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Gente de Opinião

Crônica

O berço do Madeira à espera das chuvas frias de novembro


Simon Santos - Gente de Opinião
Simon Santos

Apocalíptico! Beradeiros e beradeiras, o cenário é apocalíptico. Há dias uma densa e fantasmagórica cortina de fumaça encobre o Berço do Madeira, como se fosse um imenso lençol cinza a nos envelopar. 

O Berço do Madeira está empelicado e arde literalmente em chamas. Paira sobre cada um de nós um certo espanto mudo e uma leve sensação de que alguma profecia bíblica está a caminho. Será o prenúncio do fogo eterno?

Percebem beradeiros e beradeiras que seu quarto também está impregnado do cheiro caliginoso de fumaça? Que seus olhos lacrimejam, a boca parece estar sempre seca, a garganta arde e seu corpo levemente febril? 

Beradeiros e beradeiras! “Renascer das cinzas”, é uma máxima grega. Nós do Berço do Madeira, teremos que aprender a renascer da fumaça, esse é o nosso maior e urgente desafio.

 Os que sobreviverem, terão que desenvolver uma capacidade respiratória mais apurada e olhos resistentes à ardência. A cor da pele será uniforme, acinzentada, e todos exalarão o mesmo odor cuja essência primordial ressoará à  fumaça.

Ora beradeiros e beradeiras não se apoquentem! Querem um consolo? Vai piorar, o Berço do Madeira virará uma savana cinza e sombria, habitada por seres muito diferentes de nós.

Vejam! Depois da pandemia da Covid-19, a natureza nos entrincheira novamente, o aquecimento global intensificado pela ação humana, muda a rotina no Berço do Madeira, do aluno que deixou de frequentar a escola, do idoso que teve que redobrar os cuidados com a saúde, do comerciante e da dona de casa que têm de manter portas e janelas totalmente fechadas mesmo sob uma temperatura de deserto. 

As terras férteis de águas cristalinas existirão apenas na letra do Hino do Berço do Madeira. Seremos apenas uma fornalha ardendo a céu aberto até que cheguem as chuvas frias de novembro.

Beradeiros e beradeiras atentem! Esse é talvez o primeiro capítulo de uma apocalíptica guerra que se repetirá ano, após ano, até que queime o último ipê no Berço do Madeira e a vegetação rasteira que insistir em brotar no leito seco e esturricado do Rio Madeira. 

Simon O. dos Santos - Cronista

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