Segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022 - 15h52
Durante muitos anos, quando se
falava em solidariedade, a memória nos remetia ao sindicato solidariedade dos
estaleiros Lenin, em Gdansk, na Polônia, e à figura de Lech Walesa, prêmio
Nobel da Paz (1983), devido ao seu gigantesco trabalho no sentido de pressionar
o rígido e ortodoxo governo comunista polonês, a fim de retirar a Polônia de um
regime socialista, governado por um partido único, para uma economia de
mercado, nos moldes dos países da Europa Ocidental. Quando Walesa visitou o
Brasil, FHC disse que a Polônia e o
Brasil pagaram em custos sociais e ambientais o preço de um desenvolvimento que
deixou de lado o homem e a natureza.
Não à toa, o sindicalista Lula,
mesmo sendo simpático ao comunismo, foi comparado a Lech Walesa. Devido ao seu
prestígio, na década de 1990 Lech Walesa assumiu o governo polonês, mas não
conseguiu ser um bom administrador e acabou esquecido pelo povo. Lula também
teve sua chance no governo brasileiro e foi um desastre, arrastando a nação a
níveis de corrupção inacreditáveis. Durante a administração Luís Inácio Lula da
Silva, segundo os economistas, o Brasil perdia, anualmente, em atos corruptos,
o equivalente ao PIB da Bolívia. Dinheiro que faltou à educação, saúde, etc.
Momentaneamente, quando se
fala em solidariedade a gente pensa logo no espírito solidário do povo
brasileiro, ajudando às vítimas do transbordamento de rios, deslizamento de
encostas e suas terríveis consequências, ocorridos em função do excesso de
chuvas. Este ano, várias cidades brasileiras vêm sofrendo com as fortes chuvas,
mas nenhuma sofreu mais que Petrópolis-RJ, cidade imperial, localizada há mais
de 800 m de altitude, entre morros e rios.
O que mais chateia as pessoas
é que esta não foi a primeira vez que as casas construídas na encosta dos
morros foram arrastadas pelas chuvas, o problema se arrasta desde o século 19,
com o Imperador D. Pedro II. Este ano já catalogamos 176 mortes confirmadas,
cerca de 200 desaparecidos e mais de mil famílias desabrigadas. Em 11 de
janeiro de 2011 naquela mesma região serrana do Rio de Janeiro, o maior
desastre climático do Brasil provocou a morte de 918 pessoas, mais de 100 estão
desaparecidas até hoje e, aproximadamente, 35 mil pessoas perderam suas casas.
Naquela época, Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do
Vale do Rio Preto foram as cidades mais afetadas.
O desastre da região serrana,
em 2011, provocou uma comoção nacional, nunca se viu tanta gente ajudando com
alimentos, roupas, colchões, barracas, enfim todos queriam ser solidários. Por
outro lado, a cidade desigual, expressa entre as diversas formas de
assentamento urbano, principalmente nas encostas dos morros, tem caracterizado
o desastre climático, como um processo socialmente construído e repetitivo.
A engenharia, sempre que
ocorrem tais desastres, desde os tempos do Imperador, aponta soluções que
deveriam ser tomadas pelos governantes, mas depois da tempestade vem o céu
azul da burocracia, da inércia e da corrupção, além da memória fraca dos
eleitores que, mesmo sofrendo na carne os efeitos da má administração, voltam a
votar nos chamados políticos de carteirinha, que ajudaram Sérgio Cabral a levar
o Rio de Janeiro ao caos. Só o governo federal destinou aos municípios afetados
pelo cataclisma de 2011, cerca de 550 milhões de reais e menos da metade foi
aplicado.
Dói na alma relembrar que
quando os municípios ainda viviam o drama das perdas, quando corpos ainda
estavam sendo buscados nas encostas dos morros, constatou-se oficialmente, pelo
MP, que parte dos recursos federais enviados às prefeituras haviam sido
desviados para bolsos privados. Ninguém foi condenado por isso, porque vivemos
num país onde a avidez, a falta de escrúpulos e o desrespeito ao drama de
milhares de pessoas são insignificantes. No Brasil, o crime de corrupção
compensa, isso vem sendo comprovado ao longo das atitudes da Corte Superior.
Não precisa recuar muito no tempo, basta lembrar do intenso, demorado e
proveitoso trabalho da Lava Jato, jogado, em breves instantes, na lata do lixo das
conveniências.
Novos desastres virão, mais
verbas serão destinadas, mais corruptos surgirão e vamos ter que conviver com
esta triste realidade, com esta pecha que denigre o país mundo afora. Felizmente
a grande riqueza do Brasil é o povo, a massa, que mesmo sabendo que a igualdade
de direitos e o cruzamento do pilar econômico com o pilar social são mitos
morais da justiça social, se conforma com a justiça divina, não reclama e não
desiste de ser solidário, pois sabe que a ajuda ao próximo é o amor em
movimento, a última fronteira da esperança compensatória.
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