Segunda-feira, 14 de outubro de 2024 - 12h31
“Quaisquer
que sejam os objetivos visados por sua política exterior, seria, para o Estado,
supremamente desastroso não manter no Exército o pensamento de uma grande
missão...”
Gen
Charles De Gaulle - 1934
O
interesse nacional pode ser definido como aquilo que é bom para a nação, no
âmbito interno e no contexto das relações internacionais. Entretanto, uma
definição mais completa não pode dispensar o juízo político dos riscos e
oportunidades que se apresentam à preservação do bem-estar e dos valores do
país, em cenários estratégicos de longo prazo. São os objetivos nacionais permanentes
(independência, integridade territorial, autodeterminação, resolução pacífica
de conflitos...), que dão origem ao interesse nacional. E são as
dinâmicas da política, economia e geoestratégia mundial que determinam os
objetivos nacionais “de ocasião” (combate ao narcotráfico, protagonismo nos
organismos internacionais, transição energética...), fundamentos do Estado para
a formulação da defesa nacional, e no cálculo do poder necessário para apoiar
tanto.
Em essência, o interesse nacional deveria
ficar limitado ao Estado que o formula, mas a globalização tornou difícil estabelecer
objetivos nacionais para uma estratégia funcional voltada apenas para o bem
estar da nação. E uma percepção enviesada das ameaças atuais existentes no
mundo, bem como a incapacidade de administrar os efeitos negativos
resultantes das políticas paroquiais, têm instrumentalizado o interesse
nacional das nações em tentações expansionistas, ideológicas ou geoeconômicas.
Não sem razão russos, ucranianos, libaneses e israelenses hoje estão obrigados
a combaterem “pela paz”, enquanto o Brasil vem apresentando seguidos atestados
de indigência diplomática diante do quadro geopolítico atual.
Com o fim da Guerra Fria, os conflitos armados
passaram a exigir mais cultura e perícia profissional militar, e principalmente
maior capacidade de emprego da tecnologia militar, por parte dos exércitos. A
evolução do armamento e a dinâmica geopolítica do Século XXI rompeu o monopólio
do conhecimento bélico da instituição militar, hábito que sempre justificou a tímida
participação de líderes civis na condução da guerra. Hoje, os níveis de
responsabilidade do político e do militar não se distinguem com tanta nitidez e,
se houver áreas de sombra no domínio defesa nacional, é bem possível uma
decisão que se avalize um genocídio como decisão de Estado, por exemplo. No
caso brasileiro, a ignorância estratégica, a prepotência ideológica e a
indefinição quanto ao verdadeiro interesse nacional do atual Governo têm sido
devastadoras para os planejamentos e a credibilidade dos nossos militares e
diplomatas.
Vivemos hoje no ambiente de uma guerra híbrida
mundial, mas a mesquinha “politicagem” partidária nativa, assim como nossa
canhestra política exterior, têm desprezado ostensivamente suas consequências
para a Defesa Nacional. Aparentemente, as ameaças à segurança humana do mundo
de hoje, que têm obrigado às nações a se armarem, não estão sequer nas
cogitações do Comandante Supremo da Forças Armadas do Brasil, o Presidente Lula.
Conflitos armados motivados apenas por
interesses nacionais de nações beligerantes, internacionalização das
organizações criminosas, terrorismo de estado, ataques cibernéticos, biopirataria,
narcotráfico - pautas que inclusive já afetam a nossa economia - têm sido
tratadas por Lula como se o País não tivesse necessidade de soldados.
Lula começou seu mandato afirmando que “perdeu
a confiança nos militares”. Para ele, as Forças Armadas do Brasil são uma
ameaça à democracia, e não sua única possibilidade de defesa. Desde então, ele
assistiu mudo uma orquestração sistemática da ruína da imagem dos militares, possível
de ser constatada diariamente na mídia, em matérias visando desqualificar as
Forças Armadas e seus integrantes. A sórdida campanha revanchista, reforçada
pelas redes sociais, inclusive com os órgãos de controle do Governo exigindo a retirada
de “privilégios” da classe militar, só tem como resultado o descrédito da
necessidade da existência de Forças Armadas junto à população, além da
desmotivação dos soldados brasileiros para cumprirem sua missão constitucional.
Isto em um país que cortou 48% dos orçamentos militares nos últimos 10 anos,
tem 694 parlamentares gastando 30 milhões por dia, e um STF com 11 ministros
custando 1 bilhão por ano.
Lula fingiu não ver oficiais do Exército sendo
presos ao arrepio da lei, “obrigou” os chefes militares comparecerem em atos
políticos, nada disse sobre a ameaça de invasão do nosso território pelo
ditador de plantão na Venezuela, e quase conseguiu fazer o MST desfilar ombro a
ombro com as tropas militares no dia 7 de setembro. Dias atrás, diante do
desastre ambiental dos incêndios no País, Lula reafirmou seu entendimento “estratégico-progressista”
de Forças Armadas: “os recrutas deveriam ser treinados para combater
incêndios e enfrentar desastres climáticos [...] porque a gente não precisa
preparar ninguém para a guerra.” Agora,
após impedir – por motivos pessoais – a compra de blindados de Israel pelo
Exército, anunciou que vai comprar vários aviões para ele e seus ministro
viajarem pelo País. O dono do cão de guarda está espalhando no bairro que o seu
animal é dócil, não morde. O próprio Ministro da Defesa já lamentou o descaso
do Presidente com as Forças Armadas: “questões ideológicas têm deixado nossa
defesa órfã”.
De fato, o pseudo-pragmatismo do alinhamento
deste Governo com Rússia, China, Cuba, Venezuela, não é da tradição da nossa diplomacia;
o desprezo do Estado Nação, expresso no apoio às organizações terroristas, que
persistem em uma guerra de extermínio contra a civilização ocidental, não é
interesse nacional; trata-se da “agenda progressista” de aceitação da volta à
barbárie, com meios violentos justificando fins políticos injustificáveis. Ao
propor fazer a guerra contra a guerra, alardeando seu “pacifismo tabajara”, capaz
de sugestionar apenas ingênuos ou românticos, Lula somente cria mais um
pretexto para buscar o poder pelo poder. Nunca haverá um mundo sem guerras,
assim como nunca haverá um mundo sem pobreza ou morte, e não é do interesse
nacional que um presidente se arvore de “conciliador internacional intrometido”,
gastando 165 milhões de viagens infrutíferas, em apenas um ano de governo.
A megalomania diplomática de Lula tem inviabilizado
muitos negócios de interesse do País, assim como patrocinado nossa atual penúria
militar. Cabe aos chefes militares e ao Ministro da Defesa, alertarem o Governo
e a sociedade quanto às ameaças à Segurança Nacional, e ao descaso político com
o interesse nacional. Podem usar argumentos geopolíticos, financeiros ou
simplesmente patriotismo. E patriotismo não é sinônimo de fascismo, xenofobia
ou nacionalismo doentio: é obrigação constitucional.
Gen Marco Aurélio Vieira
Foi Comandante da Brigada de Operações
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