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Crônica

O Zé Que Atraka


O Zé Que Atraka - Gente de Opinião

Por mais fraca que seja a memória do brasileiro, não se deve confundir esta característica com ingratidão, pois é impossível concorrer com a borracha do tempo. O ídolo, o herói, em todas as áreas, quando nos deixam de forma abrupta, inesperada, se não viram mitos, caminham com a gente, por muitos anos, um tempo compatível com a influência do morto em nossas vidas. Foi assim com Airton Senna, com inúmeros religiosos, políticos, artistas e desportistas que já se foram, está sendo assim com a cantora Marília Mendonça.

Contudo, existem pessoas, como o Zekatraca, que, além de artistas, deixaram, regionalmente, um legado de realizações em benefício da cultura popular, merecendo a gratidão das nossas autoridades, em nome deste povo sofrido, que por mais de 50 anos foi “atrakado” com feitos em prol dos folguedos folclóricos e do exercício do bom humor, solidificando uma influência admirável, junto aos brincantes e à classe artística, digna de um retorno justo, em forma de reconhecimento pelo que eles eram e fizeram.

Zekatraca, além de compositor e agitador cultural, foi um dos sonhadores pela construção da Cidade da Cultura, no local conhecido como Parque dos Tanques. O projeto, com a planta da construção civil, chegou a ficar pronto, só não foi concretizado por falta de empenho das autoridades: alegaram que o local era impróprio, pois já funcionara como aterro sanitário. Ora bolas, se havia verbas, por que não escolheram outro lugar? Por aqui tudo é difícil, porque os gestores públicos são forasteiros, não tem amor a esta terra que os acolheu.

Eu não fui amigo próximo do Silvio Macêdo dos Santos, era daqueles que aplaudia à distância, com reverência, respeitando seu jeitão simples de ser e de influir, junto aos brincantes e aos espectadores. O que seria do Arraial Flor do Maracujá, sem suas quadrilhas e boi bumbás, o que seria das escolas de samba, da Banda do Vai Quem Quer, sem o dedo transformador do Zekatraca?

Enfim, onde quer que exista um trabalho artístico/cultural popular pode-se encontrar a influência do Zekatraca, isso sem contar os milhares de leitores que ele possuía na mídia impressa, no site Gente de Opinião e no seu blog pessoal. Por estas e por outras nós fomos incentivados a convida-lo a fazer parte do quadro efetivo dos 40 membros da Academia Rondoniense de Letras - ARL. Ele imortalizou-se em 14 de março de 2020, na cadeira 38, cujo patrono é o jornalista José Ailton Ferreira Bahia.

Tentando minimizar o efeito Alzheimer, na memória coletiva, a ARL, pelos seus membros e diretoria decidiu apoiar o competente vereador, Aleks Palitot, também membro da ARL, no sentido da aprovação de um projeto de lei ou outro meio adequado, junto aos pares da Câmara de Vereadores de Porto Velho, para renomear a Fundação Cultural de Porto Velho, que já foi apelidada de Iaripuna, para Fundação Cultural Silvio Santos, bem como nomear o Mercado Cultural de Mercado Cultural Zekatraca. Com a nomenclatura, Zekatraca, homenageando a forma como ele, Silvio Macedo dos Santos, escrevia, no seu blog pessoal (http://silviozekatraca.blogspot.com/2021/10/lenha-na-fogueira).

Em assim procedendo, estaremos esticando o tempo de permanência, na memória coletiva, do agitador/ativista cultural Sílvio Santos/Zekatraca, como forma de agradecimento por tudo que ele fez pela cultura, pelo bom humor cativante e pela maneira sentimental, como declarou, em suas composições, carnavalescas ou não, o amor ao rincão natal. 

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