Domingo, 17 de novembro de 2019 - 15h52
Ao
contrário do que se possa pensar, não tenho muitos amigos. Também não são
muitos os conhecidos.
Como
a maioria dos idosos, vivo em silêncio e solidão; e em solidão e silêncio,
decorrem as minhas horas.
Verdade
é, que todos os dias, vou tomar o cafezinho, acompanhado de minha mulher, na
cafetaria da nossa avenida; e passeio, quase diariamente, pela baixa,
observando tudo: casas, montras, viaturas, pessoas…
Possuo,
todavia, nas minhas estantes punhado de bons amigos mudos, prontos a revelar-me
novos horizontes.
Passo
horas esquecidas a lê-los, a dialogar, a refletir, a anotar os pareceres, que
me transmitem.
São
ilustres amigos, escolhidos na floresta dos livros: famosos cientistas,
sociólogos, historiadores, evangelistas, filósofos, psicólogos, escritores e
poetas, que abrem-me janelas ao pensamento, que só por si, não podia alcançar.
São
companheiros fiéis, de infinita paciência. Ensinam-me, como professores,
alimentando-me espiritualmente; tão bondosos são, que admitem discórdia, sem
enfado, por duvidar da sapiência.
Em
companhia de tão ilustres, dia e noite, vou-me enriquecendo, em conhecimento,
fornecendo elementos, para exprimir-me melhor e com mais clareza.
Por
vezes, sentado comodamente, na banca de trabalho, delicio-me com a prosa
saborosa e vernácula, de clássicos; ou embebido nos fabulosos enredos de
novelas, vivo outras vidas e outros mundos.
Outras
ocasiões, fico em silêncio, refletindo e divagando num proveitoso monologar.
Chegando a pensar, se sou eu ou eles, que falam por mim.
Não
há, para mim, nada que se compare ao prazer da leitura. O livro, dá-nos o que o
cinema e TV, não nos dão.
O
romancista, sugere, permitindo ao leitor, fantasiar: cenário, a luz, a beleza
da paisagem, a cor…
No
cinema, a participação do espectador, é passiva. O prato é servido pronto. Não
há imaginação!
Criar,
fantasiar, adivinhar a fisionomia das personagens, as reações, os sentimentos,
dos que se encontram encerrados no livro, concede-nos liberdade e encanto.
Como
disse, não tenho muitos amigos, mas, nas minhas estantes, encontro uma
imensidade de intelectuais, que me permitem horas de prazer, revelando-me
conhecimentos e experiências de vida.
A todos estou grato; a
todos sou devedor
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Formei-me em 1958 em Direito na FDUSP e desde o início da década de 60,quando cinco dos atuais Ministros ainda não tinham nascido, atuo perante a Su