Quarta-feira, 12 de junho de 2024 - 07h36
Pode parecer clichê, mas sobre
tantos temas para escrever, esse foi um que não veio de mim. Chegou como uma
sugestão de quem eu tenho muito carinho e acompanha meus traçados. Então não
poderia deixar de atender, até porque o assunto é muito interessante e envolve
a mim mesmo, nesse momento tão sublime da minha vida. O Dia dos Namorados,
surge como uma oportunidade de refletirmos sobre as múltiplas maneiras de amar.
Este sentimento universal assume diversas formas e significados, sendo uma
fonte inesgotável de inspiração para filósofos, poetas e pensadores ao longo da
história. Eu, um eterno apaixonado, vou tentar explorar algumas dessas
manifestações ancorado nos pensadores que folheei.
No panorama complexo das
relações humanas, o amor tem sido uma constante ao longo dos séculos,
moldando-se e adaptando-se às mudanças sociais, culturais e tecnológicas. Desde
os tempos antigos até os dias atuais, o amor tem sido objeto de fascínio,
reflexão e debate, inspirando homens nas suas múltiplas facetas em todas as
eras.
É fácil perceber e, a história
traz bem isso, que nos tempos antigos, o amor era frequentemente retratado como
uma força poderosa que transcendia o tempo e o espaço. Nas epopeias e tragédias
da Grécia Antiga, como "Ilíada" e "Édipo Rei", o amor era
um tema central, marcado por paixões arrebatadoras e destinos trágicos. Nessa
era, os valores do amor eram frequentemente associados ao compromisso, à
lealdade e à devoção. Casamentos arranjados eram comuns, e o amor romântico
muitas vezes surgia como uma consequência do convívio diário e das expectativas
sociais. Gestos grandiosos de amor, como serenatas e declarações poéticas, eram
valorizados como expressões do sentimento mais nobre. Não muito distante,
relembro meu pai colocando as pilhas de uma velha eletrola no sol, sábado a
tarde, limpando os discos com carinho e,
procurando coloca-los nas capas certas, no mesmo instante em que anotava no
papel, o tempo da musica localizada nos velhos LP`s, para não passar vergonha de cair numa faixa
arranhada, durante a serenata que tinha planejado toda a semana. Era bacana de ver.
No mundo contemporâneo, o amor
passou por uma transformação radical. Com o advento da tecnologia digital e das
redes sociais, as formas de se relacionar mudaram significativamente.
Aplicativos de namoro e sites de relacionamento tornaram-se uma maneira comum
de conhecer novas pessoas, ampliando as possibilidades de escolha e aumentando
a velocidade dos relacionamentos e também o seu fim.
Nessa era digital, a
comunicação tornou-se mais rápida e acessível do que nunca. Mensagens
instantâneas, videochamadas e redes sociais permitem que os casais mantenham
contato constante, independentemente da distância física. No entanto, essa mesma
tecnologia pode introduzir uma sensação de superficialidade e desconexão, com
interações frequentemente reduzidas a likes e emojis. O produto, que não se
pode chamar de amor, é abundante e está na prateleira criando a cultura do
descartável e as fartas opções, podem levar a uma sensação de efemeridade nos
relacionamentos. O amor contemporâneo muitas vezes parece estar sujeito a uma
constante busca pela novidade, com muitos relacionamentos começando e
terminando com a mesma rapidez.
Diante dessas transformações,
surge a necessidade de uma reflexão profunda sobre o significado do amor e seus
valores fundamentais. Embora o amor do passado fosse muitas vezes marcado por
uma noção de compromisso e lealdade inabaláveis, o amor contemporâneo é mais
fluido e adaptável, moldando-se às circunstâncias e demandas da vida moderna. No
entanto, apesar das diferenças, o essencial permanece: o desejo humano por
conexão, compreensão e intimidade. Independentemente da era em que vivemos, o
amor continua sendo uma força poderosa que molda nossas vidas e nos inspira a
buscar a felicidade ao lado de outro ser humano.
Platão acreditava que o amor
verdadeiro nos conduz à busca pelo bem e pela verdade, elevando nossa alma a um
estado superior de contemplação e entendimento. São muitos os casos que
conhecemos, mas que beiram aos casos de amores impossíveis, tema que falarei
mais a frente.
Mas como seguir nesse caminho,
onde os valores sociais de outrora não se encaixam mais nesse mundo
contemporâneo frívolo. O amor proibido
desafia as normas sociais, culturais ou legais. Frequentemente retratado na
literatura e na arte como um sentimento intenso e muitas vezes trágico,
Em seus estudos, Freud sugere
que o amor proibido pode ser particularmente poderoso porque é reforçado pela
barreira da proibição. A impossibilidade de concretizar esse amor pode
intensificar os sentimentos e criar uma idealização do objeto amado, tornando-o
ainda mais desejável e inesquecível.
