Quarta-feira, 4 de dezembro de 2024 - 11h07
“Quaisquer
que sejam os objetivos visados por sua política exterior, seria, para o Estado,
supremamente desastroso não manter no Exército o pensamento de uma grande
missão...”
Gen
Charles De Gaulle - 1934
O interesse nacional pode ser definido
como aquilo que é bom para a nação, no âmbito interno e no contexto das
relações internacionais. Entretanto, uma definição mais completa não pode
dispensar o juízo político dos riscos e oportunidades que se apresentam à preservação
do bem-estar e dos valores do país, em cenários estratégicos de longo prazo. São os objetivos nacionais permanentes
(independência, integridade territorial, autodeterminação, resolução pacífica
de conflitos...), que dão origem ao interesse nacional. E são as
dinâmicas da política, economia e geoestratégia mundial que determinam os
objetivos nacionais “de ocasião” (combate ao narcotráfico, protagonismo nos
organismos internacionais, transição energética...), fundamentos do Estado para
a formulação da defesa nacional, e no cálculo do poder necessário para apoiar
tanto.
Em
essência, o interesse nacional deveria ficar limitado ao Estado que o formula,
mas a globalização tornou difícil estabelecer objetivos nacionais para uma
estratégia funcional voltada apenas para o bem estar da nação. E uma
percepção enviesada das ameaças atuais existentes no mundo, bem como a
incapacidade de administrar os efeitos negativos resultantes das políticas
paroquiais, têm instrumentalizado o interesse nacional das nações em tentações
expansionistas, ideológicas ou geoeconômicas. Não sem razão russos, ucranianos,
libaneses e israelenses hoje estão obrigados a combaterem “pela paz”, enquanto
o Brasil vem apresentando seguidos atestados de indigência diplomática diante
do quadro geopolítico atual.
Com o fim
da Guerra Fria, os conflitos armados passaram a exigir mais cultura e perícia profissional
militar, e principalmente maior capacidade de emprego da tecnologia militar,
por parte dos exércitos. A evolução do armamento e a dinâmica geopolítica do Século
XXI rompeu o monopólio do conhecimento bélico da instituição militar, hábito
que sempre justificou a tímida participação de líderes civis na condução da
guerra. Hoje, os níveis de responsabilidade do político e do militar não se
distinguem com tanta nitidez e, se
houver áreas de sombra no domínio defesa nacional, é bem possível uma decisão
que se avalize um genocídio como decisão de Estado, por exemplo. No caso
brasileiro, a ignorância estratégica, a prepotência ideológica e a indefinição
quanto ao verdadeiro interesse nacional do atual Governo têm sido devastadoras
para os planejamentos e a credibilidade dos nossos militares e diplomatas.
Vivemos
hoje no ambiente de uma guerra híbrida mundial, mas a mesquinha “politicagem”
partidária nativa, assim como nossa canhestra política exterior, têm desprezado
ostensivamente suas consequências para a Defesa Nacional. Aparentemente, as
ameaças à segurança humana do mundo de hoje, que têm obrigado às nações a se
armarem, não estão sequer nas cogitações do Comandante Supremo da Forças
Armadas do Brasil, o Presidente Lula. Conflitos
armados motivados apenas por interesses nacionais de nações beligerantes, internacionalização
das organizações criminosas, terrorismo de estado, ataques cibernéticos, biopirataria,
narcotráfico - pautas que inclusive já afetam a nossa economia - têm sido
tratadas por Lula como se o País não tivesse necessidade de soldados.
Lula começou
seu mandato afirmando que “perdeu a confiança nos militares”. Para ele,
as Forças Armadas do Brasil são uma ameaça à democracia, e não sua única
possibilidade de defesa. Desde então, ele assistiu mudo uma orquestração
sistemática da ruína da imagem dos militares, possível de ser constatada diariamente
na mídia, em matérias visando desqualificar as Forças Armadas e seus
integrantes. A sórdida campanha revanchista, reforçada pelas redes sociais, inclusive
com os órgãos de controle do Governo exigindo a retirada de “privilégios” da
classe militar, só tem como resultado o descrédito da necessidade da existência
de Forças Armadas junto à população, além da desmotivação dos soldados
brasileiros para cumprirem sua missão constitucional. Isto em um país que
cortou 48% dos orçamentos militares nos últimos 10 anos, tem 694 parlamentares
gastando 30 milhões por dia, e um STF com 11 ministros custando 1 bilhão por
ano.
Lula fingiu
não ver oficiais do Exército sendo presos ao arrepio da lei, “obrigou” os chefes
militares comparecerem em atos políticos, nada disse sobre a ameaça de invasão
do nosso território pelo ditador de plantão na Venezuela, e quase conseguiu
fazer o MST desfilar ombro a ombro com as tropas militares no dia 7 de
setembro. Dias atrás, diante do desastre ambiental dos incêndios no País, Lula reafirmou
seu entendimento “estratégico-progressista” de Forças Armadas: “os recrutas
deveriam ser treinados para combater incêndios e enfrentar desastres climáticos
[...] porque a gente não precisa preparar ninguém para a guerra.” Agora, após impedir – por motivos pessoais – a
compra de blindados de Israel pelo Exército, anunciou que vai comprar vários
aviões para ele e seus ministro viajarem pelo País. O dono do cão de guarda
está espalhando no bairro que o seu animal é dócil, não morde. O próprio
Ministro da Defesa já lamentou o descaso do Presidente com as Forças Armadas: “questões ideológicas têm deixado nossa defesa
órfã”.
De fato, o pseudo-pragmatismo
do alinhamento deste Governo com Rússia, China, Cuba, Venezuela, não é da tradição
da nossa diplomacia; o desprezo do Estado Nação, expresso no apoio às
organizações terroristas, que persistem em uma guerra de extermínio contra a
civilização ocidental, não é interesse nacional; trata-se da “agenda
progressista” de aceitação da volta à barbárie, com meios violentos
justificando fins políticos injustificáveis. Ao propor fazer a guerra contra a
guerra, alardeando seu “pacifismo tabajara”, capaz de sugestionar apenas ingênuos
ou românticos, Lula somente cria mais um pretexto para buscar o poder pelo
poder. Nunca haverá um mundo sem guerras, assim como nunca haverá um mundo sem
pobreza ou morte, e não é do interesse nacional que um presidente se arvore de “conciliador
internacional intrometido”, gastando 165 milhões de viagens infrutíferas,
em apenas um ano de governo.
A megalomania
diplomática de Lula tem inviabilizado muitos negócios de interesse do País,
assim como patrocinado nossa atual penúria militar. Cabe aos chefes militares e
ao Ministro da Defesa, alertarem o Governo e a sociedade quanto às ameaças à
Segurança Nacional, e ao descaso político com o interesse nacional. Podem usar
argumentos geopolíticos, financeiros ou simplesmente patriotismo. E patriotismo
não é sinônimo de fascismo, xenofobia ou nacionalismo doentio: é obrigação
constitucional.
Gen Marco
Aurélio Vieira
Foi
Comandante da Brigada de Operações Especiais e da Brigada de Infantaria
Paraquedista.
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