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Crônica

Quimeras


Quimeras - Gente de Opinião

Desde a descoberta das células-tronco, que os cientistas experimentam a possibilidade de criar embriões de animais com células-tronco humanas. Muitos países, como a China, a Rússia, a Coreia do Norte e até mesmo os EUA já fizeram isso, secretamente, sem divulgação. Recentemente apareceram vários resultados de camundongos mistos, além de órgãos produzidos em animais para serem transplantados em humanos. Neste ano de 2021, os Estados Unidos divulgaram o sucesso do 1º transplante do rim de um porco, para um ser humano, logo, não vai demorar muito, para que tenhamos uma prateleira de órgãos produzidos em animais, prontos para serem transplantados em humanos. Quimeras já não são quimeras!

A literatura e a mitologia gregas já massagearam a nossa imaginação e criatividade, em vários campos da vida, mas não imaginávamos que as quimeras gregas fossem parar na bancada dos cientistas, tão rapidamente. Para quem não sabe, Quimera é uma figura mística caracterizada por uma aparência híbrida de dois ou mais animais, uma fera ou besta mitológica, tão distante da realidade, que a palavra foi parar nos dicionários, como sinônimo de sonho, devaneio, fantasia.

É bom que se diga que existem humanos que já nascem como uma quimera, ou seja, possuem dois tipos distintos de DNA. O fenômeno genético, conhecido como quimerismo, é uma condição genética raríssima. À primeira vista, a temática interessaria, prioritariamente, aos estudos sobre o DNA e o genoma humano, entretanto o que se verifica é que o fenômeno, também caracterizado como um outro eu, tem repercussões jurídicas e psicológicas, que por serem extensas, fogem aos propósitos deste artigo.

O avanço científico no campo dos transplantes tem possibilitado a salvação de inúmeros seres humanos. Hoje, a maioria das capitais possui um hospital, dotado de um bom cirurgião, com a possibilidade de fazer transplantes de rins, de fígado, de córnea e até mesmo de coração. A técnica dos transplantes, de certa forma, banalizou-se, mas faltam órgãos humanos, para serem transplantados, o que justifica a ousadia da experiência de buscar órgãos transplantáveis a partir de embriões humano-animais.

Oficialmente os japoneses foram os primeiros a autorizarem a criação de embriões humano-animais. Inicialmente serão aprimorados os testes já feitos com ratos e camundongos, evoluindo para porcos, macacos, etc. Como se trata de um animal, desenvolvido pelo homem, para ser hospedeiro de órgãos, acredita-se que não despertará a ira das organizações protetoras dos animais, já que os benefícios serão maiores que os meros protestos. Os futuros passos apontam para a descoberta de tecidos artificiais, com os quais serão moldados os órgãos transplantáveis.

Não esqueçamos que a indústria robótica vem engatinhando há anos, desenvolvendo e aprimorando a inteligência artificial, logo serão adultos e se espalharão por todos os cantos da Terra, imunes a doenças e livres de quaisquer preconceitos. Como dizia o poeta, a mim o que me rodeia é o que me preocupa: imaginem o efeito desses avanços na cultura religiosa. Como não gosto, nem devo antecipar questionamentos, imagino prazerosamente que esta é uma janela que só será aberta daqui a muitos e muitos anos, com vistas impensáveis para nosotros, seres meramente imaginativos.

O avanço dessas descobertas e inovação científica, com resultados ainda distantes, permite rasgos de humor ilimitáveis, como por exemplo imaginarmos o quimerismo entre figuras da política e da justiça: como seria a personalidade de um novo ser humano, constituído com distintos DNAs, sendo um do direitista Bolsonaro e outro do esquerdista Lula? Como seria a mistura do ministro Alexandre de Moraes com o General Heleno; do bispo Edir Macedo com o apóstolo Valdemiro Santiago; do senador Adolphe Rodrigues com o Renan Calheiros; do João Doria com o Eduardo Leite??? Misturem à vontade, imaginem ao bel prazer, façam caricaturas, charges, telas, rir não custa nada, chega de sofrimento. 

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