Sexta-feira, 27 de dezembro de 2019 - 09h57
Sob frondosa tília, em
flor, leio o “ Bom Jesus do Monte”, de Camilo.
É manhã. Uma luz morna,
doirada, transparente, cai sobre o relvado verde do jardim, que permanece em
doce silêncio.
Das árvores frondosas, saem
festivos gorjeios. De longe, chega-me o arrulhar manso, de pombas mansas e
enamoradas.
Diante de mim, estende-se o
manto verde-escuro do relvado, desprendendo agradável odor a erva recentemente
cortada.
Bando alegre de ruidosas
crianças traquinas, rompe do arvoredo. Todas vestem vaporoso babeiro
cor-de-rosa e bonezinho alaranjado.
Como alegres pardalitos,
saltam, correm, brincam, soltando agudos gritinhos de contentamento, sob
vigilância de zelosa educadora.
Não
gosto do termo: educadora.
Para
educar, é mister ser educado. Ter boa formação cultural e moral, que,
geralmente não acontece, porque na escola, em regra, ensina-se, não se educa…
Há
várias educações, consoante o meio que se vive, e a religião que se professa.
Educar,
como il fault, é incutir bons hábitos. É educar a alma, como dizia
Barrés
Como
ia escrevendo, estava compenetrado na leitura, quando jovem casal de namorados,
de lábios grudados, caminhavam como caranguejos.
Achei
graça. Confesso que receei que a moça viesse a estatelar-se, já que usava
curtíssima e apertada saia.
Notei
que se encaminhavam para carreirinho, cortado na relva, em diagonal, pisado por
apressados e preguiçosos, que só seguem o empedrado, se o guarda estiver
presente.
Carreirinhos,
existem em quase todos jardins, criados por quem não respeita o trabalho dos
outros.
São
nadas, que servem para avaliar a educação de um povo.
Povo,
que destrói plantas; corta flores; não respeita regras de trânsito; maltrata
animais; escarra no chão; lança, para a rua, papeis; fura filas; que insulta;
fala alto; é povo imaturo.
Não
basta instrução, é mister ser educado; e educação, em norma, recebe-se em casa,
com os pais e avós.
Basta
ouvir os nossos políticos, ver os gestos, o modo de falar, o vocabulário, para
verificar, que podem ter instrução superior, mas em educação, muitos,
encontram-se a nível de antigos saleiros.
Fala-se
de crise económica e no recrudescer da violência, mas a verdadeira crise, que
crassa pelo mundo, ainda é a da educação.
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Formei-me em 1958 em Direito na FDUSP e desde o início da década de 60,quando cinco dos atuais Ministros ainda não tinham nascido, atuo perante a Su