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Crônica

Solidariedade


Solidariedade - Gente de Opinião

Durante muitos anos, quando se falava em solidariedade, a memória nos remetia ao sindicato solidariedade dos estaleiros Lenin, em Gdansk, na Polônia, e à figura de Lech Walesa, prêmio Nobel da Paz (1983), devido ao seu gigantesco trabalho no sentido de pressionar o rígido e ortodoxo governo comunista polonês, a fim de retirar a Polônia de um regime socialista, governado por um partido único, para uma economia de mercado, nos moldes dos países da Europa Ocidental. Quando Walesa visitou o Brasil, FHC disse que a Polônia e o Brasil pagaram em custos sociais e ambientais o preço de um desenvolvimento que deixou de lado o homem e a natureza.

Não à toa, o sindicalista Lula, mesmo sendo simpático ao comunismo, foi comparado a Lech Walesa. Devido ao seu prestígio, na década de 1990 Lech Walesa assumiu o governo polonês, mas não conseguiu ser um bom administrador e acabou esquecido pelo povo. Lula também teve sua chance no governo brasileiro e foi um desastre, arrastando a nação a níveis de corrupção inacreditáveis. Durante a administração Luís Inácio Lula da Silva, segundo os economistas, o Brasil perdia, anualmente, em atos corruptos, o equivalente ao PIB da Bolívia. Dinheiro que faltou à educação, saúde, etc.

Momentaneamente, quando se fala em solidariedade a gente pensa logo no espírito solidário do povo brasileiro, ajudando às vítimas do transbordamento de rios, deslizamento de encostas e suas terríveis consequências, ocorridos em função do excesso de chuvas. Este ano, várias cidades brasileiras vêm sofrendo com as fortes chuvas, mas nenhuma sofreu mais que Petrópolis-RJ, cidade imperial, localizada há mais de 800 m de altitude, entre morros e rios.

O que mais chateia as pessoas é que esta não foi a primeira vez que as casas construídas na encosta dos morros foram arrastadas pelas chuvas, o problema se arrasta desde o século 19, com o Imperador D. Pedro II. Este ano já catalogamos 176 mortes confirmadas, cerca de 200 desaparecidos e mais de mil famílias desabrigadas. Em 11 de janeiro de 2011 naquela mesma região serrana do Rio de Janeiro, o maior desastre climático do Brasil provocou a morte de 918 pessoas, mais de 100 estão desaparecidas até hoje e, aproximadamente, 35 mil pessoas perderam suas casas. Naquela época, Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto foram as cidades mais afetadas.  

O desastre da região serrana, em 2011, provocou uma comoção nacional, nunca se viu tanta gente ajudando com alimentos, roupas, colchões, barracas, enfim todos queriam ser solidários. Por outro lado, a cidade desigual, expressa entre as diversas formas de assentamento urbano, principalmente nas encostas dos morros, tem caracterizado o desastre climático, como um processo socialmente construído e repetitivo.

A engenharia, sempre que ocorrem tais desastres, desde os tempos do Imperador, aponta soluções que deveriam ser tomadas pelos governantes, mas depois da tempestade vem o céu azul da burocracia, da inércia e da corrupção, além da memória fraca dos eleitores que, mesmo sofrendo na carne os efeitos da má administração, voltam a votar nos chamados políticos de carteirinha, que ajudaram Sérgio Cabral a levar o Rio de Janeiro ao caos. Só o governo federal destinou aos municípios afetados pelo cataclisma de 2011, cerca de 550 milhões de reais e menos da metade foi aplicado.

Dói na alma relembrar que quando os municípios ainda viviam o drama das perdas, quando corpos ainda estavam sendo buscados nas encostas dos morros, constatou-se oficialmente, pelo MP, que parte dos recursos federais enviados às prefeituras haviam sido desviados para bolsos privados. Ninguém foi condenado por isso, porque vivemos num país onde a avidez, a falta de escrúpulos e o desrespeito ao drama de milhares de pessoas são insignificantes. No Brasil, o crime de corrupção compensa, isso vem sendo comprovado ao longo das atitudes da Corte Superior. Não precisa recuar muito no tempo, basta lembrar do intenso, demorado e proveitoso trabalho da Lava Jato, jogado, em breves instantes, na lata do lixo das conveniências.

Novos desastres virão, mais verbas serão destinadas, mais corruptos surgirão e vamos ter que conviver com esta triste realidade, com esta pecha que denigre o país mundo afora. Felizmente a grande riqueza do Brasil é o povo, a massa, que mesmo sabendo que a igualdade de direitos e o cruzamento do pilar econômico com o pilar social são mitos morais da justiça social, se conforma com a justiça divina, não reclama e não desiste de ser solidário, pois sabe que a ajuda ao próximo é o amor em movimento, a última fronteira da esperança compensatória. 

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