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Crônica

O amor: do romantismo ao digitalismo


Rubens Nascimento - Gente de Opinião
Rubens Nascimento

Pode parecer clichê, mas sobre tantos temas para escrever, esse foi um que não veio de mim. Chegou como uma sugestão de quem eu tenho muito carinho e acompanha meus traçados. Então não poderia deixar de atender, até porque o assunto é muito interessante e envolve a mim mesmo, nesse momento tão sublime da minha vida. O Dia dos Namorados, surge como uma oportunidade de refletirmos sobre as múltiplas maneiras de amar. Este sentimento universal assume diversas formas e significados, sendo uma fonte inesgotável de inspiração para filósofos, poetas e pensadores ao longo da história. Eu, um eterno apaixonado, vou tentar explorar algumas dessas manifestações ancorado nos pensadores que folheei.

No panorama complexo das relações humanas, o amor tem sido uma constante ao longo dos séculos, moldando-se e adaptando-se às mudanças sociais, culturais e tecnológicas. Desde os tempos antigos até os dias atuais, o amor tem sido objeto de fascínio, reflexão e debate, inspirando homens nas suas múltiplas facetas em todas as eras.

É fácil perceber e, a história traz bem isso, que nos tempos antigos, o amor era frequentemente retratado como uma força poderosa que transcendia o tempo e o espaço. Nas epopeias e tragédias da Grécia Antiga, como "Ilíada" e "Édipo Rei", o amor era um tema central, marcado por paixões arrebatadoras e destinos trágicos. Nessa era, os valores do amor eram frequentemente associados ao compromisso, à lealdade e à devoção. Casamentos arranjados eram comuns, e o amor romântico muitas vezes surgia como uma consequência do convívio diário e das expectativas sociais. Gestos grandiosos de amor, como serenatas e declarações poéticas, eram valorizados como expressões do sentimento mais nobre. Não muito distante, relembro meu pai colocando as pilhas de uma velha eletrola no sol, sábado a tarde, limpando os discos  com carinho e, procurando coloca-los nas capas certas, no mesmo instante em que anotava no papel, o tempo da musica localizada nos velhos LP`s,  para não passar vergonha de cair numa faixa arranhada, durante a serenata que tinha planejado  toda a semana. Era bacana de ver.

No mundo contemporâneo, o amor passou por uma transformação radical. Com o advento da tecnologia digital e das redes sociais, as formas de se relacionar mudaram significativamente. Aplicativos de namoro e sites de relacionamento tornaram-se uma maneira comum de conhecer novas pessoas, ampliando as possibilidades de escolha e aumentando a velocidade dos relacionamentos e também o seu fim.

Nessa era digital, a comunicação tornou-se mais rápida e acessível do que nunca. Mensagens instantâneas, videochamadas e redes sociais permitem que os casais mantenham contato constante, independentemente da distância física. No entanto, essa mesma tecnologia pode introduzir uma sensação de superficialidade e desconexão, com interações frequentemente reduzidas a likes e emojis. O produto, que não se pode chamar de amor, é abundante e está na prateleira criando a cultura do descartável e as fartas opções, podem levar a uma sensação de efemeridade nos relacionamentos. O amor contemporâneo muitas vezes parece estar sujeito a uma constante busca pela novidade, com muitos relacionamentos começando e terminando com a mesma rapidez.

Diante dessas transformações, surge a necessidade de uma reflexão profunda sobre o significado do amor e seus valores fundamentais. Embora o amor do passado fosse muitas vezes marcado por uma noção de compromisso e lealdade inabaláveis, o amor contemporâneo é mais fluido e adaptável, moldando-se às circunstâncias e demandas da vida moderna. No entanto, apesar das diferenças, o essencial permanece: o desejo humano por conexão, compreensão e intimidade. Independentemente da era em que vivemos, o amor continua sendo uma força poderosa que molda nossas vidas e nos inspira a buscar a felicidade ao lado de outro ser humano.

Platão acreditava que o amor verdadeiro nos conduz à busca pelo bem e pela verdade, elevando nossa alma a um estado superior de contemplação e entendimento. São muitos os casos que conhecemos, mas que beiram aos casos de amores impossíveis, tema que falarei mais a frente.

Mas como seguir nesse caminho, onde os valores sociais de outrora não se encaixam mais nesse mundo contemporâneo frívolo.  O amor proibido desafia as normas sociais, culturais ou legais. Frequentemente retratado na literatura e na arte como um sentimento intenso e muitas vezes trágico,

Em seus estudos, Freud sugere que o amor proibido pode ser particularmente poderoso porque é reforçado pela barreira da proibição. A impossibilidade de concretizar esse amor pode intensificar os sentimentos e criar uma idealização do objeto amado, tornando-o ainda mais desejável e inesquecível.

