Segunda-feira, 10 de janeiro de 2022 - 12h13
Enchentes no Nordeste, seca no
Sul, a natureza estampa nas telas da TV os problemas sociais desse país
continente. Como se já não bastassem as desigualdades, enfrentadas no dia a
dia, onde o mais grave dos problemas é a fome, somos surpreendidos pelas
enchentes e pela seca. Miséria é o que mais se percebe, mas também o seu oposto:
é difícil ignorar uma mão estendida nas portas dos shoppings da elite, é
difícil ignorar inúmeros moradores de rua e as cracolândias, ao longo de todas
as capitais brasileiras. No Brasil e em muitos países, o ser humano já nasce
diferente, basta saber o bairro em que nasceu, a cor da pele e o nível
educacional dos pais, para que os sociólogos façam uma análise do futuro
daquela criança. Horóscopo social!
É dolorido comemorar o Natal,
sem se lembrar das diferenças, das distâncias, do abismo que separa pobres de
ricos, não só no Brasil, mas na grande maioria dos países cristãos. Aqui os dados estatísticos mostram que o rendimento mensal dos 1% mais ricos
do país é quase 34 vezes maior do que o rendimento da metade mais pobre da
população. A gente fala, fala, porque a teimosia fez morada em nossa
consciência, mas a gente sabe que é chover no molhado. Pacificamente não
se consegue nada e a desproporção de força desestimula qualquer ação, resta
a recompensa no céu, após a lida.
É notório que a desigualdade social está
presente em todos os países do mundo, uns mais do que outros. Nas relações
sociais existe o bairro de pobre, o de classe média e o de rico, tudo
determinado por questões econômicas, de gênero, de cor, de crença, de círculo
ou grupo social, contudo o que mais salta aos olhos é que essas diferenças
limita o acesso a direitos básicos, como direito à educação e à saúde de
qualidade, moradia, trabalho, transporte, enfim limita o direito a viver com
dignidade.
Em ano de eleição, os políticos exercem a
politicalha, o populismo, a mentira de palanque, tentando abocanhar o voto do
eleitor despreparado, o primeiro passo da continuidade do status quo.
Os contrastes estão em cada
região, nem a globalização comparativa, tão presente nas críticas sociais,
consegue explicar um país com tantas diferenças. A única particularidade que
nos une é a língua portuguesa, ainda assim muitos vocábulos são entendidos num
estado federativo e desapercebidos em outro. Só o palavrão conseguiu a
unanimidade. Lembram de Renato Russo, cantando na Esplanada dos Ministérios? –
Que país é esse? E o povão respondia, a plenos pulmões,
presencialmente, e em todos os estados brasileiros, onde o show chegava pelos
canais de TV: − É a porra do Brasil!!!
Os analistas apontam a distribuição
de renda e a concentração de poder, como a base dos problemas sociais, mas não
devemos esquecer da má distribuição de recursos públicos, da lógica de mercado
do sistema capitalista, da falta de investimento nas áreas sociais,
principalmente na educação, cultura, saúde e nas oportunidades de trabalho, o
que escancara o despreparo de nossos governantes. Estamos à mercê do pai
nosso da política partidária: − venha a nós e ao vosso reino nada.
Grupos mais favorecidos têm
acesso a boas escolas, boas faculdades, consequentemente a bons empregos, e
isso se repete por muitas gerações, como se tais grupos fossem bolhas sociais,
enquanto as margens lutam desesperadamente para alcançar uma brecha nesta
maldita bolha. E quando um ou outro, marginalizado pela cor, pelo gênero, etc. consegue
se destacar, geralmente mediante o quesito educação, os porteiros das bolhas
batem palmas: − vejam! é possível, nós vivemos num país sem preconceitos,
somos uma meritocracia. Deixem de mi mi mi…
Todo mundo sabe que os marginalizados sofrem
os maus efeitos da existência dessas bolhas sociais e econômicas, porque não
lhes são concedidas oportunidades de vida, de estudo e de crescimento
profissional de maneira igualitária. O sistema de cotas é uma tentativa
insignificante, mas válida, de se resolver um velho problema. No entanto, vale
lembrar que o analfabetismo é duas vezes maior entre os negros do que entre os
brancos. Os pobres em geral, de qualquer cor ou origem, continuam com menos
probabilidade de ter uma excelente educação e instrução; e a sociedade destina
empregos de baixo prestígio social aos de baixa escolaridade, com uma
remuneração modesta, mantendo seu status social intacto, perpetuando as
diferenças.
Por esta e por outras razões, estipuladas acima,
chegamos a inegável conclusão de que a ligação direta entre mérito e poder, uma
das significações de meritocracia, no Brasil, é um mito: a prática e o
direito nos ensinam que os iguais são tratados como iguais e os desiguais como
desiguais, perpetuando as distâncias sociais por longo tempo, demonstrando que as
classes não alcançam prestígio por mérito, já que o acesso às oportunidades não
é o mesmo para todos.
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