Quarta-feira, 7 de abril de 2021 - 11h59
Dizem os estudiosos que as
palavras surgiram da necessidade de comunicação dos membros de um grupo: nas
reuniões de fim de tarde, em volta de uma fogueira, cada tribo, cada grupo ia
moldando os sons conforme objetos e seres a serem nomeados. De palavra em
palavra, com o passar do tempo, cada povo formou seu vocabulário próprio,
ampliado diariamente, em função da evolução cerebral e da criatividade de cada
um. Impossível dizer porque os sons dos significados variaram tanto ao longo dos
povos do planeta, se viemos, praticamente, de dois troncos: sapiens e
neandertais.
Se existissem palavras fossilizadas
ou uma ciência que cuidasse exclusivamente do estudo do surgimento da palavra,
algo além da etimologia, com certeza nos surpreenderíamos com a evolução e o nascimento
de muitos vocábulos e expressões, usados no dia-a-dia, nas diversas línguas existentes
ao redor do universo. A ética da palavra seria um estudo muito interessante, o
significado de um palavrão ou como eles surgiram ao longo dos grupos: hijo
de una yegua.
A palavra “porra”, por exemplo, um palavrão
que, na Bahia, evoluiu para “porreta”, hoje é um elogio, conhecido em
todo o Nordeste: mas que música porreta!!! - Ninguém foi mais porreta do
que irmã Dulce. No entanto, “porra”, na Bahia e no resto do Brasil,
continua sendo algo nada elogiável: Mas que porra de música é esta que
estão tocando aqui? Outra palavra que vem sofrendo alterações, nos
últimos anos, é caralho. Ora é sinônimo de pênis, ora é um adjetivo qualificativo
para depreciar ou exaltar uma situação: A festa está do caralho!!!
Muitas palavras “inventadas” por
brasileiros só são entendidas no Brasil e só chegarão a outros países de língua
portuguesa, via televisão, internet ou por migrantes e turistas. Alguns
neologismos são impossíveis de serem traduzidos para outras línguas. Em
Portugal “bicha” é sinônimo de “fila”, no Brasil, bicha, bichinha ou bichona, é
uma gíria para nomear homossexuais, talvez em função da palavra “bicho” ser um
substantivo comum de dois gêneros. Como seria traduzir cu-doce em
alemão, ou fazer o chinês entender o significado da expressão se nem nós
sabemos explicar a origem???
Claro que estamos falando da
língua portuguesa, mas todas as línguas, além de serem dinâmicas, possuem as
suas particularidades neológicas, semânticas e etimológicas. João Guimarães
Rosa foi um dos vanguardistas na criação de neologismos, soube como ninguém
reinventar a língua, tanto que muita gente, para entender Grande Sertão:
Veredas, precisava consultar um dicionário próprio, criado pelos críticos
do renomado escritor. Entalagado, na veia literária do escritor, era
sinônimo de embriagado, ou seja, aquele que bebeu em talagadas. Ademais ele recriou na literatura a fala do
sertanejo, não apenas no plano do vocabulário, mas também no da sintaxe e da
melodia da frase.
"O correr da vida embrulha
tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem." (João Guimarães Rosa, em Grande
Sertão: Veredas)
Dramaturgo, escritor de artigos
para jornal, cronista, radialista, Nelson Rodrigues, ajudou a popularizar
palavrões, foi criador de neologismos, mas passou à história como autor da expressão,
complexo de vira-latas: “Por complexo de
vira-latas entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca,
voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e,
sobretudo, no futebol”. Embora
criada em 1958, até
hoje a expressão é usada em ocasiões e situações que caracterizam a subalternidade
do brasileiro em relação a outros povos.
Atualmente, em função da internet
e das mídias sociais, convivemos com uma salada de gírias, palavras novas ou
derivativas e expressões idiomáticas, umas engraçadas, criativas, e outras
advindas da mistura de línguas, com a predominância do inglês. Vejamos alguns
exemplos: aquapestre, a arte de montar em cavalos marinhos; casburro
aquele que é teimoso e pouco inteligente; zodiacar, culpar os astros
pelos nossos erros; vocabu-lar, a casa das palavras; bootânica,
parte da história sobrenatural que estuda as plantas assombradas; bolbo da
corte, uma cebola que faz o rei chorar; cebolema, uma questão
complexa com várias camadas; informol, líquido que serve para preservar
cadáveres mais descontraídos; e por aí vai, numa longa cadeia de palavras e
expressões, surgidas no âmbito da diversidade criativa dos humanos.
No
entanto, tem palavras que são inimagináveis na boca de certas pessoas. Imaginem
um general dizendo “sim” aos pixulés exigidos por políticos, na sala de
um ministério do governo: melhor dizer “não” e renunciar ao cargo, do que
aderir à prática dos pixulés e pisar na ética do Exército Brasileiro.
Das nossas janelas víamos as janelas dos vizinhos, o muro era baixo e nossa casa foi construída no centro de três terrenos, num nível mais alto. A m
Os que se dedicam às letras, normalmente principiantes, mosqueiam a prosa de palavras "difíceis", rebuscadas no dicionário, e frases enigmáticas, pa
O valor das coisas depende de quem é
Possuía, no século passado, meu pai, na zona histórica, belo prédio barroco – que recebera dos avós, – mas, ao longo dos anos, se delapidara.Reforma
Um médico, ginecologista, instalou seu consultório no nosso bairro. Mulheres de longe, e até as que moravam perto e tinham alguma condição financeira,