O amor à distância enfrenta o desafio da separação geográfica. Com a globalização e o avanço das tecnologias de comunicação, esses relacionamentos tornaram-se mais comuns. Apesar das dificuldades, muitos casais conseguem manter um vínculo forte e saudável, baseando-se na confiança, na comunicação e na expectativa de um reencontro. Outros, basta a certeza do anonimato para se jogarem em novas aventuras.

O poeta persa Rumi escreveu sobre a dor e a beleza do amor distante, comparando-o a um fogo que arde mais intensamente na ausência do amado. A distância pode, paradoxalmente, fortalecer o vínculo amoroso ao testar e provar a profundidade dos sentimentos envolvidos, mostrando que o amor verdadeiro transcende a presença física. Sei não! Não posso falar bem disso, minhas experiencias não foram nada boas.

Aí vou percorrendo sobre alguns tipos que, de alguma forma, passam na nossa jornada. O amor impossível, aquele que, por diversas razões, não pode ser realizado. Pode envolver diferenças intransponíveis, como barreiras sociais, religiosas, de saúde ou outras circunstâncias que tornam a união dos amantes inviável. Este tipo de amor é frequentemente marcado por um profundo sentimento de tristeza e frustração. Convive, mas não pode ter a pessoa amada. Complicado, né?

De alguma forma, sempre olhei as formas de amar em diferentes aspectos. Talvez por minha criação, fui crítico severo de algumas formas de amar.  O amor homossexual, que envolve o afeto e o desejo entre duas pessoas, dois seres da criação divina, é uma expressão legítima e autêntica de amar. Mas eu, antes não aceitava, até um dos meus, caminhar nessa senda e mudar meus valores. Ao longo da história, esse tipo de amor foi muitas vezes marginalizado e criminalizado, mas nos tempos modernos, há uma crescente aceitação e reconhecimento, sem as barreiras da hipocrisia. Michel Foucault explora as questões de sexualidade e poder, destacando como as normas sociais e culturais moldam nossas percepções de amor e desejo.

Mas e o amor que separa? Aquele que embora amando deixa ir?  Apesar da intensidade dos sentimentos, leva à separação dos amantes. Isso pode ocorrer devido a incompatibilidades irreconciliáveis, diferenças de valores ou circunstâncias que tornam impossível a continuidade do relacionamento. Este tipo de amor é frequentemente doloroso, pois envolve a perda e o luto.

Em “Sonetos de Amor", Pablo Neruda, expressa a dor da separação e a saudade que ela provoca. O amor que separa nos ensina sobre a fragilidade dos relacionamentos e a necessidade de aceitar a impermanência da vida, mostrando que nem todo amor está destinado a durar para sempre.

Por outro lado, o amor que aproxima é aquele que une as pessoas, criando laços profundos de intimidade e companheirismo. Este tipo de amor é baseado na compreensão mútua, no respeito e no apoio recíproco. É o amor que constrói famílias, amizades duradouras e parcerias sólidas. Meu pai é um exemplo disso. Três experiencias amorosas. Duas frustrantes e a ultima sólida, baseada na compreensão, no companheirismo e respeito. São 51 anos de uma convivência digna de exemplo, como dizia o filósofo Martin Buber, em sua obra "Eu e Tu", descreve o amor que aproxima como uma relação autêntica entre dois seres que se reconhecem e se valorizam mutuamente. Esse tipo de amor é transformador, pois nos ajuda a ver e a aceitar o outro em sua totalidade, promovendo um vínculo sincero e duradouro.

Quem sou eu para me aventurar a falar de amor. Meus amores, minhas aventuras, minhas saudades, minhas dores, de alguma forma, acabaram se identificando em traçado desse emaranhado de linhas. Entendo que as várias formas de amar são um reflexo da complexidade e da diversidade da experiência humana. Cada tipo de amor tem suas próprias características e desafios, mas todos compartilham a capacidade de nos transformar e enriquecer nossas vidas. Ao celebrarmos o Dia dos Namorados, é importante reconhecer e valorizar todas as formas de amor, pois cada uma delas contribui para a beleza e a profundidade da nossa existência onde o amor se transforma numa jornada de autodescoberta e crescimento pessoal. Onde aprendemos a amar e a ser amados nas mais diversas formas e manifestações. Que possamos, neste mundo em constante mudança, encontrar a beleza e a profundidade de amar em todas as suas nuances e expressões, mesmo que elas sejam curtas e, talvez por isso, precisam ser intensas.

Feliz dia dos Namorados!

Rubens Nascimento é Jornalista, Bel.Direito, Ativista do Desenvolvimento e Mestre Maçom.

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