Segunda-feira, 27 de setembro de 2021 - 11h40
Desde os primórdios da
humanidade que religião e política tentam se misturar, ensejando a unificação
do poder humano ao divino. Muitas vezes isso ocorreu, mas nem sempre os
resultados foram satisfatórios, porque o poder político/humano, personificado
no líder, no herói, está sujeito a fraquezas e o divino é superior, intocável,
imaginário, logo, não se juntam. Os povos, onde o “chefe” não se confundia com
o “sacerdote”, tendiam a permanecer mais tempo em harmonia. Diferente dos
egípcios, os gregos criaram um monte para morada de Zeus e demais deuses e os
administraram distantes da política terrena, já os hebreus colocaram essa
morada ainda mais distante, no inatingível céu, como que adiantando ao futuro: política
e religião não se misturam.
Esses desarranjos
administrativos já aconteceram em vários lugares, inclusive na Pérsia, que
virou Irã, depois de mais de mil anos de brigas territoriais, religiosas e
culturais, com os gregos e com os vizinhos asiáticos, culminando com uma
administração moderna e ocidentalizante de Mohammad, filho do Xá, mas que, em
1979, foi deposto pelo aiatolá Khomeini, ocorrendo um retrocesso em todos os
avanços civilizatórios, devido à unificação do poder político com o poder
religioso dos aiatolás. O mesmo que ocorreu e está ocorrendo com o Afeganistão
e o retorno do Taliban ao poder.
Levando
em conta que o poder divino está estruturado com o sentido de “temor a Deus”,
leis humanas, quando são apresentadas como a simples vontade soberana do
Estado, tem uma eficácia muito menor do que se aparecerem como mandamento
divino. Por esse motivo, diz Maquiavel: "Nunca houve um legislador que
tenha dado leis extraordinárias a um povo e não tenha recorrido a Deus, pois de
outro modo não seriam aceitas". Daí porque normas do Alcorão
são intercaladas na Constituição Federal dos países, radicalmente, submetidos
ao Islamismo. O recurso da religião torna-se útil
aos legisladores, quando os argumentos racionais são impotentes para convencer
os homens.
Também no Ocidente, a História
está cheia de exemplos, porque a religião tem valor instrumental e foi/é um
elemento de grande eficácia política. Ainda tomando como base os ensinamentos
de Maquiavel em O Príncipe, o apelo à força irracional da religião converte-se
num meio eficiente para o “príncipe” convencer o povo da legitimidade de suas
ações e da pureza de suas intenções, objetivo que não seria alcançável,
recorrendo unicamente à razão. Em assim sendo a religião, um fenômeno
irracional, se constitui num meio de persuasão privilegiado, do qual os governantes
mais espertos podem dispor, para fazer com que o povo admita um bem do qual a
simples razão, não seria suficiente para convencê-lo.
À moda romana, os oráculos,
imaginariamente questionados pelas forças políticas brasileiras, polarizadas
ideologicamente em esquerda e direita, bem e mal, cristo e anticristo,
socialismo e capitalismo, não produziram, ainda, augúrios convincentes que
pudessem fazer parte da retórica política. O convencimento carece de argumentos
que multipliquem os votos, venham de onde vierem. Não foi à toa que a imprensa
marrom divulgou, esta semana, que está se formando no Planalto uma nova chapa
concorrente à eleição presidencial, juntando o profano ao sagrado.
O presidente pretende caminhar
para a reeleição de braços dados com os líderes religiosos do evangelismo,
entre eles, o pastor Malafaia, como vice, mas esquece que o universo racional
conspira contra a força irracional das religiões, aumentando o preço dos
combustíveis, tocando fogo nas reservas florestais, secando os lagos que
abastecem de energia elétrica as nossas cidades, disparando a inflação e
acendendo os sinais de alerta da Economia. Isso sem contar que o demoníaco
careca da suprema corte, não se cansa em podar os mais afoitos partidários do
capitão.
Infelizmente a gente sabe que
os deuses ou semideuses, listados pelas religiões, não socorrerão uma
administração comprometida com falácias, bravatas, com o egocentrismo e com o
centrão dos adeptos da endêmica corrupção. Os castigos religiosos já não
amedrontam mais o povo, como antigamente, todavia o castigo do resultado das
urnas/2022 atemoriza os sensatos e racionais conservadores, porquanto o voto
dos desinformados, dos néscios, pode ser o fiel da balança, nos arrastando para
a desesperança de um ditado nordestino: fugi do cão, me encontrei com o
diabo. Aguardamos o rei de espadas com uma criptonita na mão, que possa vencer
a bandeira vermelha do rei de ouro. Ou será a rainha de copas da Alice? O rei
de copas do Tarot seria bem-vindo.
Até o momento nenhum livro
sibilino nos apontou a solução para esta equação político/social de
segundo turno, advinda do forno da antropologia cultural: dois menos dois é
igual a um, quem será? Logo saberemos.
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