O amor à distância enfrenta o
desafio da separação geográfica. Com a globalização e o avanço das tecnologias
de comunicação, esses relacionamentos tornaram-se mais comuns. Apesar das
dificuldades, muitos casais conseguem manter um vínculo forte e saudável,
baseando-se na confiança, na comunicação e na expectativa de um reencontro.
Outros, basta a certeza do anonimato para se jogarem em novas aventuras.
O poeta persa Rumi escreveu
sobre a dor e a beleza do amor distante, comparando-o a um fogo que arde mais
intensamente na ausência do amado. A distância pode, paradoxalmente, fortalecer
o vínculo amoroso ao testar e provar a profundidade dos sentimentos envolvidos,
mostrando que o amor verdadeiro transcende a presença física. Sei não! Não
posso falar bem disso, minhas experiencias não foram nada boas.
Aí vou percorrendo sobre
alguns tipos que, de alguma forma, passam na nossa jornada. O amor impossível,
aquele que, por diversas razões, não pode ser realizado. Pode envolver
diferenças intransponíveis, como barreiras sociais, religiosas, de saúde ou
outras circunstâncias que tornam a união dos amantes inviável. Este tipo de
amor é frequentemente marcado por um profundo sentimento de tristeza e
frustração. Convive, mas não pode ter a pessoa amada. Complicado, né?
De alguma forma, sempre olhei
as formas de amar em diferentes aspectos. Talvez por minha criação, fui crítico
severo de algumas formas de amar. O amor
homossexual, que envolve o afeto e o desejo entre duas pessoas, dois seres da
criação divina, é uma expressão legítima e autêntica de amar. Mas eu, antes não
aceitava, até um dos meus, caminhar nessa senda e mudar meus valores. Ao longo
da história, esse tipo de amor foi muitas vezes marginalizado e criminalizado,
mas nos tempos modernos, há uma crescente aceitação e reconhecimento, sem as
barreiras da hipocrisia. Michel Foucault explora as questões de sexualidade e
poder, destacando como as normas sociais e culturais moldam nossas percepções
de amor e desejo.
Mas e o amor que separa?
Aquele que embora amando deixa ir? Apesar
da intensidade dos sentimentos, leva à separação dos amantes. Isso pode ocorrer
devido a incompatibilidades irreconciliáveis, diferenças de valores ou
circunstâncias que tornam impossível a continuidade do relacionamento. Este
tipo de amor é frequentemente doloroso, pois envolve a perda e o luto.
Em “Sonetos de Amor",
Pablo Neruda, expressa a dor da separação e a saudade que ela provoca. O amor
que separa nos ensina sobre a fragilidade dos relacionamentos e a necessidade
de aceitar a impermanência da vida, mostrando que nem todo amor está destinado
a durar para sempre.
Por outro lado, o amor que
aproxima é aquele que une as pessoas, criando laços profundos de intimidade e
companheirismo. Este tipo de amor é baseado na compreensão mútua, no respeito e
no apoio recíproco. É o amor que constrói famílias, amizades duradouras e
parcerias sólidas. Meu pai é um exemplo disso. Três experiencias amorosas. Duas
frustrantes e a ultima sólida, baseada na compreensão, no companheirismo e
respeito. São 51 anos de uma convivência digna de exemplo, como dizia o filósofo
Martin Buber, em sua obra "Eu e Tu", descreve o amor que aproxima
como uma relação autêntica entre dois seres que se reconhecem e se valorizam
mutuamente. Esse tipo de amor é transformador, pois nos ajuda a ver e a aceitar
o outro em sua totalidade, promovendo um vínculo sincero e duradouro.
Quem sou eu para me aventurar
a falar de amor. Meus amores, minhas aventuras, minhas saudades, minhas dores,
de alguma forma, acabaram se identificando em traçado desse emaranhado de
linhas. Entendo que as várias formas de amar são um reflexo da complexidade e
da diversidade da experiência humana. Cada tipo de amor tem suas próprias
características e desafios, mas todos compartilham a capacidade de nos
transformar e enriquecer nossas vidas. Ao celebrarmos o Dia dos Namorados, é importante
reconhecer e valorizar todas as formas de amor, pois cada uma delas contribui
para a beleza e a profundidade da nossa existência onde o amor se transforma numa
jornada de autodescoberta e crescimento pessoal. Onde aprendemos a amar e a ser
amados nas mais diversas formas e manifestações. Que possamos, neste mundo em
constante mudança, encontrar a beleza e a profundidade de amar em todas as suas
nuances e expressões, mesmo que elas sejam curtas e, talvez por isso, precisam
ser intensas.
Feliz dia dos Namorados!
Rubens Nascimento é
Jornalista, Bel.Direito, Ativista do Desenvolvimento e Mestre Maçom.
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