Quarta-feira, 16 de novembro de 2022 - 11h35
Enxergar com as mãos não é pra mudo que lê
libras, muito menos pra cego que usa as mãos superficialmente e ouve; um tapa
na cara vai além dos sentidos da percepção visual, auditiva e táctil, um
descritivo jab no queixo da imaginação leva a nocaute as ferramentas bem
comportadas das artes literárias e esparrama o roxo na tela do pseudo artista
plástico.
Enxergar com as mãos é atacar ferozmente as
teclas de uma tradicional máquina de escrever Remington, com ímpetos raivosos,
à moda Rubão Fonseca, com todos os palavrões que só as mãos sabem enxergar. O
toque vai fundo, impregnado de sentimentos perfeccionistas, além do olhar, como
se as mãos artísticas estivessem conectadas com as mãos do criador, no palco da
vida cênica, na hora da concepção da merda humana, oriunda do pó, do barro, do
pincel, da pena, do teclado e do sopro vivificante. Merda pra você! Merda pra
todos nós!
Minhas mãos são a extensão do coração, mas não
apenas dele, de todo o corpo, elas cheiram com as axilas, se lambuzam com os
excrementos, sentem com a virilha, guiam o falo pra jorrar e procriar, elas são
o andar de cima, o dedo em riste, o V da vergonha, o polegar romano que dita
normas de viver, na arena da subsistência, pão, circo e dor. As mãos tapam o
rosto envergonhado de um tempo que não passa, cheio de palavras
incompreensíveis, numa atmosfera empolada, que produz incertezas, numa mistura
caótica de emoções intoleráveis.
Vejo com as mãos, como se estivesse olhando,
com os pés alados, um universo dividido, cheio de fronteiras sentimentais.
Quero voltar!!! Ver/sentindo a saudade com as pontas dos dedos, pós abraços!
Minhas mãos sociais não querem direita nem esquerda, querem nova revolução para
produzir nova ordem, pois sabem que toda morte é, simultaneamente, uma
metamorfose. O caos é o resumo das coisas que não conhecemos, nem entendemos,
às vezes proveniente do que se digita no teclado da imaginação, como que
traduzindo a dor de um gancho de direita vindo do saber, capaz de arrancar o
cérebro bem comportado e o entregar aos pés vagantes das vanguardas ululantes,
sem o dinheiro da passagem de ida, muito menos de volta.
O pé se trumbica com o tornozelo, frente e
verso de uma mesma comunicação curupírica, não sei se vou, se fico ou se volto,
melhor não ir, vou… O outro tem vontade própria, gosta de voar com as asas do
pintor. Os pés não se decidem, são opostos, um vê o poente o outro a aurora, andar
pra quê, não se chega a lugar nenhum, chegar chega, porém não chega à chegança,
melhor a inércia do andar, assim sei que eles verão a circunferência visual e
acompanharão a galáxia sem precisar se mover. Nem tudo deveria girar em torno
de pés pedantes.
Sou o que sinto, com os membros em posição de
ataque marcial, um olho em cada poro, suando lágrimas sentidas, nem sei se são
tristes ou alegres, sei que sentem além, além do além da caixa craniana. Vou
revoltado, brabo com as conclusões bíblicas numulárias, minhas mãos videntes se
desgovernam e aplicam socos ininterruptos nas palavras, ditas sagradas,
enxergando, consequentemente, os olhos roxos de Mateus, na argumentação
falaciosa: “Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas,
a quem não tem, até o que tem lhe será tirado.”
O sagrado, com a carapaça
intransponível de um rinoceronte, me aguarda no futuro, ainda assim me convenço
da necessidade de uma voadora mortal: os membros, superiores e inferiores, se
unem na jornada do olhar ao entendimento, iniciando o voo ao vazio, sei que
chego, lá é a linha divisória, esperando ser ultrapassada, lá é o começo do
místico ou o fim do mítico, lá é o meu lugar, onde vejo tudo a partir de um
aceno crítico, com dez olhos incisivos e sensíveis, em vibração corporal
sonora, lá com sol, sem dó!
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