Quarta-feira, 24 de junho de 2020 - 18h25
Difícil comparar o São João de antigamente com as festas juninas da atualidade. Na minha cidade natal, Senhor do Bonfim-BA, havia (ainda há, mas com restrições) uma brincadeira, única no estado - a guerra de espadas – a arma era um canudo de cerca de 3 cm de diâmetro por 30 cm de comprimento, feito com taliscas de bambu, amarradas com um barbante forte e cera de arapuá para impermeabilizar as paredes.
O interior do canudo ficava cheio de pólvora, com um papel laminado vermelho, indicando o lado do canudo, que deveria ser aceso. Quando a gente acendia um lado, o outro, tampado com argila seca, forçava a pólvora queimada a sair barulhenta, por um orifício fino, moldado na argila, formando uma espécie de espada de fogo. Se a jogássemos adiante, elas circunvagavam sem rumo, mas com a possibilidade de queimar ou ferir os que não corressem ou não se protegessem com roupas grossas e chapéus de palha ou de couro. Hoje os guerreiros usam jeans e capacetes de moto.
Uma
grande fogueira era montada, com uma árvore fincada no centro, com cerca de 10
m de altura, onde se viam, pendurados nos galhos, os brindes, oferecidos aos
brincantes pelo prefeito da cidade, que desafiava os moradores a derrubarem a
árvore ainda crua, ou seja, sem que ela fosse queimada pelo fogo da fogueira,
com hora marcada para ser ateado, geralmente às 22 h de 23 de junho. O brinde
de maior valor ficava no topo da árvore, algo como uma nota de cem reais,
protegida pra não pegar fogo.
O
prefeito comprava centenas de dúzias de espadas e as entregava aos funcionários
para que defendessem a fogueira da prefeitura. Vinha gente de todos os bairros
e até de outras pequenas cidades da região, para derrubar a árvore plantada no
centro da fogueira. Travava-se, então, uma verdadeira guerra de espadas, entre
os moradores da cidade e os capangas do prefeito. O fogo das espadas, o barulho
de bombas juninas e os gritos dos participantes, proporcionavam um belíssimo
espetáculo visual e auditivo, exacerbando a coragem sertaneja.
Os
moradores sempre ganhavam a guerra, pulavam por cima dos paus pegando fogo,
trepavam e derrubavam a árvore, se antecipando ao efeito do fogo, gerando uma
euforia geral em torno da árvore caída, devido à busca pelos brindes pendurados
nos galhos. As baixas eram grandes e muitos acabavam a festa nos corredores e
leitos do pronto socorro da cidade.
Só
depois dos 18 anos nos aventurávamos a fazer parte do espetáculo, de mais
perto. Conseguir arrancar um brinde da fogueira, era tarefa das mais difíceis.
Nós éramos uma família de 5 homens e duas mulheres, eu era o mais novo dos
homens. Lembro de um irmão mais velho que conseguiu arrancar uma galinha
assada, envolvida em papel celofane, e foi comemorar com os amigos dentro da
casa do prefeito, onde o quintal virava um arraial, com forró e música ao vivo,
durante toda a noite.
Durante dias, meses, as esquinas e bares da
cidade serão testemunhas dos mais variados comentários. Do matuto ao
universitário, do vaqueiro ao fazendeiro, do comerciante ao comerciário, enfim
do mais humilde sertanejo aos abastados da cidade, as opiniões se entrelaçarão
como o fogo das espadas, ora elogiosas, ora críticas.
Vale lembrar que no processo de assimilação dos
antigos cultos pagãos europeus, na transição da Idade Antiga para a Idade
Média, a Igreja Católica acabou
substituindo os rituais dedicados aos deuses médios-orientais, gregos, romanos
e nórdicos, por festas oferecidas aos santos.
Afora os questionamentos e origens históricas,
o meu lado romântico e nostálgico vê os festejos juninos, como a exacerbação da
alegria de um povo, em meio ao sofrimento do dia-a-dia.
Do centro à periferia da cidade, houve e haverá
sempre uma fogueira na porta, talvez mude a intensidade da fé, com certeza muda
a quantidade de alimentos, sendo assados na fogueira. Mas ainda que haja um
único cálice de licor de jenipapo, um milho, uma batata doce, um aipim, uma
banana, assados numa humilde fogueira, erguida com meia dúzia de tições, serão suficientes
para abrir o sorriso e a solidariedade do sertanejo, o bastante para se
desenvolver uma série de superstições e simpatias, entre elas o “batismo na
fogueira”, que cria laços de apadrinhamento.
Para os mais simples, desconhecedores do culto
grego a Adônis, dono inicial da marca “24 de junho”, uma brasa que seja, acesa
na fogueira, com amor e fé, será suficiente para esperar a intensificação das
chuvas, no próximo ano: mais milho, mais aipim, mais mandioca, enfim, mais cor
na vida do homem do campo. Para tanto eles também esperam o adjutório de São
José.
Por outro lado, vejo as fogueiras de João como sinais do povo cristão, o sangue do cordeiro, e funcionam como demonstrações ao Ceifador de que eles reverenciam os mártires do cristianismo, logo merecem a salvação, algo como o céu, após a peregrinação pelos tortuosos e inexplicáveis caminhos sofridos da existência.
As
festas juninas existem em grande parte do mundo e praticamente se espalharam
por todo o Brasil, são em sua essência multiculturais, mas no Nordeste,
especialmente nos estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba e Ceará parecem ter
mais brilho, como se os cantos e os folguedos falassem mais alto aos ouvidos
dos reverenciados: Antônio, João e Pedro!!!
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