Terça-feira, 5 de outubro de 2021 - 13h32
O Brasil e o mundo se despedem de uma grande estrela da música clássica:
morreu de infarto agudo no miocárdio, nesse final de semana, aos 79 anos, o
instrumentista Sebastião Tapajós, artista brasileiro que ganhou fama na Europa
e Estados Unidos por sua ímpar musicalidade, deixando uma legião de fãs
espalhada por todos os quadrantes geográficos da terra. Aplaudido durantes anos
a fio nas melhores salas de espetáculos do circuito internacional, o músico era
um autêntico beradeiro amazônida da cidade de Alenquer, no Estado do Pará.
Ainda em tenra idade, ou já curumim, como se diz no jargão regionalista do
norte, foi morar em Santarém, recanto paraense dos seus primeiros estudos
musicais no violão.
Na perspectiva crítica de V. A. Bezerra, “o estilo de tocar de Sebastião
Tapajós era vigoroso e incisivo, e o som que tirava do instrumento era cheio e
encorpado”. Sua reconhecida genialidade, por décadas a fio, conquistou a pena
afiada e o sabor refinado dos críticos musicais e revelou seu valor artístico
às plateias mais distintas em todo o globo terrestre. Sem dúvida, que, do ponto
de vista popular, figuras como Fafá de Belém, Gaby Amarantos e Joelma da Banda
Calypso, cada qual no seu metiê artístico, tornaram-se muitíssimo mais
conhecidas e popularescas, inclusive graças ao empurrão da mídia televisiva e
ao modismo do gênero brega que assola o país. Todavia, o violão de Sebastião
Tapajós possuía grandeza estética e dimensional diferenciada, incorporando em
sua expressividade de pororoca indomável elementos intrínsecos de absoluta
idiossincrasia, como solos, acordes e arpejos ardentes, desconcertantes e
transbordantes. O metafórico cantar de sua viola mostrou-se tão
gigantesco quanto a própria Amazônia Ocidental!
Um
homem do povo (professor Edilson Lobo), nativo de Porto Velho, Estado de
Rondônia, assim se manifestou numa rede social, mostrando o quanto a arte de
Tapajós era amada por seus ouvintes: “Justa reverência! Sebastião
Tapajós, com sua arte, dignificou, como filho da Amazônia, esta região tão
imensa, por vezes uma ilustre desconhecida, com vastas riquezas a potencializar
suas múltiplas manifestações, como a cultura musical por exemplo. Tive a
oportunidade de assistir Sebastião Tapajós em vários momentos da sua
trajetória, sozinho ou dividindo o palco com outros músicos. Um dos que
lembrarei pra sempre, aconteceu no Teatro da Paz em Belém, quando se exibiu
acompanhado de outros grandiosos talentos da música brasileira e do mundo.
Juntos, Tapajós, Gilson Peranzzeta, Sivuca e Jaques Morelenbaum, presentearam o
público presente, com uma soberba apresentação. Foi mágico ver este quarteto,
desfilando pérolas do universo musical. Sebastião Tapajós! Presente!”
O rio Tapajós do virtuosíssimo músico paraense transbordava a bacia
amazônica como um mar revolto e desembocava em braços e abraços de igarapés
infindáveis correndo febris pelos vales do mundo afora!
Seu violão falante e tonante era antes de tudo uma peça artística
cosmopolita, posto que era espanhol, português, brasileiro, francês e alemão ao
mesmo tempo! Onde quer que ressonasse as cordas estilizadas de sua viola
incisiva e sensível ao mesmo tempo, lá estaria gente de todo planeta se
encantando e aplaudindo o show do Mestre dos Mestres, como disse o Maestro
Júlio Yriarte!
Do povoado de Alenquer, onde nasceu, para o mundo, Sebastião Tapajós se
espraiou feito uma incontrolável onda tsunami sonora percorrendo com ávido
talento tanto o conservatório Nacional de Lisboa, os estudos de guitarra com
Emílio Pujol, quanto a licenciatura em violão clássico no Conservatório Carlos
Gomes, em Belém do Pará, onde exerceu a cátedra musical até julho de
1967.
Percorrendo as
veredas da musicalidade nacional, tocou com inúmeras feras da MPB como Hermeto Pascoal, Jane Duboc, Zimbo Trio, Waldir Azevedo, Paulo Moura, Sivuca, Maurício Einhorn e Joel do Bandolim,
e internacionais como Gerry Mulligan, Astor Piazzolla, Oscar Peterson e Paquito D'Rivera.
De sua biografia
constam inúmeros trabalhos entre Cds e DVDs, tendo composto, em 1998, a trilha sonora do
longa-metragem paraense Lendas Amazônicas.
O olhar empreendido
momento é o de um articulista do norte contemplando a magnitude artística de um
grande artista nascido na Amazônia e que agora se despede da vida
Por isso, guardo
indelével a memória dos mágicos momentos em que pude vê-lo no exercício lúdico
mas rigoroso do seu fazer artístico inigualável, empunhando seu violão e
levando toda a plateia a embarcar numa viagem fantástica aos sete anéis do
Planeta Música!
Sebastião Tapajós
detinha o título de doutor honoris causa da Universidade
do Estado do Pará e da Universidade Federal do Oeste do Pará. Mas, ao
tocar, gostava mesmo era de se comportar como um Pajé da Amazônia, da
tribo que lhe deu o sobrenome e o emprestou ao rio, servindo em poções mágicas
cabaças cheias de beberagens, timbres, luzes, efeitos percussivos e variações
sonoras brilhantes e comoventes!
Com sua passagem, ele
deixa encantos, saudades, monumentos, prantos, musicalidade e belos momentos! E
daqui por diante, quando perguntarem no vestibular qual o maior rio do mundo,
respondam simplesmente: o rio Sebastião Tapajós!!!
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