Terça-feira, 31 de dezembro de 2024 - 10h34
“Não há governo se a lei não é
obedecida, mas não há liberdade se essa obediência combate sempre a nossa
vontade e, ainda menos, se revolta a razão. Cumpre, pois, que as instituições
sejam tais, que a razão as possa seguir, ou pelo menos tolerar, e que o
interesse particular possa sofrê-las.”
José Bonifácio de Andrada e Silva – Patriarca da Independência do Brasil, 1824
Estima-se o ano de 30 d.C., na
celebração da Páscoa, quando da peregrinação anual dos judeus em memória da
libertação do Egito, que Jesus de Nazaré chegou à Jerusalém, acompanhado de um
grupo que fazia algum tempo testemunhava suas pregações e feitos a extraordinários.
O Evangelho de Mateus descreve Jesus recepcionado por uma entusiasmada
multidão, manifestação provavelmente organizada com antecedência por aqueles
discípulos, que buscaram encenar a aparição na cidade do Messias profetizado
por Zacarias.
Naqueles tempos, os doutrinadores
da fé e os contestadores dos poderes seculares eram ameaças reais, tanto para
os sacerdotes judeus como às tropas romanas de ocupação. Acusado de alta
traição e instigação à revolta, Jesus foi feito prisioneiro e levado à presença
de Pôncio Pilatos, prefeito de Jerusalém, a quem cabia julgá-lo.
Pilatos hesitou na hora de
anunciar seu veredicto de condenação, inquirindo então a multidão, que com
grande algazarra clamou pela crucificação de Jesus. Pilatos cedeu às pressões
dos sacerdotes judeus e do povo exaltado: seja crucificado! Segundo
Mateus, Pilatos em seguida mandou trazer água e lavou as mãos diante da
multidão, dizendo: “Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.”.
Na consciência coletiva, “Lavo as minhas mãos” – sentença que
literalmente não foi dita - ficou consagrada como o subterfúgio para alguém não
se responsabilizar e nem ter nada a ver com alguma coisa.
Faz dois milênios que Pilatos escolheu
“lavar as mãos”, em vez de julgar. As circunstâncias de sua
decisão criminosa nos alertam sobre as consequências de fugir da
responsabilidade de cumprir-se a lei, e da falsidade dos juízos ditos “democráticos”,
simplesmente porque fruto da vontade da maioria, ou da aplicação fria da lei.
A metáfora é válida para o Presidente
da República, o Congresso, o Superior Tribunal Militar, as Forças Armadas, A
OAB, os operadores do Direito, a CNBB, a sociedade brasileira dos homens de bem:
todos escolheram “lavar as mãos” para os últimos absurdos jurídicos acontecidos
no País. Inquéritos sem transparência ou fim; condenações sem crimes prescritos;
indiciamentos por cogitação de delito; prisões baseadas em presunções; penas
desproporcionais aos crimes cometidos; distinção de tratamento de agentes por
viés ideológico; censura com base em invasão de privacidade; e sanções
judiciais fruto de conjecturas são algumas das barbaridades jurídicas cometidas
por decisões monocráticas no STF, com a cumplicidade
surda e muda não só dos demais integrantes da Corte, mas também da imprensa, da
Academia e de toda a classe intelectual. Aparentemente, a ojeriza ao
ex-Presidente Bolsonaro e aos “infames bolsonaristas” justificam as injustiças,
perversidades e irresponsabilidades na “defesa da democracia”. Entretanto,
esses vingadores de ocasião não perceberam – ou não querem perceber – os danos atuais
e futuros (alguns irreversíveis) que a nossa democracia está sofrendo com a
aceitação covarde, e mesmo conivente, de tais atos.
Convém lembrar que não se está
discutindo sobre réus ou culpas. Questiona-se na verdade a omissão da sociedade
e a falta de entendimento da responsabilidade dos agentes públicos – assim como
a indesculpável tendenciosidade da imprensa - diante do autoritarismo, das
injustiças e da prestidigitação jurídica disfarçada de justiça, hoje no Brasil.
