Quarta-feira, 11 de dezembro de 2019 - 13h15
Não
é de hoje que o mundo da política se limita apenas na formulação de leis
(legislativo) e de ser gestor das políticas públicas (executivo). Em ambos os
casos, é necessário passar pelo filtro das urnas, do convencimento dos
eleitores dos gastos de campanha. No formato institucional da democracia
brasileira, dos três poderes da República (Executivo, Legislativo e
Judiciário), apenas o Judiciário não tem
nomes submetidos ao voto popular - em alguns casos, no máximo, se recorrem às
eleições internas, ou às prerrogativas de tempo de cargo. Nos casos do
Executivo e Legislativo, a ocupação dos cargos obedece outra lógica, que
tratarei neste artigo.
A
busca pelo mandato legislativo ou executivo é um calvário a ser percorrido
pelos(as) candidatos(as). O que surge para os eleitores na época das eleições é
apenas pedaço deste processo.
O
primeiro trecho do calvário é composto pela filiação partidária e pelo acesso a
legenda. Sim, não basta apenas ser filiado(a) para obter legenda e ser
candidato(a). Como os partidos têm limite de vagas – e existem mais candidatos
que vagas disponíveis - há a necessidade de selecionar quem será candidato(a). E isto não é simples. Existem muitos
interesses em jogo. Desde candidatos com poder na estrutura partidária,
passando pela nominata que interessa ao partido, até candidatos com bom
histórico de votos. Estes elementos, juntos, ou isolados são considerados pela
direção do partido – dai saem aqueles legitimados para disputar o seu voto.
A
busca pela legenda (que se concretiza após a Convenção Partidária), ocorre concomitantemente
à fase de pré-campanha. Isto é, o(a) candidato(a) tem que se desdobrar entre
divulgar sua plataforma de mandato e viabilizar legenda para ser candidato(a).
A pré-campanha é uma oportunidade dos candidatos – serve mais para aqueles
desconhecidos que nunca disputaram eleição – apresentarem suas propostas de
mandatos de maneira ampla, desde que não peça voto, uma vez que ele(a) não é,
ainda, candidato.
Após
ser convencionado(a), isto é, passar na Convenção do Partido, o(a) candidato(a)
tem o desafio de organizar sua candidatura, incluindo a produçao de materiais,
a mobilização de pessoas para ajudá-lo(a) e a realização de reuniões - e demais
atos de campanha.
No
caso dos candidatos mais conhecidos, com mais votos, ou aqueles que tiveram
mandatos ou que já ocuparam cargos no executivo, outros fenômenos precisam ser
administrados. Explico.
Há
um jargão muito conhecido no meio político que diz: “a política é para profissionais”.
No Brasil isto é muito verdadeiro. O ambiente político se divide, ao meu
ver, em dois espaços, que só são observados apenas por quem se aprofunda no
tema – os tais profissionais. O primeiro espaço é aquele ocupado pelos
interessados em ter mandatos eletivos, por achar que pode ajudar as pessoas,
melhorar as condições do bairro em que mora, melhorar a sua cidade, ou mesmo se
contrapor à pessoas ou grupos, ou defender uma causa específica. Existem também
aqueles que acham que ter um mandato pode melhorar a sua própria vida e a de
sua família. Por isso, concorrem ou querem concorrer em qualquer eleição, mesmo se frustando com os resutados das
urnas, que servem apenas para ajudar na eleição daqueles que ocupam do outro
espaço da política, que tratarei a seguir.
Pelo
grande número de candidatos com este perfil, não há entre eles nenhuma
preocupação em desconstruir uns aos outros, como é comum no outro segmento. Os
que ocupam este outro nicho do ambiente político são os que classifico de
profissionais da política, ou os que mais se aprofundam no tema. Quando se
candidatam são, também, os candidatos mais competitivos, com mais chances de
eleição. É neste espaço que ocorrem
manobras não aparentes para a sociedade e para o eleitor comum – e que não
fazem parte das eleições e da disputa eleitoral, propriamente dita.
Como
veremos, o espaço mais competitivo do ambiente político é recheado de
desconstrução de concorrentes, de moovimentos ante-política e do uso de
relações com agentes fora do ambiente politico-eleitoral, mas com capacidade de
interferir no jogo político de modo profundo. Afinal, existem apenas 21 vagas
na Câmara Municipal e o número dos políticos que compõem este segmento é bem
maior e, em tese, todos têm chances de eleição. Portanto, avaliam, é arriscado
deixar apenas nas mãos de eleitores a escolha de quem se elege. Dai a
utilização de meios fora do ambiente político para impedir candidaturas que
oferecem alguns riscos.
Como
disse no início deste artigo, o calvário para ser candidato(a) não acaba na
Convenção. Convencionado(a), o(a) candidato(a) deve buscar a sua regularização
junto à justiça eleitoral, o que não é tarefa simples. Nesta fase devem ser
apresentados os documentos e certidões de todo o tipo, incluindo prestações de
contas aprovadas, caso tenha sido candidato ou teve algum cargo público em que
foi ordenador de despesas. O registro da candidatura só ocorre atendido todos
os requisitos da Justiça Ekeitoral. É aqui o espaço para os concorrentes
atuarem na desconstrução e no impedimento da candidatura.
Para
quem foi candidato, além das questões de natureza civil (situação de
regularidade fiscal e/ou tributária) a
situação em relação à prestação de contas da campanha anterior é o que mais
pesa. Para quem foi gestor público, também a lisura na administração dos
recursos é elemento central para que tenha a sua candidatura homologada pela
justiça eleitoral.
No
entanto, não basta ter as prestações de contas aprovadas junto aos órgãos de
controle, pois ela pode ser, a qualquer tempo, revista e ter a sua posição
mudada de “regular” para “em avaliação”, desde que alguém peça. Isto pde ser
feito por alguém sem interesse político, o que é raro, ou por quem tenha
interesse em inviabilizar a candidatura de quem quer que seja. Neste momento,
as relações com agentes publicos de órgãos de controle são utilizadas para
pínçar filigranas processuais, em que a forma ganha viés de conteúdo,
resultando em penalizações de pessoas inocentes e bem intencionadas.
Como
se viu, existem métodos para viabilizar uma candidatura, e metódos mais
elaborados para impedir que um candidato
surja. Tudo isto aumenta a complexidade e o custo de uma eleição, pois ela não
envolve somente a busca por votos, como parece à primeira vista. O calvário da
busca do voto é apenas parte de um processo de uma candidatura vencedora.
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