntar: por que será que tantos outros instantes de
indignação popular não explodem na mídia? A ciência nos ensina que “o indignado sofre a dor alheia, ao testemunhar
outras pessoas (o presidente, os corruptos), lograrem êxito ao se aproveitarem
de uma situação difícil, para obterem vantagens para si, ou se apropriarem do
que, por mérito, não lhes pertence”. O Lula em seu
discurso desta semana, comemorando o fato de ainda estar vivo, gritou alto e
forte: - Ainda estamos aqui! Mas, de mãos dadas com Janja e a
insensatez, não conseguiu silenciar a voz indignada e espontânea do povo: a
ausência e o silêncio popular estiveram na Praça dos Três Poderes, ratificando
o golpe dos moradores de rua, enquanto o povo, no aconchego de seus lares, perguntava,
indignado: QUE XOU DA XUXA É ESSE? O meme interrogativo não
possui a ressonância merecida, porque teme as punições da ditadura da toga,
afinal a proteção de Fachin é exclusividade do Lula.
E para
encerrar o desabafo, vale citar Santo Agostinho e Paulo Freire: “a esperança
tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não
aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las (SA)”;
“Não é
possível refazer este país, democratizá-lo, humaniza-lo, torna-lo sério, com adolescentes
brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, in-viabilizando
[sic] o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda (PF)”.
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