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Crônica

Sovaco Ilustrado


Sovaco Ilustrado - Gente de Opinião

Mal saímos de uma pandemia, causada por um monstro invisível que subtraiu mais de 600 mil vidas e já nos deparamos com um outro bicho monstruoso, o tal dragão da inflação, também invisível, mas sorrateiro, mal intencionado e que se alimenta da incompetência das políticas econômicas. E lá se vai a estabilidade de nossa moeda, nosso poder aquisitivo e, de tabela, o aumento da fome de nosso povo, já tão sofrido. É o teto sendo utilizado em nome dos sem teto, para garantir o voto dos miseráveis, mas no teto das emendas parlamentares ninguém meche. Este é um defeito na rebimboca da parafuseta e será preciso trocar a bieleta, do contrário vamos perder a eleição.

O cálculo do teto de gastos governamentais federais, criado no governo Temer, para moralizar a política salarial e os gastos públicos, induzindo o respeito à política fiscal, virou vadia, todo mundo quer passar a mão e o Judiciário se cala, pois também é beneficiário da palavrinha de múltiplo sentido. Para os desembargadores são Tetos, isso mesmo, no plural, basta dar uma olhada pra ver quanto ganha cada um deles, para perceber que cada qual tem seu teto próprio, ou conhece o caminho “legal” para melhorar o próprio teto salarial. Quando é para os pobres do Auxílio Brasil, precisam furar o teto para conseguir alguma ajuda, expondo as demais classes, e o país como um todo, aos riscos da inflação.

Não bastasse tudo isso, ainda temos que suportar a cara de pau do ministro da economia, diante da TV, na companhia do presidente, garantindo, tecnicamente, mediante conversa rasa, que o furo no teto não causará problemas à nação, mesmo gastando além do permitido, como se dissesse que sabe manipular todo tipo de custo, inclusive o marginal. Ele tem a teoria, por isso pode enrolar todo mundo sobre o cálculo do custo marginal (putz, argumento nosso). Para entendermos o linguajar do ministro, que tenta convencer qua vai gastar mais do que arrecadou, sem causar inflação, seria preciso, no mínimo, ter um sovaco ilustrado, como se a informação e a matemática financeira pudessem ser adquiridas por contato, a partir de dois livros, sendo um de economia e outro de política aplicada, diuturnamente, carregados embaixo do braço, passando a imagem de sujeito letrado, professor/doutor, capaz de entender as fórmulas econômicas do Ministro e de “suportar” a cara de beócio do capitão.

Num país que Dilma é graduada em Economia e Lula é doutor em estelionato, com especialização em populismo e dono de argumentos que convencem a maioria da Suprema Corte, tudo é possível. Difícil será o dono de um sovaco ilustrado mostrar seu certificado de CDF, eles são opostos, além do mais, diante da alta da tecnologia, da diminuição dos livros, o termo está em baixa.

O tempo passou na janela da vida, mas, embora raros, ainda existem sovacos ilustrados, principalmente no meio político. A primeira vez que ouvi esta expressão, no Nordeste, eu ainda estava na Faculdade. A tecnologia acabou com os SI, hoje o que vale é a marca e a geração do celular, vaidosamente exposto aos colegas de convívio. Gente que não sabe esticar o tempo, mal sabe contar uma piada. O SI é aquele sujeito que tuita literalmente pra dizer o que está fazendo, o que está comendo e outras banalidades típicas dos ridículos frasistas do Twitter, do Face e do Instagram. É o sujeito aparentemente ilustrado, que ao se sentir vazio, pede ao grupo pra tirar uma selfie.

Há algumas semanas um senador da linha de frente de Bolsonaro foi apelidado pelos demais de Rolando Lero, personagem famoso, criado por Chico Anísio e imortalizado por Rogério Cardoso, que usava palavras bonitas, elogiosas, mas que não respondiam as questões do professor Raimundo, sendo inapropriadas para o tema em discussão. As palavras funcionavam como uma capa ilustrada para a ignorância do sujeito.

Fala, fala, fala, elogia todo mundo e do nada encerra a oratória, com uma interrogação tão grande que se estende aos ouvintes: o que era mesmo que ele estava dizendo? Rsrsrs. − Sr. Rolando Lero, as próximas eleições resolverão os problemas do Brasil? − Amado mestre, vinha eu pelos corredores do Senado, quando percebi o nada se arvorando a dono de tudo, um tal de Alcolumbre, lá do insignificante Amapá, se dizendo dono da importante CCJ, diga-me, pois, amado Mestre, se esse país tem jeito, sem uma nova e moralizante derrubada da Bastilha? − “O que vocês vão fazer com tanta democracia”? questionou um ex-presidente da República (JBOF).

Se vocês riram dos argumentos do novo Rolando Lero, aguardem a próxima campanha política, pois ele pretende ser candidato a governador de Rondônia, pelo mesmo partido do Rolando Lero mor, José Datena e seu fiel escudeiro, Neto, o maior cobrador de faltas deste país. Datena já declarou em entrevista à revista Veja desta semana que quer ser candidato a Presidente. O rei tinha e tem razão: “o povo brasileiro não sabe votar”. Esse é o país da piada pronta!!?

Como faz falta um bom papo, ao pé do fogão a lenha, nos sertões da Bahia, de Minas Gerais e de tantos outros lugares deste nosso imenso Brasil, num tempo em que se discutia política, filosofia, os rumos do país, e até mesmo o sexo dos anjos, inocentemente, sem correr o risco de ser perseguido por Alexandre Magno e pela poderosa mídia global, como homofóbico, preconceituoso, intolerante e fabricante da fakenews. E aí, Doris Day:

The future's not ours to see
Que sera, sera
What will be, will be

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