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Crônica

O que ELES fariam sem a gente


O que ELES fariam sem a gente - Gente de Opinião

No início a vida era unicelular, foram várias etapas, com espaçamento de bilhões de anos, para que a célula única, estressada com a solidão dos oceanos, se dividisse e se reproduzisse, a partir do encontro com outra célula, oriunda do seu próprio tronco, produzindo, biologicamente, a simbiose. Antes mesmo do surgimento dos mamíferos, há cerca de 125 milhões de anos, quando a vida era apenas marítima, a gênese embutia trocas e cooperação, contrariando o posterior entendimento de luta competitiva pela sobrevivência. A ciência não contesta, o “feminino veio primeiro e é básico”, respondendo à máxima popular: quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? Cai por terra o mito de Adão.

No começo dos ajuntamentos, as sociedades eram matriarcais, só com o advento das civilizações, advindas do Crescente Fértil, há cerca de 12 mil anos, é que as religiões passaram a fortalecer o patriarcado, fundadas no criacionismo masculino, relegando a mulher a uma categoria secundária, resultante da observação dos animais irracionais: o macho é mais belo e forte que a fêmea. O dono do pedaço, líder e protetor do conjunto.

O império do patriarcado começou com o Torá e a Bíblia, seguidos pelo Alcorão, atacando a Grande Mãe, a Suprema Divindade. Gn3;16: À mulher, Ele declarou:
"Multiplicarei grandemente
o seu sofrimento na gravidez;
com sofrimento você dará à luz filhos.
Seu desejo será para o seu marido,
e ele a dominará".

Com este preâmbulo celebro o Dia da Mulher, primeira e única, geradora de todos os humanos, sem esconder, no entanto, que a diferença de gênero propicia a sexualidade, culminando na procriação, na exacerbação do amor, a força mais poderosa que move não só o céu e a terra, mas também os nossos corações. És arma, fogo, terra, chão, és mulher.

A sábia natureza estabeleceu a diferença para que houvesse reciprocidade, mutualidade, mas não imaginava que o sequenciamento da paridade desaguasse em competividade, preconceito, discriminação, violência, fenômenos tipicamente humanos, mas irracionais! Daí que a celebração do Dia da Mulher ocorre, estupidamente, num contexto de conscientização mundial, sobre a violência que elas sofrem dos homens, sejam pais, maridos, amantes ou parentes. Entre muitas pautas significativas, o 08 de março simboliza também a luta contra o machismo e a violência.

A forma de corrigir o absurdo passa pela educação em massa e por uma revolução de hábitos: o companheirismo, a parceria e a isonomia salarial, já seriam um bom começo na reparação do mal milenar; afinal as mulheres são a maioria da humanidade. O homem é o mesmo antes e depois do primeiro encontro de amor, ainda que o prazer e a arritmia da expectativa por um novo encontro nunca mais o abandonem; contudo, a mulher recebeu da natureza o dom múltiplo de ser feliz, genitora e guardiã da vida, única criatura capaz de ser forte, sem perder a ternura e o amor. Momentos de reflexão masculina…

Depois de escrever sobre ciência, religião, matriarcado, patriarcado, machismo, rendo-me à sensibilidade de um pensamento das entranhas, verdadeiramente brega: o mundo sem as mulheres seria como um jardim sem flores, logo, sem suavidade, sem cor, sem cheiro e sem graça, arriscando-me a receber delas, o troco: o que vocês fariam sem a gente?

Parabéns a você que é anjo e feiticeira, mãe, filha, irmã, esposa, companheira, tia, avó, que se ama e cobra amor, se respeita e exige respeito, que está à frente de seu tempo, abrindo caminhos sociais, enfrentando o ultrapassado e construindo sua própria história. Salve, salve a mulher!!!

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