A insegurança jurídica do País (nunca antes vivenciada) não é de
responsabilidade de Bolsonaro, dos “militares golpistas” e nem dos ambulantes
presos por depredarem o STF, mas sim de quem “escolheu” liberar e
devolver os bens de traficantes de alta periculosidade, por “falta de provas”; inocentar
condenados em três instâncias, por “erro” processual”; anular a vontade de milhares
de eleitores, cassando deputados, por suposição de “crime” eleitoral; libertar
criminosos confessos, condenados a mais de cem anos de prisão, com base em “chicanas”
judiciais; determinar aos assessores usar da “criatividade” para incriminar
adversários políticos.
O último ato desse descalabro
jurídico foi a prisão de Oficiais do Exército, da ativa e da reserva –
inclusive dois Generais – acusados de “tentativa de golpe de Estado” com base
em uma investigação – que já dura dois anos - e até o presente não conseguiu
comprovar nada além da cogitação dos crimes atribuídos aos supostos golpistas.
Inacreditavelmente, prevalece a fábula de um golpe, que teria sido desencadeado
em um fim de semana, sem liderança, tropa ou armamentos capazes de garantir a
violência organizada mínima necessária à “tomada do poder”. Os magistrados escolheram
tipificar de terrorismo as bíblias, bandeiras e pedaços de pau arremessados contra
instalações vazias de um governo criminosamente omisso diante da depredação do
patrimônio público. Despreza-se o fundamento do Direito universal de que ninguém
é passível de pena por cogitar (prescrito a no Código de Direito Romano).
Despreza-se o devido processo legal. Despreza-se o Estatuto dos Militares, (Lei
6.880/Dez 1980), que no seu Artigo 74 prevê a prisão de um Oficial do Exército
Brasileiro apenas quando em flagrante delito. Despreza-se a lógica, a
inteligência, os direitos do cidadão, o bom senso. Desprezam-se até os fatos!
Prevalece a indisfarçável perseguição política, calcada na presunção de crimes
inexistentes, reforçada por prisões arbitrárias, verdadeiras torturas psicológicas
com vistas a “delações premiadas”, a fim de se enquadrar como “atentado
violento ao estado democrático de direito”, desde recortes de conversas de
WhatsApp até pichação de batom em estátuas.
O Direito sustenta a
democracia, mas não há liberdade se a obediência revolta a razão. Decisões
judiciais não são escolhas, necessitam de critérios, e não há governo – ou
justiça – se a lei não é obedecida.
Temos nos resignado às
injustiças e abusos reiterados, não por dúvida, concórdia ou súbita impaciência,
mas sim – ao contrário – por uma inexplicável paciência em tolerar as falácias e
a arrogância da nossa atual “juristocracia”. Entretanto, condescendentes com o
indefensável, o injusto e o absurdo, caímos na indiferença. Estamos lavando as
mãos para morte da nossa democracia.
Gen Marco Aurélio Vieira
Foi Comandante da Brigada de Operações Especiais e da Brigada de Infantaria Paraquedista
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.
Em recente pronunciamento, na véspera da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em 10/12/2024, onde se decidiria pela conclusão,
Qual IPTV para tv Samsung é ideal pra você
As TVs Samsung modernas oferecem uma experiência única com IPTV. O sistema Tizen permite instalar aplicativos IPTV diretamente na TV. Não é necessár
5 Dicas de poker para melhorar o nível no jogo
Seja em mesas físicas ou em plataformas digitais, o poker exige muito mais do que apenas sorte: é preciso habilidade, análise e prática constante para
Comunicação como ferramenta de integração
Todos os funcionários públicos ou privados querem conviver num ambiente saudável, dotado de uma psicosfera positiva, incentivadora e com relações ha