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Gente de Opinião

Crônica

O Voto dos Invisíveis


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

A vida é feita de escolhas, a cada milésimo de segundo nós temos de tomar uma decisão, e não temos como fugir disso! Tudo na vida é determinado pelas escolhas, e como é difícil acertar. A escolha do momento passa por uma análise comparativa, entre candidatos que querem governar o país ou que querem nos representar nas Assembleias, Câmara e Senado. São muitas encruzilhadas partidárias e estamos sujeitos ao discurso convincente, às vezes demagógico, do político. Não é raro uma escolha, presumidamente certa, tornar-se errada, pelas atitudes do político escolhido, como se a nossa opção, o nosso desejo, aparentemente certos, estivessem sendo anulados por decisões e atitudes do escolhido. A validação de nosso voto, depende da atitude do outro. Assim são as escolhas, no mundo da política, uma espécie de loteria.

Os políticos não trazem na testa um visor, relatando, em caso de vitória nas urnas, boas ações públicas. Alguns são lobos em pele de cordeiro. E, se o candidato for político de carreira, dificulta ainda mais, porque ele conhece a teoria da camuflagem verbal. Ainda assim, mesmo sabendo que são mínimas as chances de seu voto contribuir para colocar no poder um político bem intencionado, vote, acredite: só acerta quem joga!!!

No difícil jogo da escolha política, o pior é saber que a escolha singular não é decisória, dependemos do coletivo, do efeito do discurso, da propaganda, do legado, da ideologia, enfim são inúmeros fatores a influírem no resultado da eleição. Muitos são chamados, mas poucos, escolhidos!

A angústia da expectativa muda o humor, provoca discussões virtuais e nos põe à beira de um abismo depressivo, com o dilema da escolha ruidosa, baseada na aparência, na utilização das mídias sociais, na quantidade de “formiguinhas” e de bandeiras tremuladas nos semáforos da cidade, pontuadas por slogans, entremeados ao número do candidato. Mídias de toda ordem bombardeiam nossos sentidos, com números e imagens dificilmente apreendidos.

Por vivermos numa sociedade em que se enxerga mais o ter, em que se ignora a função social da propriedade, em que se valoriza o ser pela cor da pele, pelo sexo, pelo gênero, etc. etc., as minorias da população continuarão sendo mera sombra social, contudo quanto mais miserável, mais invisível: só aparece nas estatísticas e no planejamento político. Vale salientar que a eleição, em muitos estados, ainda está a mercê do capital, ganha quem tem mais dinheiro pra gastar. Nessa época, além do auxílio federal, os miseráveis vendem seus votos e aprendem, nas sedes dos partidos, como usar uma cola, sequer sabem os nomes dos candidatos.

Infelizmente essa massa invisível, formada por quem está abaixo da linha da pobreza é a mais visada pelos políticos, em tempos eleitorais, porque sabem da vulnerabilidade dessa gente, diante da escolha de um candidato; são os que se vendem facilmente, porque a fome é imediatista, são os que não cobram resultados, são os “sem noção”, os que não possuem uma consciência crítica da própria existência. A educação, o emprego, a instrução, as políticas públicas, quase nunca chegam a esses cidadãos, cerca de 27 milhões de pessoas, 12,8% da população brasileira.

São tantos partidos, tantas esquerdas e tantas direitas, são tantas propostas, tantas faces se oferecendo ao olhar do eleitor, tantas mãos entreabertas para que não lhes possamos ver as linhas do destino, tantos discursos demagógicos, tanta ingenuidade, assimilando as promessas e prometendo o voto, como possíveis vítimas do populismo manjado, mas ainda eficiente cabo eleitoral, que ao fim da jornada existencial, ao olharmos pra trás, percebemos, conclusivamente, que a soma das nossas escolhas, à esquerda, à direita ou ao centro, na política brasileira, não foi lá grande coisa, isto porque o caráter do político depende de uma sociedade consciente, instruída e sólida, o que não é o nosso caso. Os políticos são a imagem e semelhança dos eleitores.

A política, enquanto administração do patrimônio público, para o bem de todos, é como o racismo estrutural, só mudará se os esforços pela mudança persistirem num horizonte evolutivo de centenas de anos. O homem já veio ao mundo com sérios problemas estruturais, que se agravaram conforme a região em que nasceu, a miscigenação, etc. Segundo Yuval Noah Harari, muitas dessas imperfeições estão ligadas às origens, aos sapiens, aos neandertais, etc. daí porque os povos são tão diferentes. Daí porque as inúmeras religiões existentes no mundo não conseguem priorizar, no ser humano, o amor ao próximo, diminuindo as distâncias sociais. Daí porque as soluções de convivência, para agradarem ao humano, são colocadas a nível extraterreno, num mundo espiritual inatingível, surreal, abstrato! Céu, nirvana, paraíso simbolizam a transcendência, a sacralidade, a perenidade, o poder, o inalcançável. Por isso, céu é sinônimo de esperança para os invisíveis, a recompensa divina, o contraponto do voto, em relação ao mundo existencial, às mudanças das decisões políticas, materializadas pelos humanos. Por que me preocupar com a Terra se meu destino é o Céu???

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