Terça-feira, 21 de janeiro de 2020 - 06h02
É claro que Minas são várias, muitas, infindas. A cada dia, uma diferente cai em cima de mim e estilhaça meu coração curupira. Ontem, colhi uma diferente nos cafezais do sul... Imponente, portentosa, bem às margens da represa que ilha meu coração banhado pelas belezas de Furnas. Em Furnas quando o sol se põe, acende em nós um orgulho mergulhado pelas coisas daqui.
E vou nesse bandeirantismo solitário e moderno desvendando e revisitando o meu Estado bordado em tantos sonhos herdados. Ê Minas... é hora de ficar por aqui, viajar por aqui, me embrenhar em tudo que vi, li, ouvi e vivi...
Nos Gerais, depois de muitos portais, o Peruaçu me diz que tudo começou há muito... muito tempo..., bem antes do São Francisco ser o Rio que interligou o Brasil que não existe mais. Lá, a Minas barranqueira, às margens da praia de areia, se espraia pelas bandas do norte; o Sertão Grande em que Guimarães Rosa encontrou sua sorte e irmanou o imponderável com o improvável. Diadorim, Minas são várias; e nos Gerais tudo se faz mais, desde a igrejinha de Matias Cardoso, quando as outras Minas nem havia.
No Rio Doce, os Aimorés guardaram naquele solo seus inúmeros cabedais, até que a Minas dos minerais, transformou o que era doce em ferro e lama, nessa pobre vida mundana. E a Ibituruna testemunhou tudo, tendo a copa da Figueira estendida sobre a sombra do tempo. No Jequitinhonha, o rio banhou o Vale e fez do barro o nascimento de uma outra arte, uma nova era, cheia de flores, cores e outras primaveras. Entre espinhos, pedras e caminhos, a vida no Vale serpentei, fundindo com pô e areia, o tesouro que não se perde mais.
No Sertão da Farinha Podre, entre vinhos finos e pobres odres, a vida se fez rica. E em um Araxá que dona Beija veio beijar, encontrou o sonho estelar no diamante raro, garimpado na bagagem da sorte e do desterro, que depois se transmutou em gado a riqueza nova de um povo inteiro.
Seguindo o caminho na parte final da Estrada Real, a Zona da Mata deu vida em cascata, o cinema, a música moderna e o inédito poema, entre tantos outros temas. No centro-oeste, picada para Goiás, tudo foi tão rápido que o Tamuaduá nem viu o Sete Orelhas passar. Um pouco mais adentro, a Minas dos setecentos, com a civilização do Ouro edificando templos, sonhos, histórias, revoluções e pensamentos. Tudo em um século de glórias e histórias. Completamento.
Minas é parte daquela montanha. E aquela montanha é minério de ferro, e o minério é da mineradora, que irá roê-la e repartir seu corpo em vagões que levam para longe os cacos de nossos corações. Minas é o vale abissal, o vale de segredos submersos, o que não se revela. Minas não é o alto das ideias, mas o profundo do pensamento, da alma, do sentimento remoído, amassado, em segredos silenciado e guardado.
Minas, palavra montanhosa, maravilhosa, dada em neblinas e coroada em frimas... Minas, mina. Pisaram em botas a sua verdade, mas não conseguiram sepultar o nascedouro da palavra liberdade.
Petrônio Souza é jornalista e escritor
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