Segunda-feira, 15 de abril de 2024 - 13h11
Minha
tia-bisavó, Rosinha, fazia cem anos; seu filho convidou-me para participar na
cerimónia religiosa e no copo-de-água.
Fui.
Tomei o "onibus”, que me levou ao Rio e, horas depois desembarquei
na rodoviária. Nessa ocasião residia em São Paulo.
Quando
me deslocava para o colégio, que gentilmente cedera as instalações, fui
observando tudo que via. Ao perpassar por parede branca, lobriguei, varado,
rabiscado a carvão ou tinta negra: " Portugueses fora do Brasil!".
Estávamos nos anos noventa, do século passado.
Em
abono da verdade, devo dizer que nunca senti qualquer antipatia por mim, por
ser português; muito pelo contrário: todos, inclusive a policia, mesmo no tempo
da ditadura, sempre me trataram com afeto.
Sou
como se sabe, matrimoniado com paulista da gema, de família tradicional, por
isso sabia que no passado, o nosso povo era considerado: pobre, inculto,
analfabeto. Em regra, dizia-se que desembarcava em Santos com: " Saco e
pau nas costas", ou chegava de avião, " Nos Tamancos Aéreos
Portugueses.
Após
a Revolução de Abril, chegaram a terras de Santa Cruz: industriais,
professores, médicos, engenheiros e, muita gente da elite portuguesa; e o
brasileiro, atónico, mudou logo a opinião depreciativa que tinha.
Mesmo
assim... Estando em Florianópolis, em meados deste século, folheando
distraidamente as páginas amarelas da Capital de Santa Catarina, deparei,
cercado a tarja negra:" Portugal roubou o nosso ouro."
Era
"mimo" dirigido aos milhões de portugueses e descendentes. Eu sabia
há muito que era isso, que certos professores ainda ensinavam nas escolas.
Durante
décadas não foi fácil ao português " fugir" das piadas vindas do povo
humilde e até da mass-media.
Em
1920, quinhentos poveiros que ganhavam a vida no mar, foram expulsos por se
recusarem a serem brasileiros. Retornando a Portugal no navio "
Samaro" – " A Pátria", Rio de Janeiro 13 a 15/10/1920.
A
perseguição iniciou-se em outubro de 1920, alimentada, entre outros por
Epitácio Pessoa. Desconheço a razão de tanta xenofobia, pois a maioria da
população era e é descendente de portugueses e italianos. Emigrantes que foram
procurar no Brasil melhor vida, como hoje os brasileiros fazem quando emigram
para os Estados Unidos e Europa.
A
emigração portuguesa, como a italiana, foram comutar a mão-de-obra que havia
antes da Lei Nº2: 040 de 28 de Setembro e 1871, que dizia: " Declara
de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data d'esta
lei, liberta os escravos da nação e outros, e providencia sobre a criação e
tratamento d'aquelles filhos menores e sobre a libertação annual de
escravos."
Esta
crónica, escrita quase ao currente calamo, pretende lembrar a situação difícil
em que viveram muitos portugueses no século XIX e meados do século XX, no
Brasil. Muitos eram de menor idade, como o escritor Ferreira de Castro que
chegou ao Brasil, sozinho, com 12 anos, para não falar de meu bisavô que
emigrou ainda adolescente.
Para
alinhavar esta modesta crónica, baseie-me: em reminiscências pessoais; na obra:
" No Brasil", do escritor Silva Pinto; e na pesquisa realizada por
Edgar Rodrigues, publicada no " Jornal de Matosinhos" de 6/12/1991.
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